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Maior hospital de Gaza enterra 179 mortos, 7 deles bebês, em vala comum; médico conta como amputa sem anestesia

O Al-Shifa, o maior hospital da Faixa de Gaza, atualmente no centro dos combates entre Israel e o Hamas, teve que enterrar dezenas de mortos em uma vala comum, anunciou seu diretor na terça-feira (14), enquanto milhares de civis permanecem presos no local em condições desastrosas, sem água ou eletricidade.

Bebês prematuros, retirados de suas incubadoras por falta de eletricidade, no hospital Al-Shifa, na Cidade de Gaza, em 12 de novembro de 2023.
Bebês prematuros, retirados de suas incubadoras por falta de eletricidade, no hospital Al-Shifa, na Cidade de Gaza, em 12 de novembro de 2023. AP - Dr. Marawan Abu Saada
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Vários milhares de palestinos, incluindo pacientes, funcionários e civis deslocados pela guerra que ocorre desde 7 de outubro, estão amontoados no Hospital Al-Shifa, um enorme complexo que Israel acredita abrigar a infraestrutura do movimento islâmico enterrada em uma rede de túneis.

"A situação é muito grave, é desumana", alertou a organização Médicos Sem Fronteiras (MSF) no X (antigo Twitter). "Há corpos espalhados pelos corredores do complexo hospitalar e as câmaras refrigeradas do necrotério não têm mais eletricidade", disse à AFP o diretor do hospital, acrescentando que pelo menos "179 corpos" foram enterrados em uma cova coletiva nesta terça-feira.

"Fomos forçados a enterrá-los em uma vala comum", disse o Dr. Mohammed Abou Salmiya, acrescentando que os corpos incluíam os de sete bebês prematuros que morreram por falta de eletricidade para mantê-los vivos ou para alimentar os frigoríficos que guardam normalmente os cadáveres. 

"Cheiro sufocante"

Um jornalista que trabalha para a agência AFP dentro do hospital disse que o cheiro dos corpos em decomposição era sufocante.

Os tanques israelenses estavam concentrados nos portões de Al-Shifa na terça-feira, enquanto os combates e ataques aéreos nos arredores continuaram durante toda a noite, acrescentou ele, embora com menos intensidade do que nas noites anteriores.

10 mil palestinos "amontoados" no hospital

De acordo com a ONU, cerca de 10 mil palestinos (pacientes, funcionários e pessoas deslocadas pelos combates) estão amontoados no hospital, e as autoridades locais acreditam que pode haver mais.

Segundo o médico Mustapha Barghouti, entrevistado pela RFI, o sistema de saúde de Gaza já entrou em colapso em decorrência de dois fatores. "O primeiro é o bombardeio israelense nas áreas hospitalares. Mas, além disso, há a punição coletiva de privar esses hospitais de todos os alimentos, medicamentos, oxigênio, eletricidade e combustível. Por causa da falta de combustível, já perdemos bebês em uma incubadora no hospital Al-Shifa. Trinta e nove outros (bebês) estão prestes a morrer", revelou, em 11 de novembro.

Ainda segundo ele, "o hospital Al-Quds também ficou sem energia e o hospital indonésio teve que operar na sexta-feira passada sem eletricidade, então tiveram que usar lâmpadas para visualizar a cirurgia. E eles ainda estão recebendo pessoas feridas. "É um verdadeiro desastre de saúde em Gaza", denunciou.

Israel ordenou a evacuação, mas 5 mil pacientes não podem andar

"Não só há pessoas feridas que não podem andar, mas também pessoas com respiradores", diz Barghouti. "E não há ambulâncias para transportá-las porque não há estradas para as ambulâncias. Bebês em incubadoras, assim que você os tira da incubadora, eles morrem. Os pacientes em unidades de tratamento intensivo e coronariano que estão em respiradores morrem imediatamente. Israel diz aos médicos que eles têm de ir embora e respondemos que não vamos deixar nossos pacientes. Isso seria um crime", afirma.

Amputações sem anestesia e limpeza étnica

Membro do Conselho de Administração da Palestinian Medical Relief Society, uma ONG que trabalha no setor de saúde na Cisjordânia e em Gaza, Mustapha Barghouti relata que "nossos médicos têm de amputar sem anestesia, é insuportável".

Para ele, Gaza está sujeita "à limpeza étnica israelense desde 1948". "São 75 anos de limpeza étnica. As Nações Unidas aprovaram mil resoluções exigindo que Israel permita o retorno dos refugiados, acabe com a ocupação, pare de construir assentamentos, etc. Nada disso foi implementado", acusa. 

Israel anuncia que "Hamas perdeu controle de Gaza"

Nesta terça-feira (14), o exército israelense anunciou que havia tomado posse das instituições do Hamas na Cidade de Gaza, incluindo o parlamento e os prédios do governo e da polícia. O exército judeu também afirmou ter descoberto "uma entrada de túnel localizada em uma mesquita na Faixa de Gaza" e ter bombardeado com aviões de combate e helicópteros "uma célula terrorista que estava disparando mísseis antitanque contra soldados".

De acordo com o governo do Hamas, "mais de cem" pessoas foram mortas desde segunda-feira (13) em bombardeios israelenses, um dos quais matou 30 pessoas no hospital indonésio em Jabaliya, um enorme campo de refugiados no norte da Faixa de Gaza.

O Hamas "perdeu o controle em Gaza" e seus combatentes estão "fugindo para o sul" do território, disse o ministro da Defesa de Israel, Yoav Gallant, na segunda-feira. De acordo com a ONU, cerca de 1,6 milhão dos 2,4 milhões de habitantes do território foram deslocados pela guerra.

Nos últimos dias, dezenas de milhares de palestinos fugiram do norte da Faixa de Gaza, que se transformou em um campo de ruínas, em direção ao sul, depois que Israel abriu "corredores" de evacuação.

No sul do território, que também não foi poupado pelos bombardeios, centenas de milhares de pessoas deslocadas estão amontoadas perto da fronteira com o Egito, em uma situação humanitária catastrófica. A ajuda internacional está chegando lentamente do Egito, mas em quantidades que, segundo a ONU, são extremamente inadequadas.

No hospital europeu de Khan Younès, uma grande cidade no sul, um médico do Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV), o médico Tom Potokar, descreveu no X o trabalho "exaustivo" dos médicos que enfrentam a chegada incessante de feridos com queimaduras por todo o corpo, ferimentos por estilhaços e infecções.

Na Cisjordânia, um território palestino ocupado por Israel desde 1967, que está passando por um aumento da violência como resultado da guerra em Gaza, oito palestinos foram mortos em confrontos com as forças israelenses, anunciou o Ministério da Saúde palestino nesta terça-feira.

(Com RFI e AFP)

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