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"Achei que ia perder meu filho"; 52 mil grávidas sofrem com a guerra na Faixa de Gaza segundo OMS

Desde o início da guerra na Faixa de Gaza, milhares de mulheres grávidas enfrentam dificuldades de atendimento médico. É o caso de Asmaa Ahmed, de 31 anos, que deu à luz há quatro meses ao pequeno Faraj na escola onde se refugiava, na Cidade de Gaza.

O hospital Al Shifa, na cidade de Gaza, é um dos poucos ainda em funcionamento no território palestino. Em 1º de março de 2024.
O hospital Al Shifa, na cidade de Gaza, é um dos poucos ainda em funcionamento no território palestino. Em 1º de março de 2024. © Reuters - Kosay Al Nemer
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"Tinha muito, muito medo de perder o bebê" devido a "minha gravidez de risco desde o início", explica ela, acrescentando que "a situação se agravou" quando a família teve de abandonar sua casa por causa dos combates.

Sem eletricidade, o parto foi feito com "a luz do celular" e o cordão umbilical do bebê cortado "com uma tesoura qualquer", de acordo com o relato do médico, Mahmud al Af, e da enfermeira, Baraa Jaber.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) calcula que cerca de 52.000 grávidas na Faixa de Gaza estão especialmente vulneráveis desde o início do conflito entre o Hamas e Israel, há quase cinco meses.

Dos 36 hospitais da Faixa de Gaza, apenas 12 funcionam e de maneira parcial.

Samah al Helu, de 21 anos, precisou de uma "intervenção cirúrgica" durante o parto, mas teve de esperar "duas semanas" porque "não havia médicos, leitos e nem centro cirúrgico".

Assim que seu filho Mohammed nasceu, em 10 de fevereiro, o médico os "mandou de volta" à tenda de campanha onde sua família estava refugiada em Rafah, após terem fugido dos combates. A vida "no frio" é "pior do que no inferno". "Achei que ia perder meu filho", afirma.

Falta material hospitalar

Atualmente, cinco salas de parto funcionam no hospital dos Emirados Árabes, em Rafah. As equipes enfrentam falta de material, enquanto suprimentos médicos estão bloqueados na fronteira, aguardando permissão de entrada na Faixa de Gaza.

O médico Raphael Pitti diz que é difícil aferir as taxas de mortalidade, mas cita o caso de "uma diabética grávida de sete meses" que "sofreu complicações relacionadas à falta de insulina". "Seu bebê nasceu morto e ela morreu na manhã seguinte", relata.

Segundo testemunhas ouvidas pela AFP, algumas mulheres tiveram seus filhos na rua ou no chão do hospital.

Diante destas condições, a ONU distribuiu milhares de kits para partos domésticos, com lençóis descartáveis e material esterilizado para cortar os cordões umbilicais.

Nesse contexto, Malak Shabat, de 21 anos, grávida de oito meses e deslocada em Rafah, confessa ter "muito medo" do parto. "Antes da guerra, os hospitais acolhiam as grávidas, havia incubadoras para os bebês", disse.

À espera de trigêmeos, Rou'a Sindawi, de 20 anos, sofre com vertigens constantes e se preocupa com a alimentação. A jovem diz que "desde o início da guerra só comeu proteína uma vez": alguns ovos. Como ela, 95% das gestantes ou lactantes enfrentam insegurança alimentar grave em Gaza, segundo a Unicef.

"Há muitas crises catastróficas para grávidas na região", mas em Gaza "é pior do que um pesadelo" devido à "densidade da população e o fato de não haver um lugar seguro para onde ir", explicou à AFP Dominic Allen, representante do Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA) nos Territórios Palestinos.

8 de março: "nada para celebrar"

Com a proximidade do Dia Internacional das Mulheres, em 8 de março, Abir Abu Abadi, de 34 anos, que vive em um acampamento improvisado em Rafah, diz que "não há nada para celebrar" enquanto as mulheres de Gaza - das quais ao menos 9.000 morreram desde 7 de outubro, segundo a ONU Mulheres - vivem "o horror dos bombardeios".

A guerra eclodiu em 7 de outubro com o ataque do movimento radical palestino Hamas que deixou 1.160 mortos no sul de Israel, em sua maioria civis, segundo uma contagem da AFP baseada em dados oficiais israelenses.

As operações militares israelenses em resposta ao ataque do Hamas já deixaram 30.717 mortos, principalmente mulheres e crianças, segundo o último balanço divulgado nesta quarta-feira pelo Ministério da Saúde do Hamas.

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