Ditadura de Putin tortura opositores, mas presidente russo é adulado por políticos franceses
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O retorno da autocracia e do totalitarismo na Rússia, 30 anos após a queda da União Soviética, é tema de reportagem de capa da edição semanal da revista L'Obs. Em seu editorial, a publicação francesa destaca que o presidente Vladimir Putin, para ficar no poder até o fim da vida, sufoca toda voz discordante que se manifesta contra o Kremlin. A quatro meses das eleições presidenciais na França, a L'Obs critica a complacência de políticos franceses que adulam o homem forte da Rússia.
Em 12 páginas de reportagem sobre a "ditadura de Putin", a L'Obs mostra que o maior país do mundo, em área, retornou aos tempos dos gulags, os campos de trabalho forçado da antiga União Soviética, criados após a Revolução Comunista de 1917 para abrigar criminosos e “inimigos” do Estado. Segundo a L'Obs, existem atualmente na Rússia mais prisioneiros políticos do que no período final da URSS. O bloqueio gradual das liberdades começou há algum tempo, mas piorou significativamente desde 2020.
Jornalistas, intelectuais, defensores dos direitos humanos e opositores políticos são enviados a prisões e campos de trabalho forçado, "onde são submetidos às piores barbáries", relata a L'Obs. "Os presos são torturados, estuprados, humilhados e martirizados impunemente, em um sistema incentivado pela administração penitenciária, como comprovam os vídeos insuportáveis publicados recentemente por dois lançadores de alerta refugiados na França", explica o editorial.
Um deles é o russo Vladimir Ossetchkine, 40 anos, da ONG Gulagu.net, um ex-prisioneiro libertado em 2011. O outro é o bielorusso Serguei Savelev, 31 anos, liberado em fevereiro passado e refugiado em Paris, onde apresentou um pedido de asilo. Durante sua estadia na prisão de Saratov, a 700 km de Moscou, Savelev foi recrutado para ajudar a administração penitenciária na gestão de seu sistema de informática e aproveitou o acesso aos arquivos para copiar imagens e vídeos das sessões de tortura e violência sexual a que são submetidos alguns prisioneiros.
Essa realidade russa, que faz o país se reconectar com seus antigos demônios, é muitas vezes ignorada ou negada abertamente pelos líderes franceses, estima a L'Obs. "Uma complacência culpada, associada a um fascínio ingênuo pelo homem forte do Kremlin", lamenta a publicação.
Relações controvertidas entre Putin e políticos franceses
A revista aponta políticos franceses que "são financiados diretamente pelos russos, como o ex-candidato à presidência e ex-primeiro-ministro conservador François Fillon, que integra o conselho de administração de um grupo petrolífero estatal russo; aqueles como o líder da esquerda radical, Jean-Luc Mélenchon, ou políticos da direita que cobrem Putin de elogios". "Existe também a extrema direita francesa, regularmente apoiada por Moscou, seja financeiramente – Marine Le Pen recebeu empréstimos bancários russos nas últimas eleições – ou politicamente, como é o caso da mídia próxima do Kremlin, que elogiou recentemente os méritos de Eric Zemmour", o outsider de extrema direita na atual corrida presidencial, comparado a Donald Trump e Jair Bolsonaro.
"Putin é uma ameaça para o Ocidente", adverte a L'Obs.
Eleições presidenciais francesas
A semanal Le Point dedica sua reportagem de capa a Valérie Pécresse, a candidata do partido conservador Os Republicanos, que derrotou quatro adversários na semana passada e será a primeira mulher a representar a direita na eleição presidencial de 2022.
Em seu editorial, a Le Point estima que o duelo entre Pécresse e Emmanuel Macron vai elevar o nível do debate na campanha e tende a enfraquecer os concorrentes dos extremos no espectro político. "Recordemos que na eleição passada, Marine Le Pen, de extrema direita, e Jean-Luc Mélenchon, de extrema esquerda, queriam tirar a França da zona do euro", destaca o editorial.
As propostas que serão apresentadas por Macron e Pécresse devem resultar em algo similar ao que acaba de acontecer na Alemanha, com os social-democratas, verdes e liberais defendendo um conjunto de ideias pragmáticas que resultou em uma aliança de governo, avalia a publicação de linha editorial conservadora.
Valérie Pécresse também está na capa de Paris Match, que pela primeira vez mostra a família da candidata e como vivem discretamente seus três filhos e o marido, Jerôme Pécresse.
Já a revista L'Express promoveu um debate entre Jean-Luc Mélenchon, que irá disputar a eleição com seu partido A França Insubmissa, e o filósofo Raphael Enthoven, próximo de um outro movimento de esquerda, a Primavera Republicana. Estremecidos há alguns meses, os dois homens dão suas visões sobre laicidade, crioulização da sociedade francesa, identidades e direitos, numa troca filosófica, histórica e até poética, mais do que política, escreve a L'Express em seu editorial, visivelmente satisfeita com o elevado nível da troca de ideias.
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