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A Semana na Imprensa

Revista francesa aborda a "Guerra Santa" na política brasileira

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A Revista Le Point dessa semana investiga a batalha religiosa por votos na eleição presidencial brasileira. Com o título “Guerra Santa no Rio”, a reportagem visitou locais de culto e entrevistou muitos eleitores, às vésperas de um segundo turno bastante polarizado.

Guerra Santa: disputa evangélica durante a campanha presidencial no Brasil.
Guerra Santa: disputa evangélica durante a campanha presidencial no Brasil. © AP Photo/Bruna Prado/Rodrigo Abd
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O enviado especial Olivier Ubertalli conta o que viu num templo evangélico da Igreja Universal do Reino de Deus, na favela da Rocinha. “Ao microfone, o pastor exorta o espírito de Satã a deixar o corpo de um fiel, enquanto lê passagens do livro do Apocalipse ao som de uma música de filme de terror”, descreve. Em seguida, o discurso se volta para a política: “vocês vão votar para Lula, um candidato que quer liberar o tráfico de drogas e fechar as igrejas? Ou serão razoáveis e votarão para o presidente Bolsonaro que protege nossos valores e nossas famílias?” pergunta o religioso.

Os evangélicos representam ao menos 30% dos 215 milhões de brasileiros. São 65 milhões de fiéis, segundo as últimas estimativas, frente a 42 milhões, em 2010. Um aumento que explicaria, segundo o texto, a votação de Jair Bolsonaro acima do que previam as pesquisas eleitorais no primeiro turno, quando o candidato do PL conquistou 43,2% dos votos, contra 48,4% para Luiz Inácio Lula da Silva, do PT. “Muitos eleitores decidiram no último momento, após ouvirem sermões como esse”, diz Rafael Gonçalves, professor de ciências sociais da PUC do Rio de Janeiro, ouvido pela reportagem da Le Point.

 “Os evangélicos colocam os valores familiares e a luta contra a corrupção em primeiro lugar, o que pode fazer a diferença no segundo turno”, acrescenta Frédéric Louault, do centro de Estudos da Vida Política da Universidade de Bruxelas, questionado sobre as perspectivas para 30 de outubro.

A reportagem da Le Point também esteve em um ato de campanha de Bolsonaro na Baixada Fluminense, “onde a maioria usava a camisa amarela da seleção brasileira”, destaca a revista. O encontro político “começa com uma bênção evangélica”, seguida do Hino Nacional e do coro da multidão: “Lula ladrão, teu lugar é na prisão”. Após a fala do presidente Jair Bolsonaro, que promete diminuir a maioridade penal para 16 anos, “todos rezam o Pai Nosso”, descreve o texto. 

O enviado especial da Le Point também acompanhou uma visita de Lula ao Complexo do Alemão, na zona norte do Rio de Janeiro, onde vivem mais de 70.000 pessoas. A reportagem destaca que o Brasil tem hoje 14.000 favelas, duas vezes mais do que em 2010 e que 60 milhões de brasileiros vivem com menos de €100 por mês, o equivalente a RS$ 515.

Os eleitores presentes ao comício “veem no líder da esquerda o único capaz de defender os pobres e erradicar a fome”, diz o texto. Aos 76 anos, “o dirigente do Partido dos Trabalhadores parece marcado pelos 580 dias que passou na prisão, após acusações de corrupção da Operação Lava Jato”, relembra a revista semanal. “Lula recebe de um eleitor uma imagem de Nossa Senhora Aparecida, padroeira do Brasil”, destaca o enviado especial, afirmando que a esquerda demorou a se dirigir aos religiosos fervorosos do país.

Enquanto isso, nomes próximos a Bolsonaro não perdem tempo em ligar a trajetória do ex-presidente a escândalos, como fez recentemente a ex-ministra de Direitos Humanos e das Mulheres, Damares Alves, que durante um culto da Assembleia de Deus denunciou a existência de uma rede de tráfico de menores e abusos sexuais, dando a entender que dirigentes próximos a Lula fechariam os olhos para tais crimes.

Le Point também destaca que o Episcopado brasileiro publicou uma carta aberta “denunciando a exploração da fé e da religião como modo de obter votos no segundo turno” e lembrando que “a manipulação religiosa deforma os valores do Evangelho”.

A reportagem termina mostrando que a guerra santa da política brasileira invadiu as redes sociais, “onde cada candidato é descrito como um monstro que levará à queda do Brasil”. Entre tantas falsidades que circulam nas redes, “Lula é tratado de satanista”, enquanto “Bolsonaro é acusado até de canibalismo”. E nessa campanha polarizada e mergulhada em fake news, o debate de ideias é abafado e inaudível. Após a eleição, “será preciso que as igrejas, que tanto jogaram lenha na fogueira, se voltem aos valores como tolerância e perdão”, conclui a Le Point.

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