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A Semana na Imprensa

Ataques em Brasília mudaram imagem do Brasil para o mundo, afirmam revistas francesas

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O conceito de Brasil para o mundo acaba de ser atualizado. Depois dos ataques de fanáticos bolsonaristas contra as estruturas dos três poderes do Estado em Brasília, no domingo 8 de janeiro, a ideia de Brasil no imaginário coletivo nunca mais será a mesma. Os incidentes de terror e vandalismo parecem ter manchado para sempre a imagem deste país tropical, pacífico e acolhedor.

"Extremismo, violência, racismo: uma outra imagem do Brasil", sintetiza o título da matéria da revista francesa L'Express que chegou às bancas esta semana.
"Extremismo, violência, racismo: uma outra imagem do Brasil", sintetiza o título da matéria da revista francesa L'Express que chegou às bancas esta semana. REUTERS - UESLEI MARCELINO
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Andréia Gomes Durão, da RFI

"Extremismo, violência, racismo: uma outra imagem do Brasil", sintetiza o título da matéria da revista francesa L'Express que chegou às bancas esta semana. Por muito tempo percebido como uma nação pacífica, miscigenada e exemplar, o gigante sul-americano não acabou com seus demônios, continua o texto.

Apesar do sorriso de Pelé, da musicalidade da bossa-nova e da sensualidade de suas praias, a sociedade brasileira há muito tempo vem sendo impregnada por uma profunda "cultura da violência" e disputa de classes. A publicação destaca que a ameaça à democracia assistida há uma semana na capital brasileira foi lançada majoritariamente por uma classe média e branca.

A publicação volta aos tempos da escravidão para enfatizar uma desigualdade social nem de longe amenizada pela abolição da escravatura em 1888. A presença de integrantes das forças armadas entre os militantes também é destacada pela L'Express, que remonta a outros capítulos do curso da história brasileira que fizeram desaguar este episódio lamentável no coração do poder nacional.

Uma crítica direta e objetiva: nenhum "trabalho de memória" foi conduzido desde o retorno à democracia em 1985. O que explica que em 2016 o então deputado federal Jair Bolsonaro tenha feito uma homenagem, em pleno Congresso Nacional, ao coronel Carlos Brilhante Ustra, conhecido torturador do período da ditadura militar, sem nenhum tipo de punição.

“Autópsia de um golpe”

Enquanto isso, a Paris Match narra uma "Autópsia de um golpe fracassado". As imagens de destruição e barbárie contra o Palácio do Planalto, o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal ocupam seis páginas da revista francesa.

Em uma comparação à invasão do Capitólio, há cerca de dois anos, e criando um paralelo entre as estratégias de Trump e Bolsonaro, o artigo descreve como este ataque aos símbolos do poder ocorrem após meses de acampamento de bolsonaristas em Brasília, que foram convocadas por uma ampla rede nas plataformas digitais. Uma tentativa de golpe de Estado que abala o alicerce da democracia de uma república jovem, dividida e economicamente frágil, aponta a revista.

A destruição sem limites imortalizada pelos telefones celulares também chama a atenção dos jornalistas franceses. Pilotados por um exército de internautas, os grupos de WhatsApp tiveram um papel central na coordenação dos ataques, transformando a Praça dos Três Poderes em um campo de guerra, insiste o texto.

Um choque, uma vergonha, uma tragédia, mas certamente não uma surpresa, analisa a publicação sobre esta crise anunciada, que teve a conivência das forças de ordem.

Incompetentes de verde e amarelo

na revista L'Obs, o presidente da ONG Repórteres Sem Fronteiras, Pierre Haski, dedica um artigo aos ataques em Brasília e às lições que podem ser tiradas deste triste episódio.

O texto sugere que uma geração que cresceu sob a lembrança de uma foto de Salvador Allende, em 11 de setembro de 1973, com uma arma na mão, em frente ao Palácio de la Moneda, em Santiago do Chile, horas antes de morrer, não poderia deixar de temer um golpe de Estado ao ver as cenas de 8 de janeiro na capital brasileira.

Uma associação, afirma o artigo, mais pertinente do que a feita com o ataque ao Capitólio, em Washington. A diferença, felizmente, é que, ao contrário do que se passou no Chile, a extrema direita brasileira "miseravelmente" fracassou.

A história não se repete, continua Haski. O Brasil não está mais em 1964, e o presidente Lula teve seu mandato salvo pela incompetência dos insurgentes de verde e amarelo que invadiram os prédios modernistas enquanto Bolsonaro vivia seu exílio dourado na Flórida.

Mesmo assim, o que aconteceu em Brasília é um alerta, inclusive para o coração de uma Europa mais frágil do que se pensa, conclui o artigo.

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