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Brasil-Mundo

Conheça Carol, a baiana que tem conquistado portugueses e estrangeiros em terras lusitanas

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Na terra do bolinho de bacalhau, o acarajé da Carol é rei. A iguaria faz sucesso em eventos, como os da Embaixada Brasileira, em Lisboa, e no restaurante que a soteropolitana abriu há seis anos na capital portuguesa.

Ano passado, Carol serviu caruru para cerca de 1 mil pessoas que fizeram fila na rua do restaurante.
Ano passado, Carol serviu caruru para cerca de 1 mil pessoas que fizeram fila na rua do restaurante. © Divulgação
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Fábia Belém, correspondente da RFI em Portugal.

Carolina Alves de Brito, que costuma ser chamada de Carol, não imaginava que um dia deixaria a cidade de Salvador, onde nasceu e cresceu.

Como eu sou muito baiana, muito soteropolitana, eu sou muito agarrada às minhas tradições, eu não me via vivendo em outro estado, muito menos em outro país, mas aconteceu.”

Em 2002, quando trabalhava como ajudante de Cira, famosa baiana de acarajé, Carol foi convidada por um casal de clientes portugueses para ir viver na cidade do Porto, onde trabalharia no restaurante do casal. A jovem ficou tão empolgada, que não pensou duas vezes:

Falei assim: ‘Ai, eu vou, vou pra Portugal.’ E a minha mãe dizia ‘Oxe, não vai, não. Você já viu a idade que você tem?  Você só tem 18, vai fazer 19 anos. Vai fazer o que em Portugal sozinha?’ Eu disse ‘Ah, mãe, se não der certo, depois eu volto.’”

Pessoas na fila à espera do caruru de São Cosme e Damião
Pessoas na fila à espera do caruru de São Cosme e Damião © Divulgação

Carol nunca mais voltou a morar na Bahia. No restaurante, na cidade do Porto, ela ficou encarregada de preparar moquecas, bobó e acarajé. “E era engraçado que as pessoas diziam assim: ‘A gente vai pagar o rodízio, mas vai comer só acarajé.’ E o meu patrão falava assim ‘Menina, o que é que você bota nesse acarajé que o povo tá vindo só atrás desse acarajé?”, lembra Carol com um sorriso largo. 

O acarajé da Carol

Feito à base de feijão fradinho, cebola e alho, o acarajé é frito em azeite de dendê. Depois ganha os acompanhamentos: vatapá, camarões secos defumados e vinagrete, “que é a saladinha que o pessoal adora”, revela a baiana.

“Eu tou tão segura de que eu sei fazer um bom acarajé, que eu quero ver mesmo as pessoas comendo, eu quero olhar pra cara da pessoa, e a pessoa lambe os dedos, fecha os olhos, e a pessoa come com a mão toda. Digo: ‘Gente, que maravilha!’”, conta Carol com entusiasmo.

Sucesso na Embaixada do Brasil de Lisboa

No Porto, o acarajé da Carol fez tanto sucesso, que um dia a baiana foi convidada para fazer o quitute, em Lisboa, num encontro organizado pela Embaixada do Brasil. Foi a primeira vez num evento na capital portuguesa. “Pra mim foi muito bom, porque na verdade dividiu muita coisa e mudou muita coisa na minha vida”.

Depois do sucesso que fez, Carol percebeu um futuro de oportunidades. Trocou o Porto por Lisboa, e nos dez primeiros anos na capital portuguesa, ela se dividiu entre o trabalho como recepcionista numa churrascaria e os eventos, como os da Embaixada, onde fazia pratos típicos da culinária baiana. 

“Foi uma novidade porque não era só vender o acarajé, [também] era o traje típico de baiana, é toda uma história que eu conto, que adoro conversar, eu adoro falar, e eles valorizaram muito e me fizeram sentir muito orgulhosa de todas as lembranças que eu tenho, de tudo o que eu trago comigo”, salienta.

 

Moqueca de peixe, um dos pratos típicos preparados pela baiana Carol
Moqueca de peixe, um dos pratos típicos preparados pela baiana Carol © Divulgação

A passagem pela Casa do Brasil de Lisboa

Uma vez por semana, sempre nos dias de folga do restaurante, Carol levava o tabuleiro de acarajé para a Casa do Brasil de Lisboa, no Bairro Alto. O espaço que ocupava “começou a ser o point onde toda a gente se encontrava, se completava e recebia aquela energia boa, o axé. A gente colocava uma música ao vivo.... Então, virou um ponto de encontro e foi crescendo”, recorda.

Quando a Casa do Brasil precisou do espaço, conta Carol, ela não pensou duas vezes e abriu o próprio restaurante no Bairro Alto. Isso foi há quase seis anos. Cerca de 80 por cento dos clientes são portugueses e brasileiros residentes. O restante é formado por turistas de diferentes países. “O pessoal gosta, e me chama na cozinha e eu venho, converso, dou uma risadinha, tiro uma fotografia”.

O cardápio é recheado de culinária baiana, “de culinária de terreiro”, explica Carol, ao comentar a importância de preservar as tradições da culinária presente nos terreiros das religiões de matrizes africanas.

“A gente tem que respeitar a ancestralidade. Eu tenho que respeitar tudo o que aprendi lá atrás”, ressalta.

Cozinha afetiva

Carol reconhece que a comida que serve mexe com a memória, desperta emoção e afeto juntos. Muitos dos clientes que chegam querem “matar a saudade”.

“É como se [a comida] tivesse um botão que liga a pessoa e conecta depois [às memórias]. E me emociona muito quando eu estou lá na cozinha e consigo enxergar de lá uma pessoa aqui emocionada, falando coisas boas, que lembrou da infância, que lembrou da mãe, da avó. E eu vivo exatamente disso, e digo ‘Gente, eu vivo de energia, eu preciso desse retorno, desse carinho’, porque não é fácil fazer acarajé, né, eu falo assim [fazer acarajé] no outro lado do Atlântico”.

Salvador numa rua de Lisboa

Seguindo as tradições, todos os anos Carol prepara o caruru, um tradicional prato da “culinária de terreiro” feito com bastante quiabo, e que é servido no dia 27 de setembro, data em que se celebra o dia dos santos Cosme e Damião. “É uma data importante, porque a gente tem os erês como umas das figuras principais dentro do nosso candomblé, que são Cosme e Damião”, explica.

Carol chega a cruzar o Atlântico para comprar, em Salvador, parte dos ingredientes. “Eu trago banana da terra, cana, abóbora, eu trago as coisas que eu posso trazer de lá pra complementar o caruru. O quiabo, a gente encontra aqui.”

Ano passado, Carol serviu caruru para cerca de mil pessoas que fizeram fila na rua do restaurante. “A gente não cobra o caruru de Cosme e Damião, porque é uma oferta nossa, só que a gente pede para a pessoa trazer um quilo de alimento não perecível ou algum donativo”, esclarece. A baiana entregou tudo o que foi doado a uma organização internacional que apoia crianças. “A gente consegue manter a tradição”, diz.

Em maio, a mudança de Carol para Portugal vai completar 21 anos, mas a terra natal está cada vez mais presente na baiana nascida e criada no bairro de Itapuã.

“Eu trabalho em Salvador e depois eu moro em Lisboa, porque eu estou aqui dentro e eu estou completamente conectada com tudo lá.”

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