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Esporte em foco

Apoios como os de Neymar a Bolsonaro e de Raí a Lula podem influenciar eleitores?

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Na reta final da campanha eleitoral no Brasil, o apoio de atletas e ex-jogadores a candidatos à eleição presidencial desperta paixões, influência e também muita polêmica. Cientista política ouvida pela RFI afirma que a polarização da disputa por um lado inibiu a manifestação de voto de muitos profissionais, mas os que o fizeram podem influenciar na votação principalmente dos eleitores indecisos. 

Fotomontagem com Juninho Pernambucano, Ronaldinho, Neymar e Raí
Fotomontagem com Juninho Pernambucano, Ronaldinho, Neymar e Raí © AP Photo/Laurent Cipriani/Francois Mori/Joan Mateu Parra//Andre Penner
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O vídeo no qual Neymar, atacante do PSG e da seleção brasileira, aparece dançando e pedindo voto para o presidente Bolsonaro viralizou nas redes sociais. A mensagem foi divulgada antes do 1° turno e dias depois da visita do presidente Jair Bolsonaro ao Instituto Neymar, em Praia Grande.  

Muitos críticos do posicionamento do jogador viram um interesse pessoal no apoio. Neymar e seu pai são acusados de evasão fiscal em um processo que teve início em 2014 e referente a supostos impostos que não teriam sido pagos pela transferência do jogador do Santos ao Barcelona.  

Ao participar de uma entrevista para o programa de podcast Flow, o candidato petista à presidência, Lula da Silva, ironizou o apoio do jogador. “O Neymar tem o direito de escolher quem ele quiser para ser presidente. Eu acho que ele está com medo de que, se eu ganhar as eleições, eu vou saber o que o Bolsonaro perdoou da dívida dos impostos de renda dele. Eu acho que é por isso que ele está com medo de mim”, disse o candidato. “Obviamente que o Bolsonaro fez um acordo com o pai dele. E ele agora está com um problema com o imposto de renda na Espanha. Mas isso não é um problema do presidente. É um problema da Receita Federal e não meu”, acrescentou Lula. 

Em um post publicado em uma rede social, o pai de Neymar respondeu: "A NR Sports, seus diretores e a família do Sr. Neymar da Silva Santos, repudiam a afirmação falaciosa que um dos candidatos à Presidência da República fez, de forma leviana, ao acusá-los de práticas de condutas ilícitas, supostamente praticadas em conjunto com o atual presidente Jair Messias Bolsonaro. Para encerrar definitivamente o assunto, comunicamos que a informação é falsa. Os responsáveis deverão provar o contrário no palco adequado”, diz o texto. 

Apoio quando Neymar foi acusado de estupro

Neste sábado (22), Neymar participou de uma live com o presidente Bolsonaro e justificou seu apoio ao candidato à reeleição. Segundo o jogador, foi uma retribuição ao apoio recebido de Bolsonaro no “momento mais difícil de sua vida”. Em junho de 2019, Neymar foi acusado de estupro por um jovem durante viagem a Paris. Na ocasião, o  presidente saiu em defesa do jogador. O caso acabou arquivado por falta de provas.   

"Nunca falei isso em lugar nenhum. Eu queria agradecer ao presidente que, no momento mais difícil da minha vida, foi o primeiro a se posicionar publicamente dizendo que estaria do meu lado. Então, quando eu vi o que estava acontecendo, eu senti no meu coração que devia retribuir esse mesmo carinho que ele teve comigo sem ao menos me conhecer", disse Neymar na live. 

Com seus milhões de seguidores nas redes sociais, Neymar e também outros nomes influentes do mundo do futebol, como Ronaldinho Gaúcho e Rivaldo, que não hesitam em suas redes sociais de fazer campanha para o atual chefe de Estado, têm capacidade de puxar votos para os seus candidatos? A cientista política Maria do Socorro Sousa Braga, da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), acredita que sim.  

“O Neymar já deve ter puxado os votos. E nesse período da campanha, seja especialmente no primeiro turno, quando ele ele crava o seu apoio a Bolsonaro, os eleitores já fizeram esse movimento. Então, aquele eleitor indeciso ou o eleitor que tendia a não votar, inclusive na (Simone) Tebet, nas outras candidaturas menores, pode sim ter feito esse movimento ao saber dessa informação que o Neymar apoia o atual presidente”, avalia. 

No entanto, a especialista, autora de textos e análises sobre futebol e política, ressalta que a polarização nesta eleição foi determinante para muitos atletas preferiram não expor suas convicções políticas. 

“É interessante chamar a atenção que várias celebridades fizeram esse jogo. Mas, por outro lado, também importante chamar a atenção, que foi um número reduzido do ponto de vista dos atores do campo, no caso do campo de futebol, a dar apoios a ambos candidatos. Então, talvez até por essa antecipação da alta polarização que a gente está vivendo no país, que a sociedade está muito polarizada. E ela já sabia em que ela ia votar com muita antecipação”, diz. 

Raí fez o "L" na entrega da Bola de Ouro

A campanha eleitoral no Brasil também foi mencionada na cerimônia do famoso troféu Bola de Ouro, que premia os melhores da temporada do futebol. Antes de entregar ao senegalês Sadio Mané o primeiro troféu Sócrates, criado para celebrar esportistas que fazem ações sociais, o ex-jogador Raí fez um discurso evocando a memória e a atuação política de seu famoso irmão, que se engajou na luta pela democracia no Brasil nos anos 1980.  Ao lembrar da trajetória de Sócrates, Raí fez também um apelo político ao terminar seu discurso com dois dedos em forma de “L” em referência ao candidato Lula.  

Em entrevista à RFI durante um ato em defesa da democracia no Brasil e em apoio ao candidato Lula, neste sábado (22), em Paris, Raí explicou seu gesto. “O gesto foi espontâneo, mas é claro que eu pensava em alguma mensagem, até porque estamos falando de Sócrates, que representa a democracia, e agora que estamos sentindo essa ameaça [de ruptura democrática]”, afirmou. “Eu tinha que falar da importância desse momento para o país, e obviamente sobre qual o caminho que estou convicto, e para que a gente faça de tudo para que [o Brasil] retome o caminho certo da História”, acrescentou.  

Raí explica apoio a Lula durante cerimônia da Bola de Ouro
O ex-jogador Raí convida os eleitores à votarem contra as diferenças sociais e a favor do amor.
O ex-jogador Raí convida os eleitores à votarem contra as diferenças sociais e a favor do amor. © RFI

 

 

Para a cientista política Maria do Socorro, a atual eleição demonstra que, diante dos programas completamente diferentes dos candidatos Lula e Bolsonaro, os apoios de jogadores e ex-atletas expressam a visão sobre o país.  

“Deve ter aí uma relação com a visão desse jogador de qual é a expectativa dele para o país. Então, aquele jogador mais antenado, mais politizado, que conhece, estuda, lê, se informa e pensa também, não só na sua carreira, na sua ambição pessoal, profissional, mas também está preocupado com a visão de país, também com a sua sociedade... E ele vai ter uma opção a fazer muito guiada por esses dois projetos. Então, talvez nesses dois casos, essa questão programática ideológica, melhor dizendo, pode estar influenciando nessa decisão”, afirma. 

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