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O Mundo Agora

Ataque contra casa de shows perto de Moscou mostra vulnerabilidade do regime de Putin

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O recente ataque no Crocus City Hall em Moscou, que deixou ao menos 137 mortos na sexta-feira (22), marca um momento decisivo para a liderança do presidente Vladimir Putin, principalmente diante de sua recente vitória eleitoral. Este trágico incidente não apenas expõe falhas gritantes na segurança nacional, mas também levanta questões sobre possíveis vulnerabilidades no regime russo.

População de Moscou participa de homenagem às vítimas do ataque terrorista da última sexta-feira (22), perto da capital russa, que deixou ao menos 137 mortos.
População de Moscou participa de homenagem às vítimas do ataque terrorista da última sexta-feira (22), perto da capital russa, que deixou ao menos 137 mortos. AP - Dmitri Lovetsky
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Thiago de Aragão, analista político

Os Estados Unidos já haviam alertado sobre o risco de um ataque do grupo Estado Islâmico (EI) na Rússia, inclusive publicando no site da embaixada americana em Moscou. Putin, no entanto, talvez subestimando a gravidade da situação, descartou esses avisos e os consderou meras provocações.

Especificamente, Washington tinha informações sobre potenciais atividades extremistas visando grandes aglomerações em Moscou - deixando claro que uma casa de shows, como a Crocus City Hall, eram possíveis alvos -, mas parece que as autoridades russas não deram a devida atenção a essas advertências. O fato de militantes do grupo EI terem conseguido executar este ataque logo após a reeleição de Putin, quando ele prometia reforçar a segurança nacional, levanta sérias questões sobre a segurança nacional russa. 

Este incidente abala a imagem de uma Rússia forte e segura sob a liderança de Putin. O Kremlin tentou rapidamente atribuir a culpa à Ucrânia, sem apresentar provas concretas, o que levanta ainda mais suspeitas sobre a transparência e a responsabilidade do governo Putin. Essa estratégia de desviar a atenção não resolve as falhas de segurança interna expostas pelo ataque.

Consequências além das fronteiras russas

A aparente desconsideração de Putin pelos avisos dos Estados Unidos não agrava as já tensas relações entre os dois países, especialmente em um contexto de discórdia global, mas cria um constrangimento pesado para Putin. Isso destaca a complexidade da colaboração internacional de inteligência e a importância de levar a sério ameaças críveis, independentemente de sua origem.

No fim das contas, o ataque ao Crocus City Hall coloca em xeque a imagem de controle e segurança cultivada por Putin, revelando a ameaça persistente do terrorismo e a necessidade urgente de operações de inteligência eficientes e cooperação global no combate às ameaças à segurança. Este evento pode ter um impacto duradouro na popularidade do líder russo e na percepção de solidez de seu governo.

O ataque em Moscou sinaliza também um ressurgimento perturbador das atividades do grupo EI, elevando os riscos de segurança para a Ucrânia e a Europa. Ele destaca a contínua capacidade e intenção dos jihadistas de atingir a Rússia, em parte como retaliação pelas ações militares russas na Síria e na Chechênia, e pelos conflitos históricos em regiões de maioria muçulmana, como o Afeganistão.

Os engajamentos militares passados da Rússia, especialmente os brutais conflitos chechenos e seu apoio ao regime sírio, alimentaram animosidades e forneceram ao movimento jihadista munição propagandística para justificar seus ataques antirrussos. A histórica influência de Moscou na Síria, antigo reduto do grupo EI, coloca a Rússia no topo da lista de alvos.

Essa escalada pode desencadear uma estratégia de segurança russa mais agressiva, com o potencial de piorar ainda mais a situação já tensa na Ucrânia. A Rússia pode intensificar suas respostas militares ou de segurança, colocando em risco a estabilidade da Europa Oriental. Afinal, se Putin não conseguir demonstrar força contra um inimigo das sombras, como o grupo EI, essa ira será direcionada para o alvo mais imediato: a Ucrânia.

Além disso, esse grande ataque em Moscou pode encorajar o movimento jihadista e suas filiais a expandir suas atividades pela Europa, trazendo à tona lembranças de seus ataques letais anteriores em cidades como Paris e Nice.

Conflito checheno-russo

Soma-se a isso a história do conflito checheno-russo, marcada por duas guerras brutais após a dissolução soviética, que perpetuou a insurgência e a militância. Esse contexto oferece ao grupo EI oportunidades de explorar o descontentamento local contra o domínio russo, potencialmente fundindo as forças insurgentes locais com as redes jihadistas globais.

O relacionamento capenga entre a Rússia e os Estados Unidos ganha mais um elo de ligação por meio do ataque terrorista de Moscou. Por um lado, o compartilhamento de inteligência e a necessidade de colaboração no combate ao terrorismo poderiam aproximar as duas nações, fornecendo um ponto em comum apesar das tensões geopolíticas existentes.

No entanto, a guerra na Ucrânia, visões de mundo antagônicas, a expansão da Otan e abordagens opostas para conflitos internacionais, criam obstáculos significativos para uma eventual cooperação. Neste contexto, o ataque do grupo EI apresenta uma oportunidade para o diálogo e o engajamento diplomático, mas ambas as nações terão que navegar habilmente em um delicado ato de equilíbrio entre seus interesses de segurança imediatos e suas estratégias geopolíticas mais amplas - o que é altamente improvável.

O futuro do relacionamento Rússia-Estados Unidos dependerá, em grande parte, de como eles gerenciam essa dinâmica e seus interesses de curto prazo. Certamente, o cenário não parece propício para isso. 

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