Exposições em Paris abordam relação de Basquiat com a música e parceria com Andy Warhol
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Pintor, street artist, músico, poeta. O norte-americano Jean-Michel Basquiat transitou pela arte como transitou pelo mundo, de forma intensa e intrigante, profunda e fulgurante. Em Paris, duas exposições retratam as diferentes facetas deste artista ícone do neoexpressionismo, enfant terrible da comunidade artística nova-iorquina nos anos 1970 e 1980.
Daniella Franco, da RFI
Na mostra “Basquiat x Warhol, à Quatro Mãos”, a Fundação Louis Vuitton explora a criação artística de Basquiat em colaboração com Andy Warhol, pai do movimento pop art. Já a Philarmonie de Paris realiza a primeira mostra consagrada à íntima relação da obra do afro-americano com a música: "Basquiat Soundtracks".
O interesse de Basquiat pela música surgiu paralelamente ao movimento de street art "Samo" fundado no final dos anos 1970 em Nova York por ele e um colega, o grafiteiro Al Diaz. A rebeldia do artista lhe rendeu uma expulsão da escola e também de casa, ao ser surpreso pelo pai fumando maconha. Essa ousadia e displicência típicas do artista também o levaram à criação do grupo de noise rock Gray, junto com o produtor de cinema e TV Michael Holman.
A ideia do nome do grupo veio do livro de medicina "Gray's Anatomy" que Basquiat recebeu da mãe aos 7 anos, após ser atropelado por um carro. Esse episódio marcou a vida do artista e traços dessa experiência podem ser conferidas em várias de suas criações.
Um dos curadores da exposição "Basquiat Soundtracks", Vincent Bessières, conversou com a RFI sobre a criação da banda. Segundo ele, música de Gray se inscreve em uma época onde a experimentação era a regra. A maioria dos integrantes do grupo jamais aprenderam a tocar qualquer instrumento.
"Eles inventam músicas a partir daquilo que eles conseguem fazer com os instrumentos. O que torna esse grupo singular é fazer músicas sem saber tocar. Um dos fundadores da banda, Michael Holman, dizia: 'imaginávamos que éramos extraterrestres que, ao chegar na Terra, encontravam instrumentos para tentar compreendê-los e como fazer música com eles'"
A exposição "Basquiat Soundtracks" também aborda a relação do artista com a no-wave e o hip-hop, as noites do artista no Mudd Club, onde conheceu Keith Haring, Madonna – com quem teve um breve namoro – e Debbie Harry, cantora do grupo Blondie, para quem Basquiat vendeu sua primeira pintura, "Cadillac Moon", por US$ 200, em 1980. Meses depois, o videoclipe da icônica "Rapture" recebeu a participação especial de Basquiat:
Nas pinturas, instalações, fotos, vídeos - uma centena de obras expostas na Philarmonie de Paris, algumas delas raríssimas - a paixão de Basquiat pelo jazz e sua obsessão pelo músico Charlie Parker também são tratadas, uma forma que o artista encontrou para se conectar com suas raízes latinas e africanas. Filho de uma mãe porto-riquenha e de um pai haitiano, inspirado por ícones do jazz e do blues, Basquiat explora o Atlântico negro, onde a música se transforma em um refúgio da memória do artista.
Basquiat x Warhol
Do outro lado de Paris, na Fundação Louis Vuitton, uma outra exposição destaca um outro lado de Basquiat: sua relação com o pai da pop art. “Basquiat x Warhol, à Quatro Mãos”, nome da mostra, exibe obras que os dois artistas criaram juntos.
De 1984 a 1985, eles realizam 160 telas juntos, algumas delas consideradas como as mais importantes de suas carreiras. No total, mais de 300 obras e documentos, entre as quais 80 pinturas, são expostas.
Para Dieter Buchhart, um dos curadores de “Basquiat x Warhol, à Quatro Mãos”, conversou com a RFI sobre a importância deste evento incontornável para os fãs de arte contemporânea.
“Warhol e Basquiat criaram com intensidade e muita energia essas obras incríveis. Essa é a exposição mais importante desta colaboração entre os dois. Nunca nenhuma mostra sobre essa parceria conseguiu reunir tantas obras”, afirma.
"Basquiat x Warhol: A Quatro Mãos" fica em cartaz até 28 de agosto na Fundação Louis Vuitton, no 16° distrito de Paris. Já "Basquiat Soundtracks", pode ser conferida na Philarmonie de Paris, no 19° distrito da capital francesa, até 30 de julho.
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