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Reportagem

Fotos do brasileiro Alécio de Andrade sobre Revolução dos Cravos são publicadas em livro na França

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O livro “Lumière d’Avril (Luz de Abril), Portugal 1974” é publicado na França a poucos meses do aniversário de 50 anos da Revolução dos Cravos, que pôs fim a mais de 40 anos de ditadura no país. A obra, editada pela Chandeigne, traz 56 fotos, muitas inéditas, feitas pelo fotógrafo brasileiro Alécio de Andrade, que revelam os primeiros meses do movimento revolucionário português, e um texto do historiador francês, especialista em Portugal, Yves Léonard.

Capa do livro Lumière d'avril Portugal 1974
Capa do livro Lumière d'avril Portugal 1974 © Divulgação
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A ideia inicial para a publicação do livro “Lumière d’Avril”, ainda inédito em português, foi de Patricia Newcomer, viúva de Alécio de Andrade e responsável por preservar o arquivo e perpetuar a obra do marido, morto em 2003. Muito antes de Sebastião Salgado, o carioca, radicado em Paris a partir de 1964, era o fotógrafo brasileiro mais conhecido na França.

Ele era correspondente da revista “Manchete” na Europa e foi o primeiro brasileiro a integrar a prestigiosa agência Magnum do mestre Cartier Bresson, que ele conhecia. Alécio deixou em seus arquivos centenas de fotos em P & B e a cores do período de transição democrática portuguesa, registradas durante três viagens a Portugal, entre julho de 1974 e meados de 1975.

A primeira escolha para a publicação do livro foi feita por Patricia Newcomer, seguindo as indicações deixadas pelo próprio Alécio. “Ao todo, ele deixou 3 mil clichês em Preto & Branco e 300 slides a cores dessas três viagens a Portugal. Eu fiz a primeira escolha partindo de indicações que ele deixou nas cópias contato, com lápis vermelho ou branco”, conta.

Patricia Newcomer, Lausanne, 1983
Patricia Newcomer, Lausanne, 1983 © Alécio de Andrade, ADAGP, Paris 2023

Cotidiano do período revolucionário

Patricia Newcomer separou cerca de 100 fotografias. A escolha final coube a Anne Lima, da Editora Chandeigne, e ao historiador Yves Léonard, professor do Instituto de Ciências Políticas de Paris, a Sciences Po, e autor do texto de introdução.

“A ideia foi mostrar a diversidade do trabalho de Alécio. É uma seleção com figuras muito emblemáticas da Revolução dos Cravos, nomeadamente os capitães, os homens políticos, e também com figuras do cotidiano de Portugal”, indica o historiador.

Ao lado dos líderes do Movimento da Forças Armadas (MFA), que orquestraram a Revolução dos Cravos, como o tenente-coronel Otelo Saraiva de Carvalho, e o general Antonio Spínola, primeiro presidente português pos-25 de Abril, as fotos de Alécio de Andrade mostram manifestações nas ruas por mais direitos, pessoas e soldados retornados das ex-colônias africanas, devotos em Fátima, agricultores e moradores de Lisboa. Para o historiador, as fotografias de Alécio revelam, para além dos fatos e figuras históricas, “o pensamento e a vida cotidiana dos portugueses durante o processo revolucionário”, não só em Lisboa, mas em outras regiões do país.

Yves Léonard reassalta, por exemplo, as fotos do general Spínola de férias. “As fotos do general Spínola são muito originais, diferentes. É uma série de fotografias feitas durante o verão (julho-agosto) de 74 em Buçaco. (...) É muito interessante ver a realidade do quotidiano durante esse ano de 74”, salienta.

A Revolução portuguesa de 25 de Abril que derrubou décadas de ditadura salazarista, foi rápida, pacífica e inesperada, lembra o historiador. Os portugueses reconquistaram direitos que haviam perdido, iniciou-se o processo de descolonização de países africanos e Portugal passou por um conturbado Processo Revolucionário em Curso, que organizou as primeiras eleições diretas, vencidas pelos socialistas em 1975. Yves Léonard aponta a importância da dimensão do sonho nesse processo revolucionário e pede o despertar do 25 de abril que “não é muito claro para os jovens”.

Ele acredita que a Revolução dos Cravos “é uma lição muito importante para as jovens não só em Portugal, mas também na Europa e na América do Sul. É muito importante lembrar da importância da ação política para derrubar um regime ditatorial. É importante lembrar que, no mundo de hoje, a democracia é alguma coisa de frágil e difícil de estabelecer, de conservar, especialmente na Europa”.

 

Historiador Yves Léonard
Historiador Yves Léonard © RFI

 

Formato acessível

“Lumière d’Avril” foi publicado em formato menor, mais acessível ao público em geral. Patricia Newcomer ficou feliz com o resultado. Segundo ela, “o livro tem um ritmo visual, mas também um ritmo humano e cronológico. Os fatos históricos são revelados, mas ao mesmo tempo descritos de uma maneira diferente”.

As negociações com editoras portuguesas e brasileiras já estão sendo feitas para que "Lumière d’Avril", com fotos de Alécio de Andrade e texto de Yves Léonard, seja publicado em português em 2024, ano em que se comemora os 50 anos da Revolução dos Cravos.

 

 

Lumière d'Avril Portugal 1974
Lumière d'Avril Portugal 1974 © Divulgação

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