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'Estrelas': documentário sobre a vida das brasileiras em Paris estreia na França

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Estreia nesta sexta-feira (2) no Festival de Cinema Brasileiro de Paris o documentário “Estrelas”, um filme de mulheres para mulheres. Pamela Valente traz um retrato realista e emocionante das brasileiras que vivem atualmente na capital francesa. A cineasta conseguiu reproduzir na tela a diversidade de perfis que compõem a diáspora, formada por um número cada vez maior de migrantes econômicos e, principalmente, por mulheres empoderadas.

A cineasta Pamela Valente exibe o filme Estrelas no festival de cinema brasileiro aqui em Paris.
A cineasta Pamela Valente exibe o filme Estrelas no festival de cinema brasileiro aqui em Paris. © Captura de tela
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“Estrelas” nasceu como uma forma de atualização do documentário “Le Brésil à Paris”, filme rodado por Pamela Valente em 1999 e que mostrava uma diáspora brasileira composta basicamente por artistas, intelectuais e alguns ex-exilados políticos. “A comunidade mudou muito nesses vinte anos”, resume a cineasta.  

“O consulado do Brasil e mesmo o Instituto Francês de Estatísticas estimam que, oficialmente, há em torno de 110 mil brasileiros aqui. Mas eu acho que tem muito mais. Basta andar na rua para ouvir alguém falando português”, avalia Pamela. “Muita gente vem [para a França] para melhorar de vida. Eu diria que a maioria é isso. A gente vê pedreiro falando português do Brasil, manicures, empregadas domésticas, pessoas trabalhando em lojinhas. Em qualquer lugar agora tem brasileiro, pois a situação ficou muito complicada lá, principalmente nos últimos anos”, comenta.

Durante suas pesquisas, Pamela constatou que as brasileiras vinham desempenhando papel cada vez mais preponderante, o que acabou guiando o projeto. “Tinha muita mulher fazendo coisas interessantes. Uma mulherada realmente muito dinâmica”, ressalta.

Mas para a cineasta, também era importante usar o filme como uma resposta a comentários misóginos feitos nos últimos anos no Brasil, inclusive pelo presidente brasileiro Jair Bolsonaro, que disse ter “fraquejado” com a nascimento de sua filha, após ter tido quatro filhos. “Pensei que seria interessante mostrar para ele e para outros que continuam acreditando no que ele fala que essas mulheres não tinham nada de ‘fraquejada’. Que eram muito fortes e faziam coisas interessantes”, defende.

Partindo dessa premissa, “Estrelas” explora a diversidade dos perfis das brasileiras que moram atualmente na França e desconstrói alguns mitos sobre a vida dos expatriados. “Eu queria mostrar que nem tudo são flores, pois às vezes os brasileiros no Brasil pensam que [para] quem mora aqui na França tudo é muito legal, com vista para a Torre Eiffel, tomando champanhe todo dia. E não é assim”, ironiza.

Prova disso, o filme traz exemplos de militantes, de ativistas em associações, de expatriadas de classe média, mas também de mulheres vítimas de tráfico de humanos que foram obrigadas a se prostituir, brasileiras que foram agredidas fisicamente por seus companheiros ou que vivem na clandestinidade há anos.

“O que reúne todas elas é que tem uma solidariedade muito grande entre essas mulheres. Tem uma sororidade importante”, comenta a diretora, que reconhece o papel de associações e redes de apoio, como “Brasileiras de Paris”, grupo no Facebook que contribuiu para a composição desse panorama de perfis. “Esse grupo é uma loucura. Quando eu filmei, ele tinha mais de cinco mil pessoas e parece que você está conversando com suas amigas num bar. As pessoas são muito solidárias, solícitas”, conta a diretora.

“Vou passar o Natal sozinha”

Pamela mostra as dificuldades de adaptação, com testemunhos que abordam questões como solidão e diferenças culturais. “Uma das testemunhas no filme diz: as pessoas saem do Brasil e não imaginam como vai ser difícil. Elas imaginam que vai ser a mesma coisa. O mesmo contato com as pessoas, a mesma facilidade de encontrar gente, e não é. Cada cultura tem as suas peculiaridades e, aqui na França, eles não são tão expansivos como no Brasil”, diz. “O resultado é que a gente vê esses apelos de socorro, de mulheres dizendo que vão passar o natal sozinhas. Mas sempre aparece alguém para convidar, mesmo sem conhecer. É isso que eu acho legal. Tem uma confiança imediata. Uma mão estendida”, finaliza.

 

Cartaz da apresentação no cinema Arlequin aqui em Paris para a exibição do filme Estrelas de Pamela Valente.
Cartaz da apresentação no cinema Arlequin aqui em Paris para a exibição do filme Estrelas de Pamela Valente. © Reprodução

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