Filme documenta produção de Ariane Mnouchkine fora do Théâtre du Soleil e com atrizes brasileiras
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Levar uma experiência teatral do Brasil para as telas de cinema. Esse foi o desafio de Jeanne Dosse no filme “Todas por Uma”, que teve estreia mundial no Festival de Cinema Latino-Americano de Biarritz e vai fazer parte da programação da 46ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, a partir de 20 de outubro. A RFI conversou com a cineasta franco-brasileira antes da exibição do longa-metragem, no sudoeste da França, na mostra competitiva de documentários.
Maria Paula Carvalho, enviada especial da RFI à Biarritz
O filme acompanhou uma experiência inusitada na carreira de Ariane Mnouchkine, diretora e fundadora do Théâtre du Soleil, conhecido grupo de teatro de Paris. Em 2018, ela partiu para o Brasil para dirigir "As comadres", uma peça com atrizes brasileiras.
O documentário acompanhou o processo de criação do espetáculo. “Eu estava lá desde o primeiro dia de ensaio até a estreia da peça, em Curitiba, em março de 2019”, conta Jeanne Dosse. “Houve três períodos de três semanas em que a Ariane esteve no Rio de Janeiro ensaiando com elas, o que é muito menos tempo do que os nove meses, em média, que ela costuma ensaiar com sua trupe”, destaca.
Essa foi a primeira vez que a diretora do prestigioso Théâtre du Soleil trabalhou com atrizes que não conhecia e em outra língua. “A Ariane vai para o Brasil desde 1993 e entende português, mas não fala. Ela tinha sempre um tradutor. No fim, as atrizes que não falam francês diziam que já estavam entendendo”, diz.
“O Théâtre du Soleil foi criado há mais de 55 anos e é uma trupe enorme, com quase 100 pessoas, que vêm de vários países”, explica Dosse sobre o trabalho do grupo francês. “Ariane Mnouchkine sempre trabalhou com a trupe dela, e esta experiência foi a primeira vez em que ela dirigiu pessoas que não faziam parte desse grupo teatral e que descobriam o seu método de trabalho”, explica a diretora.
Universo feminino
Em cena, 20 atrizes de diferentes origens apresentam um musical em torno do universo feminino. A peça é baseada no texto cult escrito nos anos 1960 pelo premiado autor canadense Michel Tremblay.
“A peça originalmente se chama Les Belles-sœurs e foi escrita em 1965, no Canadá. Ela trata da condição das mulheres. A relação entre elas e os homens ausentes, sejam os maridos ou os filhos”, diz a diretora. “Fazia sentido montar essa peça hoje porque essas cenas poderiam acontecer, atualmente, em muitos países e mesmo em alguns bairros da França”, completa.
Para além das questões teatrais, o filme trata do desejo e do esforço constante dessas mulheres para fugir dos mecanismos dominantes da sociedade e reformular os paradigmas do trabalho coletivo.
Depois de estrear no Brasil, a peça foi apresentada na Cartoucherie do Bosque de Vincennes, na região parisiense, sede da companhia francesa Théâtre du Soleil, em dezembro de 2021. Porém, como explica Jeanne Dosse, o filme mostra os bastidores dessa produção antes da estreia.
“A minha escolha foi ter o ponto de vista do espectador. Com uma câmera frontal e outra filmando sempre a Ariane, porque no filme a gente vê a reação dela frente a essa vivência. E é um musical, é isso que é mais emocionante”, completa.
“É muito emocionante apresentar o filme depois de tanto tempo. O trabalho de documentário é bastante solitário depois de filmar. Houve um período longo de montagem, à distância, após a pandemia e às vezes a gente até desacredita, pois são muitas as dificuldades para realizar documentário”, conclui.
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