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"Através dos seus olhos”: documentário brasileiro sobre migração abre festival em Lisboa

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O documentário brasileiro "Através dos seus olhos” (2021), de autoria da artista, diretora e videomaker paulista Sonia Guggisberg, será exibido neste sábado (10) na abertura do FESTin – Festival de Cinema Itinerante da Língua Portuguesa, realizado em Lisboa. O filme, que concorre na seleção oficial, conta a história de uma brasileira e de um curdo-iraquiano que se conhecem pela internet e vivem uma intensa história de amor, aos poucos abalada pelo choque de culturas. 

A artista e cineasta paulista Sonia Guggisberg, roteirista e diretora do documentário "Através dos seus olhos".
A artista e cineasta paulista Sonia Guggisberg, roteirista e diretora do documentário "Através dos seus olhos". © Sonia Guggisberg
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A roteirista e diretora Sonia Guggisberg assina um documentário comovente sobre um dos temas mais dramáticos da atualidade, "sem economizar na emoção", como afirmou em entrevista à RFI

A artista paulista lançou seu olhar sobre as migrações e passou a pesquisar esse processo com maior profundidade em 2014, quando a chamaram para participar da exposição "Bons vizinhos constroem bons muros", que aconteceu em Malta.

"Eu comecei a pensar o quanto esses trânsitos humanos eram importantes na construção dos nossos desenhos de liberdade, o quanto é importante entender as diferentes fronteiras, onde elas moram e quais são as nossas fronteiras, as visíveis e invisíveis", conta Sonia. 

A partir daquele momento, ela passou a viajar uma vez por ano para a Grécia, uma das principais portas de entrada de migrantes na Europa. Em seis anos de idas e vindas entre São Paulo e Atenas, Sonia realizou vários curtas-metragens. Em seu último retorno, quando estava filmando o curta "Espera", para mostrar "o quanto a espera pode ser corrosiva, o quanto a falta de horizonte pode de fato corroer as emoções pessoais de cada um", ela conheceu o curdo-iraquiano Momen no campo de refugiados de Skaramagas, perto de Atenas. Ele falava português e disse à cineasta que era casado com uma brasileira.

"Ele me passou o celular que tinha na mão, disse que estava conectado com ela e perguntou se eu não queria falar", recorda. "Obviamente eu me apaixonei pela história no mesmo instante, porque era uma maneira de poder trazer essa conexão da mulher brasileira com a questão do refúgio e entender as diferentes barreiras que isso implicava", lembra Sonia. 

Em "Através dos seus olhos", o espectador acompanha a paixão arrebatadora entre a brasileira Ruth e o árabe Momen. Eles se conheceram pela internet e construíram um relacionamento à distância, em dois continentes. Ela é cristã, filha de um pastor evangélico, e mora na comunidade da Ceilândia, em Brasília. Ele, nascido em uma família ultraconservadora do Curdistão iraquiano, foi educado de acordo com os princípios rígidos do Islã.

Cada um à sua maneira representa para o outro uma abertura para o mundo, que alimenta seus respectivos imaginários. No início, Ruth não tem noção da visão do Islã sobre a mulher. Momen, por sua vez, ignora a história de vida de Ruth no Brasil.

"Eles se apaixonam, mas eles ignoram as barreiras intransponíveis. Só que elas vão se tornando cada vez mais intransponíveis e, quanto mais intransponível, mais eles se apaixonam", destaca a autora do documentário. 

Cena do documentário "Através dos seus olhos"
Cena do documentário "Através dos seus olhos" © Sonia Guggisberg

Falência do sistema sociopolítico

O filme questiona se apesar de os protagonistas estarem em continentes diferentes, em situações de vida totalmente diferentes, não haveria uma correlação entre essas realidades.

"Tanto a questão da comunidade quanto a questão do campo de refugiados trazem de certa forma a evidência de uma falência do sistema sociopolítico em diferentes partes do mundo", diz a roteirista e diretora. "Nós estamos falando de clausuras independentes, porque são pessoas que não são criminosos e estão precisando encontrar novas formas de viver a vida deles, de trazer algum tipo de mobilidade na vida deles", explica Sonia Guggisberg.

O longa já foi exibido em cerca de 20 festivais. "Estou muito feliz de ver a resposta do documentário, e estar na abertura do FESTin é maravilhoso", afirma. "É uma forma de ampliar os olhares sobre tudo isso. São discussões que precisam ser faladas, que precisam ser sentidas. É um filme em que realmente as emoções não são economizadas", sublinha a autora.  

A 13ª edição do FESTin acontece de 9 a 14 de dezembro, com filmes de Portugal, Brasil, São Tomé e Príncipe e Angola. A cerimônia de abertura contará com uma homenagem ao centenário do escritor José Saramago. A programação de curtas e longas-metragens de diretores lusófonos enfoca temas sensíveis, como a migração, a violência contra a mulher e a ascensão das milícias. Seis filmes foram selecionados para a Mostra Cinema Brasileiro, que neste ano tem curadoria do ator e gestor cultural Antonio Grassi. As premiações do FESTin serão anunciadas no dia 15. 

Paralelamente ao circuito dos festivais, Sonia Guggisberg apresenta, atualmente, uma exposição em São Paulo. A mostra "Silêncio", em cartaz até fevereiro no Centro Maria Antônia, trata de "temas e urgências" que as pessoas têm evitado abordar. "Se vamos falar de minorias, vamos falar sobre a minoria que inclui todas elas juntas, que são as pessoas em situação de refúgio", diz Sonia. "Ali você tem as diferentes etnias, a situação da mulher, a questão sociopolítica, enfim, inúmeras clausuras e camadas de indiferença humana", aponta a artista. 

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