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Saúde em dia

Psiconutrição: como os alimentos podem influenciar a saúde mental

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Como a alimentação ajuda a evitar algumas doenças? Pesquisas mostram que comer bem ajuda a lutar contra a depressão sazonal, o cansaço e até a falta de motivação.

Uma alimentação equilibrada, à base de frutas e legumes e com menos alimentos propensos a causar inflamações, pode prevenir a depressão.
Uma alimentação equilibrada, à base de frutas e legumes e com menos alimentos propensos a causar inflamações, pode prevenir a depressão. © Unsplash-jacopo maia
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Ao longo de sua carreira, o psiquiatra francês Guillaume Fond, que atua no Hospital Universitário de Marselha, no sul da França, constatou que o tratamento com antidepressivos ou psicotrópicos era ineficaz em muitos casos.

Por que essas moléculas não atuavam da mesma maneira no cérebro de alguns pacientes? Essa questão levou o médico francês a descobrir, nos anos 2000, a chamada Psiconutrição – ciência que estuda a influência da alimentação na saúde mental. Ela demonstra como nosso microbiota, micro-organismos que vivem em nossos tecidos e fluidos humanos, principalmente no intestino, influenciam a saúde digestiva, a imunidade e o equilíbrio psíquico.

Os remédios não devem ser deixados de lado para tratar as doenças mentais, explica o especialista, autor do livro "Bien manger pour ne plus déprimer, prendre soin de son intestin pour prendre soin de son cerveau" (Comer bem para não deprimir: como cuidar do seu intestino e do seu cérebro, em tradução livre). Mas, comer direito, incluindo mais frutas e legumes no cardápio, é um aspecto essencial.

“Nos estudos de Psiconutrição, está demonstrado que a alimentação e os complementos alimentares, como o próprio nome diz, complementam a ação dos antidepressivos. A ação dos dois juntos é mais eficaz do que separadamente”, explicou Guillaume Fond ao programa Priorité Santé, da RFI.

O microbiota humano é composto por cerca de dois quilos de bactérias, vírus e fungos, presentes principalmente no intestino. “Nesse mundo dos micróbios, há alguns que são benéficos e nos protegem. Se perdemos uma parte deles – essa é uma das ações dos antibióticos quando agem contra as infecções –, isso nos tonará mais vulneráveis aos micróbios mais agressivos”, explica.

Menos glóbulos brancos

De acordo com o especialista francês, estudos publicados nos anos 80 mostraram que pacientes que desenvolvem depressão clínica têm uma quantidade menor de glóbulos brancos, células que compõem nosso sistema imunológico e nos protegem contra as infecções.

“Sabemos, há cerca de dez anos, que as pessoas com depressão têm um microbiota diferente daquelas que não têm”, ressalta. O psiquiatra observa que essa diferença pode ser comparada a uma alteração da “biodiversidade do microbiota”.

“Da mesma maneira que assistimos à destruição do meio ambiente e da biodiversidade no mundo, assistimos também à destruição das bactérias em nosso intestino. Nós, cientistas, achamos que é isso que nos torna mais vulneráveis às chamadas ‘doenças da civilização’, como o câncer, diabetes ou a obesidade. Podemos acrescentar, nessa lista, a depressão.”

Cortisol torna intestino mais permeável

O psiquiatra francês dá um exemplo de como aquilo que vivemos pode impactar nosso microbiota. Durante a infância, conta, eventos traumáticos podem desregular os mecanismos cerebrais que gerenciam o estresse e a produção do hormônio envolvido nesse processo, o cortisol. Isso fará com que o intestino se torne mais permeável. Esse processo favorecerá a inflamação e o aparecimento de várias doenças, entre elas, a depressão.

Para ajudar o intestino a restabelecer sua permeabilidade, diz o médico, é necessário adotar uma alimentação anti-inflamatória, com mais produtos naturais e menos açúcares de rápida absorção e gorduras saturadas, que o psiquiatra compara a uma “tempestade inflamatória” no intestino.

O especialista também lembra que os probióticos podem ajudar os pacientes depressivos resistentes à medicação. As chamadas "bactérias do bem" são usadas para restabelecer a flora intestinal após uma infecção ou o uso de antibióticos, por exemplo. Mas é preciso apostar, principalmente, na qualidade dos alimentos ingeridos. A alimentação à base de produtos industriais, insiste, não é natural e agride o organismo. “A alimentação moderna, com produtos transformados, altera a permeabilidade do intestino”, reitera.

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