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Saúde em dia

Aditivos alteram flora intestinal e podem desencadear doenças, mostra pesquisa

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As substâncias adicionadas nos pratos industriais podem alterar o funcionamento de bactérias inofensivas que compõem o microbiota intestinal.

Imagem do microbiota publicada no livro "O Charme Discreto do Intestino"
Imagem do microbiota publicada no livro "O Charme Discreto do Intestino" ©SolStock / E+ / Getty images
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A maneira como nos alimentamos é importante para preservar a saúde, mas crucial para pessoas predispostas geneticamente a desenvolver doenças inflamatórias intestinais graves como a síndrome de Crohn. A patologia pode gerar sérias complicações, incluindo o câncer.

O número de casos dessa e de outras doenças cresceu nas últimas décadas, o que levam os cientistas a crer que o consumo dos alimentos industriais estaria relacionado a esse aumento.

É o que mostra um estudo publicado na revista científica Cell Reports, coordenado pelo pesquisador francês Benoît Chassaing. Sua equipe do Instituto Cochin, em Paris, se dedica ao estudo do impacto no organismo dos aditivos usados massivamente pela indústria agroalimentar para conservar a textura dos produtos e conservá-los melhor.

Os pesquisadores franceses analisaram principalmente o efeito do polissorbato (P80) e da carmelose (CMC). Em estudos anteriores, feitos com camundongos, eles já haviam constatado que esses aditivos favoreciam a inflamação intestinal, que podia se manifestar de várias maneiras. Os animais com predisposição genética desenvolveram colites, mas o grupo geneticamente normal também apresentou sintomas intestinais leves Alguns dos camundongos também desenvolveram diabetes do tipo 2 ou obesidade.

Mapa da flora intestinal

Com base nesses dados, o pesquisador francês e sua equipe iniciaram um estudo para entender melhor os mecanismos internos que geravam essas inflamações. Para isso, foi necessária uma análise aprofundada da reação da flora intestinal, ou seja, de todas as bactérias que compõem nosso intestino e que são alvo desses aditivos. “Sabíamos que elas tinham um papel importante nesse processo inflamatório”, diz Chassaing.

Em seguida, os pesquisadores identificaram quais eram as bactérias da flora intestinal dos camundongos mais afetadas pelos aditivos . Uma delas foi a Escherichia coli, comum no trato gastrointestinal. Algumas de suas variantes, explica Chassaing, podem se tornar patogênicas.

“O que pudemos demonstrar é que essas bactérias, na presença desses aditivos alimentares, reagiam de maneira mais agressiva e se tornavam mais infecciosas e inflamatórias”, explica. “Este é só um exemplo. Provavelmente existem outras bactérias desse tipo, que ainda estamos identificando”, acrescenta.

Segundo ele, o estudo sugere que as pessoas que têm esse tipo de bactéria com potencial patogênico no intestino deveriam banir o consumo dos dois emulsionantes.

Poucos aditivos são inofensivos

Com base nessas conclusões e para aprofundar ainda mais a pesquisa, a equipe analisou em seguida o efeito de 20 outros aditivos alimentares. A maioria deles, explica, tinha o mesmo efeito no intestino do que as outras substâncias. Poucos eram inofensivos. “O interesse dessa descoberta é o de supor que podemos favorecer o uso desses aditivos pela indústria agroalimentar e tentar proibir a utilização dos agentes com efeitos mais negativos no microbiota”.

Essa precaução poderia evitar doenças em indivíduos predispostos. Hoje, os cientistas sabem que os genes podem ser ativados ou não em função da exposição a fatores ambientais.

“O que mostramos no estudo, e que é realmente interessante, é que mesmo sem predisposição genética, existe o desenvolvimento de uma inflamação intestinal em camundongos selvagens se seus intestinos forem colonizados com essa bactéria patogênica, e se ela for exposta a esses aditivos. ”

O pesquisador francês lembra que, sem predisposição, a inflamação é leve, mas afeta o metabolismo. “A maioria das pessoas não tem tendência genética para desenvolver uma inflamação intestinal, mas mesmo nelas podemos constatar o surgimento de diabetes do tipo 2 e de obesidade”.

Os cientistas, explica o pesquisador, também estão em busca de moléculas para prevenir ou inibir a inflamação intestinal. Os probióticos são uma boa pista, mas agora é preciso entender porque essas bactérias intestinais do bem são eficazes para algumas pessoas e outras não.

 

 

 

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