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França/economia

Estudantes mineiros faturam prêmio de inovação do setor automobilístico

Os estudantes mineiros Alexandre Marques Bemquerer e Ana Carla Sá Campos receberam nesta sexta-feira, em Paris, o prêmio internacional de inovação promovido pela empresa do setor automotivo Valeo. A dupla brasileira conquistou o primeiro lugar ao desenvolver um novo conceito de CVT, um tipo de marcha automática dos carros. No total, foram apresentados trabalhos de mais de mil equipes de 55 países.

Os estudantes Ana Carla e Alexandre (à esq.) recebem o prêmio de inovação automotiva da Valeo no Salão do Automóvel, em Paris.
Os estudantes Ana Carla e Alexandre (à esq.) recebem o prêmio de inovação automotiva da Valeo no Salão do Automóvel, em Paris. Foto: Valeo/twitter
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A entrega do prêmio e do cheque de €100 mil (R$316 mil) foi feita durante um evento no Salão do Automóvel de Paris, um dia depois da apresentação dos trabalhos dos seis finalistas do concurso a um júri formado por 20 especialistas.

Alexandre e Ana Carla não puderam trazer o protótipo desenvolvido por causa do peso, mas usaram imagens de vídeo para explicar o desenvolvimento de um novo conceito de CVT (Continuously Variable Transmission), uma marcha automática que existe desde os anos 60 e que difere das marchas manuais por não possuir engrenagens.

“Todas as CVTs que existem até hoje são muito limitadas, ora por problema de atrito ou pela capacidade de torque. Nós desenvolvemos um novo sistema de bomba hidráulica que permite a criação de CVTs hidráulicas e que consegue resolver todos os problemas que existem atualmente”, contou Alexandre, em entrevista à Rádio França Internacional, após receber o prêmio.

“A vantagem é que todo carro poderia receber um câmbio automático, com preço muito baixo. Ao mesmo tempo, é um câmbio que consegue se adaptar. Se você precisar que ele dê um melhor torque, ele vai dar, se você precisar de um melhor rendimento, ele vai dar um melhor rendimento. É um câmbio automático totalmente eletrônico, que se adapta à situação que o carro estiver passando”, explica.

Ao comunicar a escolha do projeto vencedor, a Valeo ressaltou que o trabalho foi premiado pela proposta de reinventar a transmissão mecânica. Segundo a empresa, a inovação apresentada pela equipe brasileira "permite uma adaptação automática e contínua das marchas à velocidade de rotação do motor", com economia de consumo de combustível e redução de emissão de CO2 na atmosfera.

Sem ver os jogos da Copa

O caminho para vencer o Innovation Challenge (Desafio da Inovação) da gigante do setor automobilístico Valeo foi longo. Alexandre, de 25 anos, que estuda Engenharia Mecânica na Universidade Federal de Minas Gerais, concebeu o projeto em outubro de 2013. O período de desenvolvimento foi de três meses, considerado rápido.

Antes mesmo de patentear o trabalho, Alexandre e Ana Carla encontraram no concurso internacional uma oportunidade para divulgar e encontrar um parceiro para levar o projeto adiante. A passagem para a segunda etapa do concurso, que selecionou 20 trabalhos, rendeu € 5 mil (R$15,5 mil), o que permitiu a elaboração de um protótipo e a correção de alguns detalhes da proposta original

A ideia de participar do prêmio foi de conseguir desenvolver sua ideia que Alexandre mesmo considera ambiciosa. “Trabalhamos na área de transmissão, uma área dificílima de gerar alguma inovação. Pouquíssimas pessoas se arriscariam a trabalhar nisso. Trabalhamos muitas horas, nos dedicamos muito porque tínhamos muita confiança”, lembrou.

O projeto exigiu muita dedicação da dupla que abriu mão do tempo livre para tirar do papel a proposta e desenvolver o modelo. “Deixe de assistir jogos do Brasil na Copa para trabalhar durante as férias. Como ainda não havia concluído no reinício das aulas, tive que conciliar a faculdade com o projeto”, lembrou Alexandre. “Trabalhamos no limite o tempo todo”, disse.

Formada em tecnologia da administração e pós-graduanda na área ambiental, Ana Carla, de 26 anos, foi a grande responsável pela organização e a parte burocrática do projeto, sobretudo para respeitar os prazos.

“O projeto foi bem estruturado, com todos os dados e informações. Foi muito ousado porque o Alexandre não teve tutor, desenvolveu tudo sozinho. O prêmio foi merecido pela precisão, técnica e pela construção”, diz..

Expectativas para o futuro

A conquista do prêmio reforça a intenção de Alexandre em viabilizar sua proposta pensada para o mercado. “O projeto foi desenvolvido para ser produzido em grande escala. E o modelo é muito barato de produzir. Ele é muito mais fácil de produzir do que um câmbio manual”, garante Alexandre.

A dupla espera uma sinalização que poderá vir da própria empresa criadora do Prêmio de inovação para levar o projeto adiante. “Minha ideia é fazer uma parceria com eles. E a impressão que me passaram é que eles estão dispostos a trabalhar no projeto”.

Alexandre acredita que se a parceira vingar, em dois anos os primeiros protótipos com o CVT hidráulico já poderiam ser testados em carros e, se tudo der certo, em cinco anos, a produção já seria viável.

“O que a gente quer mesmo é conseguir continuar trabalhando no projeto e ver isso rodando em um carro. Quando eu vir um carro rodando e dirigi-lo, poderei dizer que me sinto satisfeito”, acrescentou. “Não temos intenção de parar, não”, concluiu.

 

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