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Brasil

"Petrobras simboliza todos os males do Brasil", diz Le Monde

A corrupção e os maus resultados do balanço da Petrobras são tema de duas reportagens na grande imprensa francesa nesta quinta-feira (29). O diário econômico Les Echos diz que o Brasil “se afunda no escândalo”, enquanto o verspertino Le Monde, em uma chamada de capa, afirma que “a Petrobras simboliza todos os males do Brasil”.

"Petrobras: história de um escândalo que faz o Brasil tremer", diz Le Monde.
"Petrobras: história de um escândalo que faz o Brasil tremer", diz Le Monde. Reprodução
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Ilustrada com uma foto da presidente Dilma Rousseff levando aos mãos ao rosto, o artigo do correspondente no Rio de Janeiro afirma que a multinacional pagou propinas durante 10 anos, “principalmente para a coalizão que está no poder”, notadamente o PT, o PMDB e o PP. “Nenhum grupo industrial personificou tanto a ascensão do Brasil, e nenhum se viu no coração de um escândalo. Atingido pela revelação de um sistema de corrupção e de propinas generalizado, o gigante petroleiro se tornou em alguns meses o símbolo de todos os males do Brasil”, afirma o repórter Nicolas Bourcier.

O artigo de página inteira faz um resumo da trajetória da empresa nos últimos anos, a partir do seu auge, no final dos anos 2000, com a descoberta do pré-sal – quando a presidente Dilma Rousseff chegou a afirmar que “Deus era brasileiro” –, até o atual estado, com a divulgação de um balanço, na última quarta-feira (28), revelando a deterioração das contas da empresa. O balanço omite os custos da corrupção e não contou com auditoria da consultoria PwC, que se recusou a avalizar o documento.

O Le Monde reproduz os três cenários possíveis para o futuro da empresa elencados pela revista brasileira Exame. No cenário otimista, o preço do barril do petróleo sobe, a empresa reconhece a corrupção e suas ações sobem 60%. No cenário intermediário, o preço sobe menos, o ritmo das construções de plataformas diminui, mas a produção de petróleo aumenta. No cenário pessimista, o valor do barril se aproxima dos US$ 75 e a empresa precisará pagar uma multa de R$ 340 milhões, contando com o BNDES para se salvar. “O risco de um desmantelamento da empresa ou de uma divisão das atividades com vistas em uma privatização parcial é evocado”, diz o Le Monde.

Les Echos: "Brasil afunda"

A publicação do balanço financeiro do terceiro trimestre de 2014 da Petrobras ganhou destaque no diário econômico francês Les Echos, que não poupa críticas à situação da empresa e suas repercussões para a imagem do país. O escândalo é revelador do nível de corrupção praticado no Brasil, diz o texto da reportagem publicada na edição desta quinta-feira (29).

"O Brasil se afunda no escândalo político financeiro da Petrobras" é o título de uma reportagem ilustrada com uma foto da presidente Dilma Rousseff e da presidente da Petrobras, Graça Foster, vestidas com o macacão da empresa durante a campanha presidencial, em setembro do ano passado.

“Foi durante a noite, quase na clandestinidade que o gigante brasileiro do petróleo publicou seu balanço... do terceiro trimestre de 2014!”, exclama o jornal, lembrando que a divulgação dos dados era aguardada desde novembro e havia sido adiada duas vezes.

No entanto, o balanço ainda é oficioso porque ainda não passou pelo crivo de auditores externos, informa o jornal. A presidente da empresa admitiu que ainda não é possível avaliar com precisão a extensão dos estragos provocados pela corrupção e sua depreciação nos ativos da empresa.

E não foi por falta de procurar, ironiza Les Echos. Os especialistas adotaram um método que identificou um buraco de R$61,4 bilhões, mas a empresa preferiu usar as regras e exigências das comissões de regulação das bolsas de valores do Brasil e dos Estados Unidos para exibir dados mais confiáveis. Nada disso deu garantias e resgatou a confiança dos investidores, constata o artigo.

O choque na Bolsa de São Paulo foi tão violento que o anúncio de que o lucro líquido da Petrobras caiu 38% em relação ao segundo trimestre do ano, e registrou queda de 9% na comparação com o terceiro trimestre de 2013, quase passou despercebido.

Situação desconfortável

Apesar do otimismo apresentado por Graça Foster com a chegada do executivo João Elek para pilotar o comitê de Governança, Risco e Conformidade da empresa, a situação atual da Petrobras não é nada confortável.

“Sem balanço oficial e muito endividada, a Petrobras não tem mais acesso aos mercados financeiros”, lembra Les Echos, que cita ainda o impacto negativo sobre os planos de investimentos e o abandono de vários projetos como a construção polêmica de duas refinarias.

Les Echos também destaca o pedido da presidente Dilma Roussef para que os envolvidos no escândalo de corrupção sejam punidos, “mas sem que a empresa saia prejudicada”. Descoberto há pouco menos de um ano, o escândalo da Petrobras continua provocando estragos e sua extensão se amplia a cada dia, enfraquecendo a maior empresa do país. “O caso Petrobras é revelador do alto grau da corrupção que persiste no Brasil”, afirma Les Echos.

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