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Planeta Verde

Corrupção em Belo Monte pode se repetir em nova usina na Amazônia

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A notícia de que a construção da hidrelétrica de Belo Monte ocorreu em meio a um vasto esquema de corrupção provocou ainda mais revolta naqueles que sempre contestaram o megaprojeto, seja pelos impactos ambientais, seja pelos sociais, em pleno coração da Amazônia. O precedente revelado pela operação Lava Jato na usina no rio Xingu chama a atenção para outro gigantesco projeto, a hidrelétrica de São Luiz de Tapajós, que está em fase de licenciamento.

A “Pérola do Tapajós”, como é conhecida, conta com mais de 100 quilômetros de praias de água doce.
A “Pérola do Tapajós”, como é conhecida, conta com mais de 100 quilômetros de praias de água doce. Cristiano Martins/ AG. Pará
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O plano é a menina dos olhos do governo federal no oeste do Pará: construir pelo menos 40 barragens em um dos últimos grandes rios amazônicos livres de represas. A maior delas, a de São Luiz, tem capacidade média de geração prevista de 8.040 MW, semelhante a Belo Monte.

As similaridades não param aqui: como a prima do Xingu, a futura usina no Tapajós é cercada de controvérsias, como o risco de atingir em cheio uma região habitada pelos índios mundurukus, que vivem a 20 quilômetros do local previsto para a instalação. Há uma década, eles reivindicam a demarcação das suas terras, um processo que se encontra parado porque, segundo organizações ambientais, poder comprometer o futuro do projeto energético.

Índios mundurukus em suas terras, que ficam a cerca de 40 minutos a pé do rio Tapajós, em Itaituba, no Pará. 28 de outubro de 2014.
Índios mundurukus em suas terras, que ficam a cerca de 40 minutos a pé do rio Tapajós, em Itaituba, no Pará. 28 de outubro de 2014. BARBOSA ANDERSON BARBOSA / AFP

Em um relatório publicado nesta quarta-feira (13), a organização Greenpeace observa que algumas das companhias interessadas na construção estão diretamente envolvidas no escândalo de Belo Monte. O diretor da Campanha Amazônia da entidade, Danicley de Aguiar, respeita a presunção de inocência das empresas, mas afirma que é difícil não ficar com dúvidas sobre as verdadeiras motivações da nova instalação.

“Entre as empresas envolvidas no pedido de licenciamento de São Luiz de Tapajós, quase 90% são investigadas pela operação Lava Jato. São os mesmos caras investigados por crimes no âmbito da Petrobras, de Angra 3, de Belo Monte”, afirma. “Todas essas grandes construtoras estão envolvidas nesse processo de construção de hidrelétricas na Amazônia, e não só elas. Encontramos grandes empresas que produzem equipamentos para geração e transmissão, ou a Alstom, que estava envolvida nos casos de corrupção do metrô de São Paulo.”

Usina “desnecessária”

No estudo, o Greenpeace contesta a necessidade de construção de mais usinas. A organização afirma que, com um planejamento verdadeiramente sustentável, seria possível gerar a mesma energia por outras fontes renováveis, como eólica, solar e de biomassa. O projeto de São Luiz de Tapajós simboliza a consolidação das hidrelétricas na Amazônia como a fonte de abastecimento energético para o restante do país.

“Quando o governo forçou a construção de Jirau e Santo Antônio, no rio Madeira, e Belo Monte, no rio Xingu, a despeito de todas as críticas dos movimentos sociais, organizações ambientalistas e até dos próprios técnicos do Ibama, ficou evidente que o governo havia tomado a decisão de fazer, a qualquer preço, essas hidrelétricas. Para nós, foi surpreendente que, mesmo antes de finalizar a construção de Belo Monte, o governo já abrisse um processo de licenciamento para uma hidrelétrica ainda maior, a de São Luiz de Tapajós”, lamenta o integrante da organização.

Canteiro de obras da usina de Belo Monte, em 2013
Canteiro de obras da usina de Belo Monte, em 2013 Regina Santos/ Norte Energia

“Essa política de construção de hidrelétricas na Amazônia está consolidada pelo Estado brasileiro – não é nem apenas uma questão de um governo, já que o Congresso também tem esse entendimento de que é possível ter energia em larga escala e barata, para estimular um suposto desenvolvimento”, constata. 

Falsa promessa de desenvolvimento regional

Um dos problemas, adverte Aguiar, é que, até hoje, a região não desfruta do prometido desenvolvimento. Ele vive há 40 anos na Amazônia e não acredita mais nessa promessa, que costuma servir de argumento para a realização de mais obras.

“Quem mora na Amazônia sempre vive uma eterna espera pelo desenvolvimento, que sempre foi apregoado pelo estado brasileiro e as classes dominantes e empresariais, como se fosse ocorrer com as hidrelétricas, a construção de estradas e uma série de grandes projetos para a Amazônia. Mas eu sou a prova viva de que isso não ocorreu, nem vai ocorrer”, relata.

Cacique-geral Arnaldo Kaba Munduruku e Danicley de Aguiar, da Campanha da Amazônia do Greenpeace, seguram faixa em protesto à construção de hidrelétricas no rio Tapajós.
Cacique-geral Arnaldo Kaba Munduruku e Danicley de Aguiar, da Campanha da Amazônia do Greenpeace, seguram faixa em protesto à construção de hidrelétricas no rio Tapajós. ©Greenpeace

Há dois anos, o Ibama (Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) fez uma análise sobre o projeto no Tapajós e estabeleceu 180 pontos a serem esclarecidos, como a possibilidade de contaminação do rio por mercúrio. Até hoje, esses questionamentos não foram elucidados, o que provoca a paralisação do projeto. O custo da hidrelétrica de São Luiz é estimado em US$ 30 bilhões.

 

 

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