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Brasil/ imprensa internacional

Impeachment “a qualquer custo” é dar “marretadas na democracia”, diz Independent

A imprensa europeia acompanha de perto a votação do processo de impeachment da presidente brasileira na Câmara dos Deputados neste domingo (17). O jornal britânico The Independent afirma que, “qualquer que seja o destino de Dilma Rousseff, o Brasil “perdeu mais uma chance de acabar com a corrupção”.

Na sessão de votação do impeachment na Câmara, deputado denuncia "golpe" contra a presidente Dilma Rousseff.
Na sessão de votação do impeachment na Câmara, deputado denuncia "golpe" contra a presidente Dilma Rousseff. REUTERS/Ueslei Marcelino
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“A verdadeira tragédia por trás da saga do impeachment no Brasil é que uma oportunidade para um progresso genuíno terá sido perdida para a avareza e o ego”, constata o diário.

Independent diz que o dia que “muitos brasileiros esperavam” chegou e, neste domingo, dois terços da Câmara devem votar a favor da saída de Dilma Rousseff do poder. O jornal explica por que a presidente é alvo do processo e observa que, “infelizmente para Rousseff, se ela é ou não culpada das pedaladas e se o impeachment é ou não a punição adequada para tais crimes, é o que menos importa”. “A guerra política civil do Brasil se estende sobre um campo de batalha muito mais amplo”, verifica o diário.

O texto observa que, durante os debates parlamentares para discutir a instauração do processo de impeachment, ficou claro que a incompetência do governo da petista para enfrentar a crise econômica é a razão extraoficial para mover o processo de destituição da presidente. A reportagem observa que, nas pesquisas de opinião, mais de 60% dos brasileiros se declaram favoráveis à destituição, mas apenas 16% respondem corretamente à pergunta sobre por que ela poderá ser afastada. Muitos alegam, afirma o texto, que os motivos oficiais não têm importância, na medida em que a popularidade da presidente despencou.

“Mas eles estão enganados. As razões para depor um governo importam, e muito – especialmente em um país como o Brasil, que ainda vive à sombra de uma ditadura militar, entre 1964 e 1985”, escreve o jornalista James Young. “Ao pedir impeachment a qualquer custo, os políticos dão uma marretada nos conceitos básicos da democracia, decência e de um processo adequado. Num momento em que o Brasil deveria estar comemorando os efeitos de limpeza de esforços anti-corrupção, o debate se transformou em um venenoso Fla-Flu.”

“Os caçadores são tão degradados quanto a caça”, afirma jornal

O texto discorre sobre o papel do juiz Sérgio Moro, que se transformou em um “herói” nacional e um símbolo da luta contra a corrupção, mas derrapou em abusos que podem ter sido inconstitucionais, como a divulgação da ligação telefônica entre o ex-presidente Lula e a presidente Dilma Rousseff. “O Judiciário brasileiro provou ser incapaz de aderir a seus próprios padrões elevados, cometendo uma série de erros aparentemente partidários”, afirma Independent, que ainda lembra que a mídia brasileira teve uma atuação partidária em favor da destituição da presidente.

A reportagem relata os números da organização Transparência Internacional, segundo a qual 60% dos parlamentares brasileiros são réus em diferentes processos, incluindo homicídio. “Essa é a verdadeira tragédia que está por trás da saga do impeachment no Brasil: os caçadores são tão degradados quanto a caça; o ruim pode ser substituído pelo pior”, constata o jornal.

 

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