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Brasil-Mundo

Cerca de quatro mil brasileiros vivem em territórios palestinos

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Chegar à cidade de Mazraa Sharqyia é como passar em qualquer outra cidade típica palestina: muitas mesquitas, casas com acabamentos em pedra branca e praças espaçosas. Até que, pelas ruas, no lugar da saudação muçulmana "Salam Aleiqum", alguém usa um "tudo bem?" para cumprimentar. É que em Mazraa Sharqyia moram aproximadamente 500 dos 4 mil brasileiros que vivem nos territórios palestinos, áreas que incluem a Cisjordânia e a Faixa de Gaza.

Ruayda Rabah (esquerda), conversando com Najat, duas brasileiras palestinas.
Ruayda Rabah (esquerda), conversando com Najat, duas brasileiras palestinas. Richard Furst/RFI
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Richard Furst, correspondente da RFI

Para completar o trio das cidades palestinas-brasileiras, ao lado de Mazraa Sharqyia estão Betunia e Silwad. Os três municípios ficam a 15 quilômetros um do outro, todos nas proximidades de Ramala, a atual capital palestina. Nessas cidades, as comunidades de brasileiros s​e tornam verdadeiras cidades dentro de municípios palestinos. Não é incomum encontrar gente falando português com sotaque árabe ou árabe com sotaque português.

Língua portuguesa não é desconhecida

Em um destes oásis brasileiros vive a família de Ruayda Rabah. Ela conta que apesar do grande abismo entre a cultura tropical e os costumes muçulmanos, alguns hábitos brasileiros são mantidos aqui. A língua portuguesa já até deixou de ser um grande segredo. "Quando você fala português atualmente na Palestina, você encontra muitas pessoas ao seu redor que entendem. Então, hoje a língua portuguesa já não é desconhecida", diz.

Formada em História, Ruayda trabalha no comércio de granito com o marido e é mãe de três filhos. A maioria dos brasileiros que vieram parar aqui são casos semelhantes aos de Ruayda. Ela nasceu em Maringá, interior do Paraná, onde aprendeu as primeiras palavras em árabe. Filha de palestinos comerciantes, Ruayda resolveu buscar as origens e migrou para a Cisjordânia. Ela mora ao lado de outras duas casas de brasileiros.

E os brasileiros-palestinos não escapam das dificuldades que a região enfrenta: as rodovias ao redor das cidades são praticamente exclusivas para ligar Israel aos assentamentos judaicos, há controles militares israelenses pelas estradas e a ponta dos morros estão tomadas por antenas e bases do sistema de segurança de Israel.

"Minha vontade hoje era de ter um Estado palestino livre, que pudéssemos ir e voltar do Brasil quando quiséssemos. E que nossos familiares pudessem nos visitar mais frequentemente", desabafa Ruayda. Ela explica que a viagem de brasileiros aos territórios palestinos nem sempre é autorizada por Tel Aviv. "O governo de Israel impede a entrada de brasileiros que se posicionam contra a ocupação israelense", esclarece.

Farofa e feijoada, mas sem carne de porco

Apesar das tristezas, os brasileiros tentam sempre encontrar um motivo para fazer feijoada e farofa, mas sem usar carne de porco, que é proibida pela lei islâmica. Os ingredientes vêm do Brasil: dentro na mala das visitas sempre há farinha de mandioca, feijão e polvilho para pão de queijo.

É apenas por meio de quem vem visitar que os brasileiros-palestinos conseguem fazer com que Mazraa Sharqiya respire um pouco do ar do Brasil. Há um mês, a comunidade conseguiu um espaço na rádio local para transmitir uma programação voltada à população originária do Brasil.

Brasileiros muçulmanos

Todos os brasileiros que vivem aqui são muçulmanos e mesmo assim eles celebram Natal sem deixar de usar roupas tradicionais do islamismo, como o véu. Bebidas alcólicas são proibidas para os mais religiosos, mas entre Betunia e Mazraa Sharqiya a medida não é levada tão a sério. Silwad segue a linha um pouco mais conservadora.

Devido à quantidade de brasileiros, os prefeitos até arriscam falar em português. E as aulas de língua portuguesa se tornaram uma sensação entre os jovens palestinos. Muitos conseguiram aprender o idioma e já até viajaram ao Brasil.

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