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Planeta Verde

Suspensão de hidrelétrica no Tapajós pode ser apenas temporária

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Os índios mundurukus ganharam o maior presente que poderiam esperar nos últimos anos: neste Dia Internacional dos Povos Indígenas, comemorado em 9 de agosto, o governo brasileiro abandonou, ao menos temporariamente, o projeto de construção da usina hidrelétrica de São Luiz do Tapajós, no Pará. O projeto alagaria o território indígena e forçaria a remoção de três aldeias, contrariando a Constituição.

Índios Mundurukus moram nas margens do rio Tapajós, e três aldeias seriam diretamente afetadas pela construção da hidrelétrica de São Luiz.
Índios Mundurukus moram nas margens do rio Tapajós, e três aldeias seriam diretamente afetadas pela construção da hidrelétrica de São Luiz. Cristiano Martins/ AG. Pará
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A decisão do governo federal veio depois de o Ibama (Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) arquivar o pedido de licenciamento ambiental da obra. O órgão concordou com uma recomendação do Ministério Público Federal e acatou os pareceres da Funai (Fundação Nacional do Índio) e do próprio Ibama, que consideraram falhos os relatórios de impacto ambiental do projeto, previsto para ser realizado em uma área preservada da Amazônia.

Líderes munduruku percorreram o mundo para alertar sobre os riscos da hidrelétrica. A organização internacional Greenpeace, a maior aliada desta etnia indígena, comemora a decisão da suspensão, mas alerta que “a luta continua”: no total, são 42 projetos de usinas a serem construídas na bacia deste rio amazônico.

“A hidrelétrica de Tapajós oferece um risco extremo à conservação da biodiversidade no rio Tapajós e riscos ao modo de vida do povo munduruku. A campanha vai continuar apoiando o povo munduruku para tentar sensibilizar o povo e o governo brasileiro de que a construção de hidrelétricas na Amazônia é um mau negócio para o Brasil e o mundo”, afirma o diretor da Campanha Amazônia da entidade, Danicley de Aguiar, que está em Londres com líderes da etnia para se encontrar com representantes da fabricante Siemens, que participaria do projeto. O objetivo é convencer a companhia a desistir definitivamente do plano.

“Irmã” de Belo Monte integra vasto plano do governo federal na Amazônia

O projeto de construção da usina no Tapajós, porém, não foi enterrado. O Ministério de Minas e Energia ressaltou que “o potencial energético” do local foi verificado e a hidrelétrica, a maior de um vasto plano de usinas na região, ainda pode vir a ser construída no futuro. A Eletrobrás, responsável pela obra, pode pedir uma nova licença para a construção.

A expectativa é de que usina de São Luiz de Tapajós geraria 8.040 Mw por ano, semelhante ao que produz Belo Monte, outro controverso projeto sob o ponto de vista ambiental. A questão, agora, é como substituir o aporte energético que viria na hidrelétrica suspensa.

Nivalde de Castro, coordenador do Grupo de Estudos do Setor de Energia Elétrica, da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), não tem dúvidas de que, cedo ou tarde, a construção será retomada para suprir a demanda energética que vai voltar a crescer, quando o Brasil sair da recessão.

“Não tem a menor dúvida de que a decisão é temporária, porque o potencial hidrelétrico está lá. No futuro, quando a economia voltar a crescer e você observar que as outras fontes vão ficar mais caras, não haverá alternativa”, explica. “O custo das eólicas tende a subir, porque já estamos aproveitando as regiões onde a energia eólica é mais eficiente. Com a solar, vai acontecer a mesma coisa.”

Outras renováveis não teriam a mesma eficiência, diz especialista

Castro defende que o país invista cada vez mais em diversificação energética com fontes renováveis, mas avalia que nem a energia eólica nem a solar apresentam a mesma eficiência das hidrelétricas, além de não oferecerem a mesma previsibilidade.

“Qualquer usina hidrelétrica, para qualquer país do mundo, é muito importante. Ela gera uma energia que, em relação às outras fontes, é a mais barata, a mais sustentável e a mais renovável de todas, afinal ela vai funcionar mais de 50 anos. O problema dela é o impacto ambiental e econômico”, constata o economista. “Por isso, é necessário considerar os custos de compensação para as populações atingidas na construção da usina.”

O especialista observa que São Luiz de Tapajós atenderia cerca de 15% da demanda nacional de energia elétrica. Por enquanto, em função da crise econômica, da ampliação da oferta de outras usinas que foram concluídas e da entrada em funcionamento de Belo Monte e do parque eólico do nordeste, o país não deve ter problemas de abastecimento, na avaliação de Castro.
 

 

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