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Impeachment/Dilma

Presença de Dilma no Senado não deve alterar placar pró-impeachment

A presença da presidente Dilma Rousseff nesta segunda-feira (29) no Senado para se defender das acusações de ter cometido crimes de responsabilidade fiscal terá pouco efeito no placar final do impeachment. Esta é a opinião dos senadores que já declararam seu voto pela saída definitiva da chefe de Estado do cargo, mas os aliados da presidente prometem lutar até o último minuto para evitar sua destituição.

A presidente Dilma Rousseff,no Paládio da Alvorada, neste domingo, 28/08/16.
A presidente Dilma Rousseff,no Paládio da Alvorada, neste domingo, 28/08/16. REUTERS/Ueslei Marcelino
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Do enviado especial a Brasília,

A primeira fase do processo de julgamento foi concluída no sábado (27), após os últimos depoimentos de um total de sete testemunhas e informantes. Os senadores da base aliada do presidente interino Michel Temer percorriam os corredores do Senado Federal anunciando uma contabilidade que consideram como certa para a aprovação do impeachment.

01:47

de Brasília, Elcio Ramalho

Líder do PSDB na Casa, o senador paraibano Cássio Cunha Lima tinha poucas dúvidas sobre o placar final da votação, que deve acontecer entre terça ou quarta-feira, segundo indicações dos próprios parlamentares e do presidente do Supremo Tribunal Federal, Ricardo Lewandowski, no comando da sessão transformada em um tribunal político.

A presença da presidente Dilma Rousseff nesta segunda-feira, a partir das 9h, no Senado, para se defender das acusações de crime de responsabilidade, não deve alterar a convicção de muitos senadores abertamente favoráveis ao seu afastamento.

“Particularmente, eu não acredito que mudará nada porque ela não terá o poder de mudar os fatos. Os crimes já ocorreram e as consequências desses crimes são muito graves, foram extremamente danosas”, afirmou Cunha Lima, citando o aumento do números de desempregados no Brasil, a alta da inflação e a queda do poder de compra da população.

Segundo a Constituição, para que a presidente seja afastada, é necessário o sinal verde de, no mínimo, dois terços do total de 81 senadores, ou seja, 54 votos.

“O placar mais provável é um resultado de 60 votos favoráveis ao parecer do senador Anastasia, considerando-se que o presidente (do Senado) Renan Calheiros não vote. E, consequentemente, 20 votos contrários. Mas há expectativas que podemos ter, talvez, 61 ou 62 votos favoráveis”, estimou.

“Nas últimas horas, os prognósticos estão aumentando. Estamos chegando em 61 (votos)”, declarou o senador Ronaldo Caiado (DEM-GO), antes mesmo do último depoente, o professor de Direito da UERJ, Ricardo Lodi de Oliveira, ter finalizado seus esclarecimentos.

O senador Antonio Anastasia (PSDB-MG), relator da Comissão Especial do Impeachment, esquivou-se de comentar o placar alardeado pela base governista.“Eu jamais fiz qualquer prognóstico, em qualquer das fases. Vou continuar me reservando, até em respeito a todos os senadores”, afirmou à Rádio França Internacional.

Jogo de cartas marcadas?

A convicção de muitos senadores anti-Dilma reforça a percepção de muitos analistas e participantes do processo de que o julgamento não passa de um jogo de cartas marcadas. No entanto, os aliados da presidente petista prometem não desistir e mantêm esperanças de que a presença de Dilma Rousseff possa reverter a opinião de alguns parlamentares supostamente indecisos. “Mesmo reconhecendo que há uma espécie de jogo de cartas marcadas, acho prudente não afirmar isso agora. Basta que seis ou sete senadores decidam até terça ou quarta-feira cumprir a Constituição para não termos mais o impeachment”, calculou o senador Jorge Viana (PT-AC)

“O certo é que eles têm uma ampla maioria, mas nós precisamos de um número pequeno, de 28 votos, de 81, que não é tão grande. Mesmo esses 28 votos nos são caros, não é simples. Mas eu quero acreditar que existe a possibilidade”, acrescentou. “Vamos continuar trabalhando até o último minuto, incansavelmente. Não perdemos as esperanças de maneira nenhuma”, declarou a senadora Fátima Bezerra (PT-RN).

Repercussão na imprensa

Durante o último dia de depoimentos, os senadores aliados da presidente, como Jorge Vianna e Lindbergh Farias, apresentaram durante suas intervenções uma defesa do editorial publicado pelo jornal Le Monde criticando severamente o julgamento do impeachment da presidente Dilma.

“O editorial faz uma correta leitura do que o Brasil está vivendo, quando diz que ou é um golpe ou é uma farsa, no mínimo. E o pior, quem vai sofrer mais é o povo brasileiro”, afirmou o senador Vianna, que trouxe o artigo para o plenário do Senado. “Ele (o jornal) denuncia que está se fazendo no Brasil o uso de decretos da Constituição sem materializar o crime de responsabilidade”, acrescentou.

O editorial do Le Monde, segundo o senador do Acre, apontou erros do governo da presidente Dilma que devem ser assumidos pelos petistas, como o isolamento político e erros da condução da política econômica. “Nós perdemos a capacidade de nos comunicarmos com a sociedade, traduzindo que, em decorrência de uma crise econômica internacional, o Brasil também precisaria passar por sacrifícios”, afirmou. “A presidente Dilma ganhou a eleição e perdemos a capacidade de pacificar o país, que seguiu dividido como se a eleição não tivesse acabado”, continuou.

“Nosso gesto, como os que ganharam, teria que ser procurar adversários, tentar estabelecer algum pacto para o Brasil, enfrentar a crise econômica que vivíamos. Não fizemos isso  e por conta da intolerância das oposições e por um plano arquitetado pelo sr. Eduardo Cunha, nós tivemos disparado o impeachment”, disse.

As referências às críticas da imprensa estrangeira feitas durante os debates irritaram muitos senadores pró-impeachment. “A crítica está dentro do direito da liberdade de imprensa internacional. Não significa dizer que o Le Monde, que o The New York Times são donos da verdade. É a opinião editorial do jornal. Nós respeitamos, mas, nesse caso, eles estão equivocados. Nós, brasileiros, conhecemos mais o Brasil, tenha certeza, dos que estão no estrangeiro. Respeitamos, mas podem se equivocar nas suas visões porque não são donos da verdade”, reagiu o senador Cunha Lima.
 

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