Proteção da Amazônia avança, mas Brasil ainda descuida fauna aquática
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O cenário é paradisíaco, talvez para mostrar o quanto a humanidade perde se continuar destruindo a natureza. É em Honolulu, no Hawaí, que governos, entidades e organizações não-governamentais se reúnem nesta semana no evento mais importante do mundo para alertar sobre a devastação da biodiversidade. O Brasil tem bons resultados para apresentar, em especial sobre a preservação da Amazônia. Mas em relação às metas internacionais de proteção da fauna aquática, o país ainda engatinha.
A comitiva brasileira no Congresso da União Internacional de Conservação da Natureza conta com cerca de 80 pessoas. O país tem a maior delegação da UICN na América Latina. O encontro é a ocasião para os países verificarem como estão os avanços rumo às metas internacionais de proteção, a exemplo dos objetivos de desenvolvimento sustentável, definidos pela ONU.
"São diferentes culturas, todas unidas em prol de bens e fontes de vida que são comuns a todos nós, buscando estratégias, instrumentos e, principalmente, ações cooperativas para a manutenção desse planeta", disse Silvia Cappelli, presidente do comitê brasileiro.
A Convenção sobre a Diversidade Biológica, o tratado a mais importante sobre natureza, estabelece que os países devem se comprometer a proteger 17% dos ambientes terrestres e águas interiores e 10% das áreas marinhas. Esse objetivo deveria ser cumprido até 2020 – mas muito ainda resta a ser feito.
“No geral, o ambiente terrestres hoje tem cerca de 14% protegido no mundo inteiro, e no mar chegamos a apenas 2 ou 3%”, constata Cláudio Maretti, ex-presidente e atual diretor de Ações Socioambientais do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), do governo federal. “Outro ponto importante é que está havendo uma diminuição significativa dos estoques pesqueiros: está cada vez mais difícil pescar e, mesmo com cada vez mais esforço, se pesca menos. É preciso ir mais longe, aplicar técnicas mais sofisticadas e invasivas, e o resultado é discutível.”
Turismo
Maretti observa que, na Amazônia, as unidades federais e estaduais protegidas chegam a 28% do território, superior às metas internacionais. O Programa de Áreas Protegidas da Amazônia está próximo de conquistar os 60 milhões de hectares. “Também temos um estudo sobre os sítios sagrados e a importância da conservação deles para a biodiversidade, uma análise de tipologia de possibilidades de visitação de turismo e as perspectivas em termos de potencial de visitantes e geração de receitas”, relata.
No entanto, quando o assunto são as áreas protegidas marinhas, o país está atrasado: chega a apenas 1,5%, bem distante dos 10% que deveria cumprir. O diretor do ICMBio reconhece que, nos próximos três anos, o Brasil vai conseguir preservar no máximo a metade disso.
Reforço da campanha pelo santuário de baleias
Maretti nota que a indústria pesqueira brasileira se opõe a medidas mais abrangentes de conservação das espécies que constam na lista de animais ameaçados da UICN – por isso, os peixes são os que mais engrossam a lista das espécies ameaçadas no Brasil.
Para impulsionar essa briga, no congresso da UICN, o país insiste na criação do Santuário de Baleias do Atlântico Sul, uma antiga reivindicação do país na diplomacia ambiental internacional. “É uma proposta que tem 20 anos e o apoio dos governos da região, em especial Brasil, Argentina, Uruguai, Gabão, entre outros países africanos, onde seria proibida a caça de qualquer espécie. Mas ela tem tido resistência dentro da Comissão Internacional das Baleias, em especial do Japão e outros países baleeiros aliados”, lamenta. “Estamos relançando uma campanha com muita ênfase.”
Silvia ressalta ainda que o comitê brasileiro briga pela expansão do Parque Nacional Boqueirão da Onça e a "imediata" ampliação do Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros.
Espécies ameaçadas no Brasil e no mundo
A lista vermelha da UICN tem 84 mil espécies no mundo inteiro, das quais quase 24 mil correm o risco de extinção. No Brasil, as mais conhecidas são o peixe-boi, a onça pintada, o mico-leão preto e a ararinha azul.
O relatório deste ano mostrou que, no plano global, o panda gigante da China não está mais “em risco de extinção”, e passou a ser considerado uma espécie “vulnerável”. Por outro lado, o gorila oriental que vive nas florestas do Congo entrou para a lista dos “criticamente ameaçados”.
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