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Brasil/França

Jornal francês reacende polêmica sobre aborto em brasileira de nove anos

O jornal francês católico La Croix relembra a história da menina pernambucana de apenas nove anos, grávida de quatro meses de gêmeos de seu padrasto, depois de anos de abuso.

Papa Francisco mantém a possibilidade de os padres absolverem o aborto depois do Jubileu
Papa Francisco mantém a possibilidade de os padres absolverem o aborto depois do Jubileu REUTERS/Alessandro Bianchi
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A garota foi atendida pelo ginecologista do centro que acolhe vítimas de violência sexual de Recife, que praticou um aborto, mas o médico e sua mãe foram excomungados pelo então Monsenhor José Sobrinho.

O caso e a decisão do religioso chocaram o mundo. Sete anos depois, a reportagem do La Croix entrevistou Maria José Gomes, representante do Conselho Tutelar em Alagoinhas, a 200 quilômetros da capital pernambucana. Ela jamais se esqueceu da história, nem da tentativa do arcebispo de Recife e Olinda de impedir a operação. O ginecologista Olímpio Moraes, que fez o aborto também foi entrevistado pelo jornal francês.

“No Brasil, desde 1940, o aborto é autorizado em caso de estupro ou se a gravidez representa um risco para a saúde da mãe. Uma gravidez de gêmeos, em uma menina de nove anos, que não tinha nem 1,40m, é um caso extremo", diz o médico.

Ele relata que era aplaudido quando ia à padaria, e as pessoas não compreendiam a posição da igreja. Alguns dias depois, a CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) fez um "mea culpa", admitindo as questões atenuantes. Tarde demais: a absurda decisão da igreja já havia se propagado na opinião pública.

A menina, hoje com 16 anos, está bem, garante a representante do Conselho Tutelar, e guarda poucas sequelas psicológicas. O padrasto foi preso, condenado a 20 anos de detenção. O arcebispo autor da excomunhão se aposentou e seu substituto, mesmo sendo contrário ao aborto, não interfere diretamente nas decisões do Conselho.

Volta do conservadorismo

A decisão, quando foi anunciada pelo papa Francisco, pedindo “misericórdia” para quem deve ou quer se submeter a um aborto, também foi um avanço, disse ao La Croix Silvia Camurça, do coletivo de defesa dos Direitos das Mulheres da cidade. Ele lembrou que a volta do conservadorismo no Brasil ai prejudicar mulheres mais pobres, que se submetem a abortos clandestinos – entre 600 e 800 mil são praticados todos os anos.
 

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