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Historiadora Iris Kantor veio à França falar da evolução geográfica brasileira

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A historiadora Iris Kantor, da Universidade de São Paulo, veio a Paris para uma série de palestras na Escola de Altos Estudos de Ciências Sociais no âmbito do seminário “Terra, cidades e territórios no Brasil”. O objetivo foi de trazer ao público francês informações sobre o processo de formação e evolução do Brasil por meio de mapas, cartografia e outros dados geográficos.

A historiadora da USP, Iris Kantor.
A historiadora da USP, Iris Kantor. RFI
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Diante de um tema abrangente, em um território extenso como o Brasil, esse ciclo de conferências foi dividido em vários temas e cobre um período específico, de um século, entre 1750 e 1850. Esse intervalo de tempo é considerado muito relevante para o processo de identificação e demarcação do território brasileiro.

“Procurei mostrar o processo de formação da consciência territorial e espacial. A presença portuguesa data do início do século 16. Em 1750, temos uma espécie de apropriação dessa informação geográfica. Procurei mostrar como os mapas, as crônicas e os roteiros foram trabalhados pelos agentes públicos, estatais e como a população percebia e projetava o território de acordo com sua consciência do espaço”, explicou.

Na entrevista à RFI Brasil, Iris Kantor lembrou que a publicação de roteiros e mapas era proibida pela coroa portuguesa. “A circulação da informação geográfica era muito restrita. Somente os agentes públicos e militares tinham essa informação. Em 1711 por exemplo, um importante roteiro feito por um jesuíta foi proibido de circular e a coroa portuguesa manda queimar todos os roteiros geográficos que mostravam o caminho para as minas de ouro”, recordou.

“A grande questão da cartografia a partir de meados do século 18 é saber qual era o patrimônio de informações que existia e qual a partir do processo de estabelecimento de fronteiras e fixação de uma determinada soberania, como se construiu uma visão do Brasil por dentro e por fora. De fora pela coroa portuguesa e de dentro pelos diferentes atores que atuavam no território brasileiro”.

Em seu ciclo de palestras, a historiadora da USP também explicou por que os colonizadores, que batizavam as cidades com nomes portugueses, deixaram muitas denominações, principalmente de acidentes geográficos, nas línguas indígenas.

“Os militares portugueses que faziam a demarcação do território, resolveram preservar os nomes indígenas porque esses nomes indígenas, sobretudo para os acidentes geográficos, diziam muito sobre o meio ambiente, as condições de navegação, problemas ligados a enfermidades e até sobre a existência de produtos de subsistências para as expedições científicas”.

Curadoria de uma exposição no Rio de Janeiro

Iris Kantor também é uma das curadoras de uma exposição atualmente em cartaz no Instituto Moreira Sales, no Rio de Janeiro, intitulada “O Mapa de von Martius ou Como escrever a História Natural do Brasil”. É uma exposição comemorativa sobre um personagem pouco conhecido do público, o botânico naturalista alemão Carl Friedrich Philipp von Martius, que veio no âmbito de uma missão austríaca com a princesa Leopoldina.

Ele passou três anos viajando o Brasil principalmente pela Bahia e a região amazônica, partindo do Rio de Janeiro, e colheu mais de 22 mil espécies da flora brasileira, sendo que 5 mil era novas. “Decidimos fazer uma coisa inusual: trabalhamos com um dos primeiros mapas botânicos do Brasil, que ele criou. Pela primeira vez, foi criada a espacialização do país com as cinco regiões chamadas de biomas, ou seja, a Mata Atlântica, o Cerrado, a Caatinga, os Pampas e a Amazônia”, conta Iris.

Segundo ela, a importância de Von Martius está também no fato de que ele desenvolveu um tratado de como escrever a história do Brasil, apresentado no Instituto Histórico geográfico, em 1843. “Quando ele cria essas regiões, ele cria um Brasil uno, ele projeta no sistema botânico uma espécie de desejo geopolítico. Isso também fez parte de uma sensibilidade romântica que valoriza muito a geografia e a natureza e como parte da formação do sentimento nacional”, afirmou. “No fundo, o mapa de von Martius é um apelo à unidade territorial brasileira”, conclui.

A exposição “O Mapa de von Martius ou Como escrever a História Natural do Brasil” estará em cartaz até o dia 16 de abril.

  

 

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