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Brasil/Venezuela

Le Monde conta sofrimento de venezuelanos que fugiram para o Brasil

O jornal francês Le Monde que chegou às bancas na tarde desta quinta-feira (19) traz uma longa reportagem realizada em Boa Vista. O texto conta a história dos migrantes que fogem da Venezuela para a capital de Roraima, e que são obrigados a aceitar trabalhos precários ou se prostituir.

Diariamente, imigrantes venezuelanos chegam a Roraima em busca de uma vida melhor
Diariamente, imigrantes venezuelanos chegam a Roraima em busca de uma vida melhor Graziele Bezerra/Agência Brasil
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A reportagem conta que Boa Vista, “cidade sem charme cercada por reserva indígenas, sentiu o fluxo de imigrantes venezuelanos em meados de 2016”. Eles deixaram seu país de origem fugindo do governo autoritário do presidente Nicolás Maduro, da crise econômica e da inflação galopante, explica o texto. “Cerca de 70 mil teriam cruzado a fronteira desde 2015, dos quais 50 mil apenas em 2017”, contabiliza a correspondente do Le Monde no Brasil.

O texto conta como várias venezuelanas são vistas nas ruelas e avenidas da cidade, se prostituindo para viver. “Em Boa vista, essas jovens de Caracas são chamadas de ochentas (80 em espanhol), uma referência ao preço cobrado pelas moças, mais baixo que a tarifa de R$ 100 das brasileiras”, relata. “Como a prostituição é legalizada no Brasil, a polícia faz apenas algumas rondas para evitar os eventuais deslizes”, comenta a jornalista.

Mas nem todas as venezuelanas se prostituem, explica a reportagem, contando a história de outra jovem, que não teve coragem de vender seu corpo. “Essa mãe de família, que trabalhava em uma fábrica na Venezuela, decidiu cruzar a fronteira quando, apesar de seu salário, não conseguia mais se sustentar. Hoje, ela faz bicos e ganha, nos melhores dias, R$ 50”, relata.

Venezuelanos têm diplomas que “não valem nada” no Brasil

A reportagem explica que, apesar das dificuldades, os venezuelanos preferem ficar no Brasil. Como um engenheiro entrevistado pela correspondente deLe Monde, que se tornou vendedor ambulante. “Não nos dão trabalho porque não falamos português. Mesmo assim, estamos melhor aqui”, comenta. Mesmo tom do lado de uma pianista citada pelo jornal, que chegou no Brasil com filho e marido, uma mala, duas mochilas e o equivalente a R$ 20 no bolso: “mesmo uma vida miserável aqui é melhor que a Venezuela”, comenta a jovem. “Aqui pelo menos podemos imaginar um futuro”, completa.

Cerca de um terço desses migrantes tem nível superior, mas seus diplomas não servem para nada, analisa o texto. “Ex-universitários, dentistas, médicos, engenheiros, esses ‘encalhados da revolução bolivariana’ hoje lavam vidros de carros nos semáforos de Boa Vista em troca de algumas moedas”, relata a jornalista.

Roraima não consegue gerir fluxo migratório

Como o Estado de Roraima não consegue administrar esse fluxo migratório, Boa Vista pediu ajuda ao governo federal, conta a reportagem. Mas “a ação do poder público é lenta e desorganizada”, escreve a jornalista. Quem acaba assumindo essa função são as ONGs, as entidades religiosas (católicas ou evangélicas), ou o Alto Comissariado das Nações Unidas para os refugiados, que tentam acelerar a regularização dos imigrantes.

“No início a população se sensibilizou e fez várias doações de roupas e alimentos. Mas o número crescente de migrantes acabou vencendo a compaixão, que foi substituída aos poucos pelo desprezo e a xenofobia”, analisa o texto. “Os venezuelanos são acusados de trazer doenças, empobrecer a cidade e provocar um aumento da criminalidade em um local até então pacífico”, conclui a reportagem do Le Monde.

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