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“Há um projeto de destruição do ensino superior público no Brasil”, denuncia professora da UERJ

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Com 67 anos de história e mais de 30 mil alunos, a Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) agoniza em meio à crise econômica do estado, que não paga os seus professores universitários há quatro meses. No entanto, para a professora de antropologia Neiva Vieira da Cunha, a “suposta crise” não passa de cortina de fumaça para fazer avançar um projeto maior da direita brasileira: o desmantelamento do ensino superior público no Brasil.

Professora Neiva Vieira da Cunha, antropóloga: "a situação da UERJ é só um laboratório do que pode acontecer com todo o ensino superior público brasileiro".
Professora Neiva Vieira da Cunha, antropóloga: "a situação da UERJ é só um laboratório do que pode acontecer com todo o ensino superior público brasileiro". RFI
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De passagem por Paris, a convite da Sorbonne, a professora Neiva Vieira da Cunha fará uma conferência nesta quarta-feira (6) sobre a situação das universidades brasileiras sob o governo do presidente Michel Temer.

Para a educação, “o governo Temer tem sido catastrófico. O ensino superior brasileiro sofre um ataque sem precedentes na história recente do país”, alerta Neiva. “O ataque começou pela UERJ, mas eu tenho certeza de que a intenção é estendê-lo a todo o ensino superior público brasileiro”.

A crise econômica do estado do Rio de Janeiro tem, segundo a professora, sido usada como justificativa pouco convincente para a falta de pagamentos na UERJ.

“Que crise é essa?”, pergunta a professora. “O ex-governador Sérgio Cabral está na cadeia por corrupção. A ex-governadora Rosinha Garotinho está na cadeia por corrupção. O ex-governador Anthony Garotinho está na cadeia por corrupção. Foram quatro mandatos, 16 anos de desgoverno e corrupção. E agora querem desinvestir na UERJ por causa da ‘crise’? Esse argumento não convence ninguém. A questão é muito mais complexa”, reclama Neiva.

Banco Mundial preconiza a privatização no Brasil

Em novembro último, um relatório do Banco Mundial, encomendado pelo ex-ministro da Fazenda Joaquim Levy, preconizou a privatização das universidades públicas brasileiras, baseando-se no seguinte argumento: “O Governo Federal gasta aproximadamente 0,7% do PIB com universidades federais. A análise de eficiência indica que aproximadamente um quarto desse dinheiro é desperdiçado. (...) Além disso, embora os estudantes de universidades federais não paguem por sua educação, mais de 65% deles pertencem aos 40% mais ricos da população”.

Os dados do Banco Mundial, no entanto, são contestados por uma pesquisa do Fórum Nacional de Pró-Reitores de Assuntos Comunitários e Estudantis (Fonaprace). Segundo o Fórum, 51,4% dos estudantes de graduação nas universidades públicas federais pertencem a famílias com renda bruta de até três salários mínimos, e apenas 10,6% integram famílias com renda bruta superior a dez salários mínimos.

Amparando-se nos dados do Fonaprace, Neiva considera que a privatização do ensino superior “não é possível num país como o Brasil, onde as desigualdades sociais são imensas, e se tornaram ainda maiores depois do golpe de Estado que levou o Temer à presidência”.

Público versus privado

Comparando com a situação em outros países, a professora argumenta que “talvez, nos Estados Unidos, a maioria dos alunos possa pagar uma universidade privada. Mas esse não é o caso do Brasil. Em contrapartida, nós podemos nos inspirar no modelo francês, onde as universidades são públicas e gratuitas”.

Portanto, encerrou a professora, “eu estou convencida de que há um projeto de destruição da estrutura do ensino superior no Brasil. (...) O que está acontecendo com a UERJ é um pequeno laboratório do que pode acontecer com todas as universidades públicas brasileiras”.

Clique no box abaixo para assistir na íntegra à entrevista da professora Neiva Vieira da Cunha.

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