Documentário de Karim Ainouz sobre refugiados na Alemanha é premiado na Berlinale
O documentário Zentralflughafen THF(Aeroporto Central THF, em tradução livre) conta, durante quase um ano, a vida de refugiados que foram acolhidos pelo governo alemão em Tempelhof, o antigo aeroporto da capital alemã. O diretor do filme, Karim Ainouz, reputado por películas como “Madame Satã” e “O céu de Sueli”, recebeu o prêmio Anistia Internacional pelo documentário neste sábado (24), no Festival de Cinema de Berlim, com um discurso de “resistência à situação política brasileira”.
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Em entrevista à RFI Brasil durante a Berlinale deste ano, o diretor Karim Ainouz falou sobre sua inspiração para o filme. “A ideia deste filme veio com a vontade grande que eu tive de me engajar com uma questão urgente, que a gente estava vivendo na Europa, especificamente na Alemanha, com as guerras que estão acontecendo há anos no Oriente Médio, com um influxo grande de pessoas que estavam fugindo", conta o diretor. "No verão de 2015, eu comecei a ver uma série reportagens sobre multidões de pessoas que estavam chegando na Grécia, atravessando os Bálcãs, para vir para a Alemanha e aquilo começou a me incomodar muito, porque foi recuperado pela extrema-direita, como se fossem pessoas que estavam invadindo a Europa”, aponta Aïnouz.
“Eu fui ao aeroporto e fiquei muito impressionado, porque era um dos poucos abrigos que estavam no meio da cidade. Até me lembrava o Brasil, esta coisa que a gente tem, entre a favela e o asfalto. Além disso, tinha uma outra questão que me fascinou muito que era a de um abrigo de refugiados dentro de um aeroporto, que foi construído em 1923 e ampliado no Terceiro Reich. Achei aquilo muito irônico, como se a história estivesse se reconciliando com ela mesma. O que era um espaço para consertar aviões de guerra virou um espaço para abrigar pessoas fugindo da guerra”, disse o diretor, radicado na Alemanha.
No momento de receber o prêmio neste sábado (24), Karim Ainouz denunciou, lendo um texto, “um golpe perpetrado por corruptos oligarcas no Brasil”. “Estamos em Berlim, mas precisamos falar sobre o Brasil”, disse ele, antes de continuar a ler o manifesto.
Para ver o discurso completo do diretor e o anúncio oficial da premiação, clique no vídeo abaixo:
Outros brasileiros premiados
Dois filmes brasileiros levaram o Teddy Awards na noite desta sexta-feira (23), a principal recompensa do segmento LGBTI da Berlinale, o festival de Cinema de Berlim. Tinta Bruta, dos diretores gaúchos Marcio Reolon e Filipe Matzembacher, venceu a categoria de melhor longa-metragem e Bixa Travesty, do casal Claudia Priscilla e Kiko Goifman, foi escolhido como melhor documentário, escrito há seis mãos com a protagonista do filme, a performer brasileira Linn da Quebrada, uma das estrelas desta edição do Teddy Awards em Berlim.
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