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“O Brasil tem o voto obrigatório, mas não tem o incentivo ao debate político”, diz jornalista

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Maria Paula Carvalho é jornalista especializada em política, escritora, autora de dois livros, sendo que o mais recente “Brasil, a Reconstrução”, foi lançado em fevereiro em Paris. O livro, um grande trabalho de reportagem que nasceu de uma tese de mestrado na Universidade de Columbia, em Nova York, aborda a conjuntura atual do Brasil, a crise político-econômica e a busca por novas lideranças.

Maria Paula Carvalho com o seu livro "Brasil, a Reconstrução.
Maria Paula Carvalho com o seu livro "Brasil, a Reconstrução. Paloma Varón
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“O livro nasceu da minha inquietude como brasileira, como jornalista, de sempre ouvir dizer que o nosso país é o país do futuro, mas que nunca chega lá. Eu segui o meu faro de repórter, fui atrás de responder algumas questões que me intrigavam, por exemplo, na economia: por que os desafio econômico não havia sido resolvido, embora tenhamos tidos governos mais progressistas, ou mais conservadores, o debate econômico nunca foi resolvido”, conta.

Outras questões, como a manutenção da desigualdade, a fizeram entrar no tema de cabeça.

“Embora a gente tenha tido melhoras na redução da pobreza, o Brasil continua sendo um dos países com o maior índice de desigualdade do mundo. A população brasileira sofre enormemente. Qual é o tipo de crescimento que a gente quer para o nosso país? Quem são as pessoas que estão pensando o Brasil? A questão de um crescimento sustentável, a nossa responsabilidade com a natureza, que tipo de Brasil nós queremos construir?”, questiona.

Segundo Carvalho, a inspiração deste trabalho vem da afirmação de Joseph Pulitzer, de que o jornalismo é um serviço público, o jornalismo está voltado para a comunidade e explica a sociedade.

“Eu quis escrever alguma coisa para ajudar as pessoas a entenderem o momento em que o Brasil vive, afinal de contas a gente teve muitos motivos para acreditar no Brasil. Nós nos tornamos o B dos BRICS, nós começamos a combater pobreza e desigualdade, nós controlamos a inflação, a gente descobriu reservas grandiosas de petróleo que nos colocaram numa posição vantajosa em termos de energia… e mais uma vez veio uma decepção”, lamenta.

“O Brasil que crescia 7,5% em 2010 e que era um foguete, segundo a capa da revista The Economist, acabou caindo por terra como o mito de Ícaro, como escreveu o Matthew Taylor, que é um professor da American University na apresentação do meu livro”, observa.

Papel do jornalista

Para ela, o papel do jornalista é ser o watchdog (o cão de guarda) da sociedade, aquele que está de olho nos outros poderes para apurar o que há de errado e sugerir caminhos.

“O jornalista checa, identifica o que está errado, apresenta soluções. O meu livro não aponta que ‘o Brasil vai crescer se ele fizer exatamente isso’, ele aponta possibilidades, caminhos, a partir das pessoas que eu entrevistei”, conta ela, que diz ter batido de porta em porta para entrevistar os principais personagens do tecido político brasileiro “para saber por que não avançamos como gostaríamos nas áreas social e econômica”.

“Também me interessa muito saber como que a sociedade está disposta e se está disposta a trabalhar para realmente ter o país que ela busca, ter o país que ela deseja”, diz ela, sobre a responsabilidade de cada cidadão.

Grande mídia

Maria Paula Carvalho tem mais de 20 anos de experiência em reportagem de rua, na Rede Globo, na RBS, mas também na TVE, e acha que a mídia tem um papel extremamente importante, apesar de reconhecer o oligopólio da grande mídia brasileira.

“Eu acredito especialmente no papel do jornalista como um ator social importante para a sociedade. O jornalista não pode ser calado. A gente teve 30 anos de ditadura em que era muito difícil falar de política, em que você arriscava mesmo a sua vida se você fosse colocar os assuntos importantes em voga”.

“Felizmente, após 30 anos de democracia, a gente está num momento em que os jornalistas têm voz, em que a sociedade tem voz, em razão das mídias sociais, e quanto maior debate, melhor. O Brasil vive uma dicotomia em que você tem o voto obrigatório, mas não tem o incentivo ao debate político”, diz ela, comparando com a França, onde o debate acontece o tempo todo; em todas as esferas.

“O meu sonho é que o Brasil tenha mais debate político e é por isso que eu escrevi este livro”, conclui.

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