Acessar o conteúdo principal
Eleições/Brasil

“Me parece muito difícil que Bolsonaro perca no segundo turno”, diz pesquisador francês

Em entrevista à RFI, logo após a divulgação do resultado do primeiro turno das eleições brasileiras, Hervé Théry, geógrafo do CNRS (Centre National de la Recherche Scientifique), se mostrou bastante pessimista em relação à governabilidade do Brasil. Segundo ele, Bolsonaro “não passou no primeiro turno, mas tem boas chances de passar no segundo”.

O geógrafo e pesquisador francês Hervé Théry.
O geógrafo e pesquisador francês Hervé Théry. www.iea.usp.br
Publicidade

Théry expressou espanto com a performance do candidato: “Algo se quebrou no Brasil. Quem diria meses atrás que quase a metade do eleitorado iria votar por alguém que não tem um partido expressivo e que teve um tempo pífio na televisão”.

O pesquisador não acredita que a campanha para o segundo turno terá um tom mais conciliador. “De qualquer maneira, geralmente a radicalização de uma campanha acontece antes do segundo turno. Mas o que vimos no Brasil foi uma campanha de primeiro turno com cara de segundo turno”, acrescenta ele, lembrando que Bolsonaro   está muito na frente e não precisa fazer esforço para ser conciliador.

Terremoto de proporções comparáveis à eleição de Trump

Segundo Théry, o que acontece no Brasil atualmente pode ser comparado ao que ocorreu nos Estados Unidos, com a eleição de Trump ou na Itália com a ascensão da extrema direita.  “O eleitorado, cansado do establishment, busca alguém que ele julga diferente. Para mim Bolsonaro é uma fraude mas conseguiu convencer muita gente de que ele era algo novo”, assinala o pesquisador.

O ódio ao PT não explica tudo, diz ele. Trata-se de uma crise da democracia que afeta também outros países, onde vemos uma rejeição da população ao sistema tradicional dos partidos. As propostas de candidatos como Bolsonaro não têm base racional ou econômica, mas chamam a atenção do eleitorado.

Para Théry, Bolsonaro se aproveitou do grande problema da sociedade brasileira atualmente que é a questão da segurança. A população começa a achar insuportável os números alarmantes de mais de 60 mil homicídios por ano. “Mas, ele traz respostas muito ruins para problemas muito sérios”, acrescenta, lembrando que não é distribuindo armas que você reduz a criminalidade.

É o caso também de Marine Le Pen (líder do partido de extrema direita na França Reunião Nacional) e outros líderes populistas que sublinham os problemas que preocupam a sociedade, mas que não trazem nenhum esboço de solução para os mesmos.

Ingovernabilidade

O geografo francês não acredita muito nas perspectivas de Fernando Haddad ganhar muitos votos no segundo turno. Além de parte do eleitorado de Ciro Gomes (PDT), que ficou com apenas 12,5% no primeiro turno, ele não vê muito espaço de conquista para o PT. “Quem poderia se juntar ao PT de forma que Haddad cresça de 28% a 50% do eleitorado? ” Algo que lhe parece muito difícil.

Hervé Théry acha que o Brasil está caminhando para um período de ingovernabilidade, o que para ele é muito preocupante. Se Jair Bolsonaro vencer a grande interrogação será também com que congresso ele vai governar?  “Teremos que ver qual será a nova correlação de forças. Mas eu não estou nada otimista” – conclui ele.

NewsletterReceba a newsletter diária RFI: noticiários, reportagens, entrevistas, análises, perfis, emissões, programas.

Acompanhe todas as notícias internacionais baixando o aplicativo da RFI

Compartilhar :
Página não encontrada

O conteúdo ao qual você tenta acessar não existe ou não está mais disponível.