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Eleições/Brasil

Capa do Le Monde destaca “Bolsonaro, ou a falência da classe política” no Brasil

Jornal francês desta sexta-feira (26) traz, além das duas páginas principais dedicadas às eleições no Brasil, duas páginas internas com uma reportagem em tom de crônica sobre o Rio de Janeiro, a "cidade raivosa”. O vespertino afirma ainda que juiz Sérgio Moro é, “indiretamente, o artífice da subida desta extrema direita, saudosa da ditadura militar”.

Militantes de Jair Bolsonaro no Rio de Janeiro, em 21 de outubro de 2018.
Militantes de Jair Bolsonaro no Rio de Janeiro, em 21 de outubro de 2018. REUTERS/Sergio Moraes
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“Em seu escritório de Curitiba, no sul do Brasil, o juiz anticorrupção Sergio Moro está, digamos, preocupado. (...) Domingo, 2 de outubro, 56% dos brasileiros, enojados de sua elite política, se encontram prestes a eleger Jair Bolsonaro, militar da reserva reacionário”, escreve Claire Gatinois, correspondente do jornal em São Paulo.

Le Monde relembra ainda a manchete do jornal Folha de S. Paulo de 22 de outubro, assinado por um dos notórios críticos do PT, Reinaldo Azevedo: “Bolsonaro é o outro nome da Lava Jato”. “Justiceiro do Brasil, o juiz é sem dúvida a figura mais respeitada dos pró-Bolsonaro. (...) Coveiro de um velho mundo perverso, ele abriu o caminho para um ‘candidato antissistema’, Jair Bolsonaro”, afirma.

O jornal afirma que a sucessora de Lula, Dilma Rousseff, reeleita em 2014, foi “incapaz de administrar uma recessão histórica" e "alvo de um impeachment 'por uma razão orçamentária, sem nenhum vínculo com a corrupção'.  “O procedimento foi instaurado por uma advogada exaltada, Janaína Paschoal, que seria mais tarde eleita deputada pelo partido de Bolsonaro em São Paulo. O país, virado do avesso, descobre nesse momento a figura deste militar de reserva”, publica o periódico.

Não há discurso para “condenar o nazismo” no Brasil

Segundo a historiadora brasilianista Maud Chirio, em entrevista para Le Monde, “Trump é mais moderado que Bolsonaro, ele não conclama à violência nem ao extermínio dos democratas”. Ainda segundo ela, na Europa, “nós construímos um discurso para condenar a colaboração, o nazismo. No Brasil, não”.

Para Gatinois, a “burguesia, seduzida pelo capitão que alimenta, como ela, um profundo ódio pelo PT, esquece os absurdos do candidato”. Le Monde pergunta ainda se Bolsonaro teria conseguido essa “progressão espetacular de votos” se não tivesse sido “esfaqueado por um desequilibrado” em plena campanha. “Liberado dos debates televisivos (...) desde o dia seguinte ao ataque, seu filho, Flavio Bolsonaro, antecipou a vitória: ‘vocês acabaram de eleger meu pai’”, afirma o jornal.

“Intelectuais contra o candidato de extrema direita”

“Eles são escritores filósofos ou sociólogos. Alguns abatidos, pensam em deixar o país, mas outros querem ser resistência”, sublinha Le Monde. “Mesmo aqueles que, como Luiz Schwarcz (dono da prestigiosa editora Companhia das Letras), não possuem o hábito de tomar posição política publicamente, o fizeram”, explica o vespertino, citando a carta aberta que o intelectual enviou aos editores, livreiros e autores com quem se relaciona.

“A candidatura de Bolsonaro é irmã de uma época tenebrosa de nossa vida política e cultural. Respeitarei o resultado do voto, a despeito da minha surpresa e da minha tristeza”, diz um trecho.

“Rio de Janeiro, a cidade raivosa”

Le Monde se debruça também sobre a capital carioca, numa reportagem interna de duas páginas. “A algumas horas do segundo turno da eleição presidencial, a cidade onde o candidato de extrema direita Jair Bolsonaro obteve 60% no primeiro turno ainda não curou sua ressaca, depois da euforia dos anos Lula”, publica o periódico.

O jornal afirma que, dentro do “coquetel fatal” que levou o Rio de Janeiro a esse resultado, constam o “estado de calamidade pública, decretado pouco antes dos Jogos Olímpicos” e a “violência como resultado da militarização da polícia”. O vespertino, que cita ainda outras tragédias, como o incêndio no Museu Nacional, entrevistou cariocas como o urbanista Carlos Vainer: “é o fracasso de um sistema, a ascensão e queda de um modelo de cidade corporativa e empresarial, flexível e neoliberal”.

Le Monde termina a reportagem com o testemunho de um morador da Vila Autódromo, no Rio de Janeiro, sobre Jair Bolsonaro: “Na verdade, ninguém gosta dele. Sabemos muito pouco sobre ele, sabemos que ele fala um monte de besteiras, mas ele tem a coragem de dizê-las. Nós queremos simplesmente que as coisas mudem. Olhe bem em sua volta”.

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