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Radar econômico

Comércio entre Brasil e Irã ainda não foi impactado pelas sanções americanas a Teerã

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Entraram em vigor na segunda-feira (5) novas sanções dos Estados Unidos contra o Irã. Em agosto deste ano, as primeiras sanções afetaram principalmente o comércio e o setor automotivo de Teerã. Desta vez, o impacto será em uma das áreas mais importantes da República Islâmica: o petróleo. O Brasil, que exporta principalmente commodities ao Irã, ainda não sofre com as consequências das sanções americanas.

No Brasil, cerca de 90% das exportações para o mercado iraniano são de produtos ligados à agropecuária. Os principais são soja, milho e carnes, sobretudo a bovina.
No Brasil, cerca de 90% das exportações para o mercado iraniano são de produtos ligados à agropecuária. Os principais são soja, milho e carnes, sobretudo a bovina. Fernando Dias/Seapa
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As novas medidas anunciadas no início da semana afetarão diretamente as empresas asiáticas ou europeias que continuarem a comprar petróleo iraniano ou manter relações comerciais com bancos do país. A maioria terá o acesso ao mercado americano bloqueado.

Os Estados Unidos, no entanto, garantiram isenções temporárias a oito países que poderão continuar com a importação de petróleo bruto do Irã. O secretário de Estado americano, Mike Pompeo, anunciou que China, Índia, Itália, Grécia, Japão, Coreia do Sul, Taiwan e Turquia não sofrerão sanções por comercializar com o Irã. Essas isenções são para garantir que os preços do petróleo não sejam desestabilizados.

Brasil exporta principalmente milho, soja e ração animal

No Brasil, cerca de 90% das exportações para o mercado iraniano são de produtos ligados à agropecuária. Os principais são soja, milho e carnes, mais especificamente a bovina. Apesar do receio dos investidores brasileiros do setor, até agora os números mostram que as sanções ainda não prejudicaram o comércio entre Brasil e Irã.

Tatiana Palermo, colunista do jornal Gazeta do Povo e ex-secretária de Relações Internacionais em agronegócio no Ministério da Agricultura, destaca um aumento na exportação para Teerã. “Eu estou percebendo um certo movimento, provavelmente temporário, de aumento das nossas exportações do agronegócio. Eu levantei os dados do ministério da Agricultura e nós tivemos um aumento importante nas exportações de milho, soja e ração animal. Eu imagino que, como a economia iraniana está sofrendo, o poder aquisitivo está caindo por conta das restrições e o Irã está tentando estocar os cereais, a soja, a ração animal, para produzir comida”, afirmou Tatiana. “Em 2017, o Brasil exportou cerca de US$ 560 milhões em milho. No mesmo período, de janeiro a setembro de 2018, este valor chegou a US$ 3,5 bilhões”, completou.

Embaixada brasileira em Jerusalém

O ex-ministro das Relações Exteriores do Brasil, Celso Amorim, alerta para um problema que pode comprometer o comércio brasileiro com Teerã. “Eu vejo ameaças diversas. Além das sanções norte-americanas, é a própria política. Se for levado adiante o que foi anunciado, de mudar a nossa embaixada para Jerusalém, o que significa um reconhecimento da cidade como sendo a capital de Israel, eu acho que a reação dos países islâmicos em geral, e do Irã, que é muito militante nesse tema, vai ser muito dura", explicou Amorim.

"Então nós corremos o risco de perder um mercado importante. Já perdemos um pouco, porque algumas oportunidades que existiam envolviam negócios que podiam depender de bancos com filiais nos Estados Unidos, mas agora perderíamos mais ainda”, completou o ex-ministro.

Acordo bilateral

As sanções impostas pelos EUA têm como objetivo a obtenção de um acordo bilateral com o Irã, similar ao negociado com a Coreia do Norte. O presidente americano, Donald Trump, já deu diversos sinais de que está disposto a se reunir com os dirigentes iranianos.

Seu governo impõe 12 condições para assinar um acordo global com o Teerã. Entre elas, estão restrições mais firmes e duradouras relacionadas ao programa nuclear, o fim da proliferação de mísseis balísticos e das atividades consideradas "desestabilizadoras" da República Islâmica em países vizinhos. Para obrigar o Irã a cumprir as suas condições, o governo americano pretende impor as sanções "mais fortes da história".

Economia já estava em crise antes das sanções

Apesar de reconhecer que as medidas americanas prejudicam a economia de Teerã, o professor de Relações Internacionais da universidade Paris-Descartes e especialista sobre o Irã, Fereydoun Khavand, lembra que a economia iraniana já sofria muitos males antes da ofensiva de Donald Trump.

“Não se pode colocar todas as dificuldades na conta dos Estados Unidos. Há 40 anos, desde o nascimento da República Islâmica, a economia do país é muito mal administrada. É uma economia essencialmente petrolífera, com uma forte presença do Estado, e principalmente da ‘máfia’ da República Islâmica, das diversas instituições religiosas. Há também a corrupção, a desigualdade, uma péssima gestão pública. São todos esses elementos que estão na origem da complicada situação atual”, afirmou o professor.

O Reino Unido, a Alemanha e a França, que estão entre os cinco países participantes do acordo nuclear de 2015, manifestaram objeções às sanções americanas. Os países prometeram dar apoio a empresas europeias que queiram fazer "negócios legítimos" com o Irã e estabeleceram um mecanismo alternativo de pagamento - SPV, sigla em inglês para Veículo de Propósito Especial - que ajudarão as companhias a negociar sem enfrentar penalidades dos EUA.

No entanto, analistas têm dúvidas de que isso vá amenizar o impacto das sanções no Irã.

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