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Brasil

Caça a Battisti reacende lembranças dos ‘anos de chumbo’ na Itália, relata Le Monde

A situação do ex-ativista de extrema esquerda Cesare Battisti, refugiado no Brasil desde 2004, é destaque na capa do jornal francês Le Monde que chegou às bancas na tarde dessa terça-feira (18). Em reportagem de duas páginas, o vespertino relembra em detalhes o caso do italiano condenado à prisão perpétua por quatro homicídios nos anos 1970, e que teve sua extradição decretada pelo governo brasileiro.

Cesare Battisti é alvo de um pedido de extradição para a Itália, assinado pelo presidente brasileiro Michel Temer.
Cesare Battisti é alvo de um pedido de extradição para a Itália, assinado pelo presidente brasileiro Michel Temer. Miguel SCHINCARIOL / AFP
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"Mais de 37 anos após ter deixado a Itália, com longas estadias na França e no México antes de chegar ao Brasil, Cesare Battisti é procurado atualmente pela polícia brasileira para ser extraditado para a Itália, onde o processo nunca foi arquivado", conta Le Monde. “A caçada da qual ele é alvo reacende em muitos italianos as lembranças dos ‘anos de chumbo’”, continua a reportagem

Le Monde faz referência ao período entre as décadas de 1970 e 1990, durante as quais a violência política, da extrema direita e da extrema esquerda, causou milhares de mortes e feridos “e uma cicatriz impossível de apagar da história italiana”.  Segundo Le Monde, o ápice do caos foi entre 1977 e 1979, quando mais de 300 grupos terroristas estavam presentes na Itália, onde se registravam mais de 2 mil atentados por ano. “Foi nesse momento que Cesare Battisti entrou na clandestinidade, integrando um pequeno grupo de extrema esquerda até então anônimo, mas que ia se tornar, em apenas alguns meses, extremamente violento”.

Além de relatar de forma detalhada as diferentes ações às quais Battisti participou e processos que enfrentou, Le Monde traz um segundo texto, assinado por seu ex-correspondente no Brasil, Nicolas Bourcier. O jornalista relata que entrevistou o ex-ativista pela primeira vez em 2011, quando o italiano morava em Cananeia, e lembra a dificuldade para encontrá-lo. “Todos o conheciam e o chamavam de ‘Piradinho’, pois ele passava o dia andando na beira da praia sem dizer uma única palavra. Mas ninguém sabia exatamente onde ele estava”, conta o correspondente. “Fiquei três dias andando pelas ruas da cidade, até que o encontrei, por acaso, dentro de um restaurante, junto com ex-militantes do PT, como se nada tivesse acontecendo”, se lembra Bourcier.

Battisti dizia estar sendo vigiado

Battisti aceitou ser entrevistado e, na época, criticou a imprensa brasileira, principalmente o diário Folha de S.Paulo, que fez uma matéria de capa sobre ele, intitulada La Dolce Vita Clandestina. O jornal francês explica que apesar da imagem de um fugitivo que leva a boa vida no Brasil, a situação do italiano era muito mais complexa. O ex-correspondente, que em seguida falou com Battisti algumas vezes, lembra que em cada telefonema o italiano dizia estar sendo vigiado e que seus e-mails haviam sido pirateados.

Durante um dos encontros, o ex-ativista disse que queria ficar no Brasil, mas não excluía um retorno a Europa, de preferência na França, onde estariam seus amigos. Mas desde que o presidente brasileiro Michel Temer assinou sua extradição, em 14 de dezembro, Battisti desapareceu dos radares. Segundo seu próprio advogado, ninguém mais consegue contatar o italiano, que teria desligado seu telefone celular, conclui o jornal francês Le Monde.

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