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“Brasil poderá crescer até 3,5% em 2019 se aprovar reformas”, afirma economista

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A RFI conversou com o economista-chefe da Órama e professor do IBMEC do Rio de Janeiro, Alexandre Espírito Santo, sobre as perspectivas para a economia brasileira a partir do ano que vem. No e-book “Cenários e Investimentos 2019”, ele analisa três eventos antes considerados improváveis, mas que têm trazido grandes consequências ao mercado financeiro: a chegada de Donald Trump à Casa Branca, o Brexit e a eleição de Jair Bolsonaro.

Alexandre Espírito Santo, economista chefe da Órama e prof. IBEMEC-RJ
Alexandre Espírito Santo, economista chefe da Órama e prof. IBEMEC-RJ Arquivo Pessoal
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Segundo o autor, esses fatos são explicados, em parte, pelo descontentamento das sociedades e a intervenção de governos e políticos. “Na minha visão, não podemos atribuir esses eventos unicamente à globalização, que é um fenômeno preponderantemente econômico. O que justifica esses fatos improváveis é o globalismo, que é a globalização política”, explica.

“No aspecto econômico, eu acredito que a globalização foi uma transição de um capitalismo industrial do século XX para um capitalismo mais dinâmico, moderno, impulsionado pela revolução cibernética, avanços tecnológicos, economia de informação, etc. O fato é que a globalização vinha nos enebriando, ela estava afetando positivamente as economias dos principais países e, ao mesmo tempo, a inflação e o desemprego eram muito baixos. Como a riqueza global estava crescendo, disseminou-se a ideia do welfare state (estado de bem-estar social), as populações mais carentes passaram a ter acesso aos serviços essenciais, então parecia um jogo de ganha-ganha. O problema é que quando veio a crise de 2008, provocada por um enorme endividamento, percebeu-se que a globalização não era bem assim,” diz Alexandre Espírito Santo.

“Os jovens passaram a representar um papel muito importante. Eles estão muito prejudicados, sem emprego. E aí as redes sociais viraram protagonistas. Eles se organizaram e daí vem uma parte da explicação para o Trump, para o Brexit e a própria eleição do Bolsonaro que, de alguma maneira, dizia: ‘precisamos dar um basta nisso tudo que está aí’”, completa.

Olhando para 2018, não foi um ano fácil. Houve muita volatilidade nos mercados mundo afora e um cenário desafiador no Brasil. Contudo, o professor de economia tem uma visão otimista com relação ao futuro.

“A eleição do Bolsonaro traz um pouco dessa onda conservadora e protecionista que acometeu o mundo nesses últimos anos e vamos precisar lidar com ela. Porém, eu vejo com bons olhos o novo governo porque poderemos ter uma redução do Estado. Se não tivermos capacidade de cobrir os déficits, precisaremos emitir dívida e a economia brasileira já está muito endividada.”

Combater a dívida é prioridade

Às vésperas da chegada de Bolsonaro ao Palácio do Planalto, o Brasil se encontra em dificuldades, marcadas, especialmente, pelo baixo crescimento econômico e pelo desemprego elevado.

“O crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) do Brasil hoje é muito baixo, comparável a 2012, então nós regredimos meia década. O país tem um déficit de cerca de R$ 140 bilhões e sem contar os juros da dívida. A relação da dívida sobre o PIB está caminhando para perto de 80%, o que é muito ruim para um país de renda média. O Brasil arrecada 34% do PIB em impostos, mas gasta 45%”, lembra o economista. “O próprio futuro ministro da Economia, Paulo Guedes, tem dito que gastamos um plano Marshal por ano com juros da dívida. É preciso que o país mude essa dinâmica perversa, que invista em infraestrutura, para recuperar uma parte desse PIB que foi corroído ao longo desses últimos anos”, completa.

A fim de destravar a economia brasileira, dois pontos precisam ser levados em consideração, segundo o economista: a viabilidade do encaminhamento de reformas, como a da Previdência Social, e o ajuste fiscal.

“O grande nó do Brasil é um problema crônico fiscal e esse problema precisa ser combatido com urgência. O principal desafio é a Previdência que, dividindo entre INSS e setor público, faz um déficit anual em torno de R$ 300 bilhões. É impossível continuar com um buraco desse tamanho e crescente”, alerta.

“Na década de 1980, a pirâmide etária brasileira era realmente uma pirâmide, mas hoje estamos caminhando para uma pirâmide invertida. Então é insustentável, no médio prazo, continuar com a Previdência do jeito que está. É preciso que o país acorde para esse problema. Nós já tivemos uma proposta de reforma da Previdência no governo de Michel Temer, que foi parcialmente aprovada nas comissões do Congresso Nacional. Mas agora, com o novo governo, se temos uma oportunidade de melhorar essa reforma, que o façamos. Se não fizermos isso, é muito difícil que as outras reformas, que também são importantes, prosperem. E isso é importante, também, para sinalizar que o país está rumando para ajustar suas contas,” explica.  

Time dos sonhos

Antes mesmo de entrar em campo, a formação do novo governo tem gerado controvérsias como, por exemplo, a indicação de generais da reserva para cargos de confiança. Porém, a indicação do nome de Paulo Guedes para tocar a pasta da Economia é comemorada, segundo o professor do IBMEC.

“Paulo Guedes é um economista muito competente e formou uma equipe dos sonhos na economia, com quadros muito qualificados, o que gera uma expectativa muito positiva. Mas é claro que muitas vezes você tem pessoas ótimas, mas que eventualmente não funcionam em uma equipe. Eu espero que não seja o caso. Espero que elas trabalhem em conjunto para que possamos reduzir, enxugar o Estado, e que o novo Congresso Nacional perceba que é preciso mudar, porque se continuarmos com as mesmas práticas não iremos adiante. É imperativo reverter esse círculo vicioso da economia brasileira para voltarmos a crescer,” ensina.

“A minha expectativa é que se nós conseguirmos aprovar a reforma da Previdência e se não tivermos uma nova crise global, e eu acho que não teremos, eu vejo uma probabilidade de o Brasil crescer, em 2019, entre 3 ou 3,5 %. “

Câmbio e juros   

Durante o ano de 2018, dólar e juros oscilaram bastante no Brasil. Para o ano que vem, o economista prevê mais estabilidade.

“Em relação à taxa de juros, eu acredito que o cenário de inflação para 2019 continuará muito benigno, a inflação deverá ficar em torno de 4%, o centro da meta para o ano que vem deve ficar em 4,25% e eu acredito que a Selic, se eventualmente tiver algum movimento, será de uma pequena alta. Mas se as reformas forem alcançadas, o Banco Central pode até mesmo reduzir um pouco a taxa Selic, mas eu acredito numa taxa em torno de 6,5% como está agora,” antecipa.   

“Um dos bons fundamentos da economia brasileira, do qual podemos nos orgulhar, vem das contas externas. O país hoje faz um déficit em transações correntes muito pequeno, em torno de 1% do PIB. Mas, ao mesmo tempo, tem uma entrada de capital por investimento direto acima de 4%. Então, nós não temos problemas na balança comercial, na balança de serviços. O balanço de pagamentos está muito confortável”, analisa. “Ao mesmo tempo, o país detém reservas de quase U$ 400 bilhões, sendo um dos países que mais têm reservas", compara.

"Todas as grandes crises brasileiras, de alguma maneira, passavam pelo setor externo, mas dessa vez não há esse problema. Por isso eu não acredito que haja uma grande desvalorização do real e só vejo o dólar subindo se não conseguirmos passar a reforma da Previdência. Nesse caso, toda essa expectativa se deterioraria, havendo o risco de uma fuga de capitais muito intensa e, eventualmente, a taxa de câmbio poderia passar para algo em torno de R$ 4,5 ou até mais”, supõe.

Privatizações

Segundo o economista Alexandre Espírito Santo, as privatizações teriam um papel importante no plano de desinchar o Estado brasileiro. Contudo, esse é um assunto que gera polêmica, especialmente com relação à empresas estratégicas.

“O grande desafio será convencer a sociedade e o Congresso que o país não precisa desse tamanho que tem hoje. É evidente que é um tema delicado, mas existem mecanismos de defesa contra eventuais exageros. De qualquer maneira, diminuir o tamanho do Estado, para não precisar elevar ainda mais a carga tributária, é essencial para o país voltar a crescer e para que possamos ter uma distribuição de renda adequada,” conclui.

 

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