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Brasil/Israel

Para imprensa francesa, Bolsonaro satisfaz evangélicos com visita a Israel

A imprensa francesa acompanha a visita de Jair Bolsonaro a Israel e os protestos gerados no Brasil pela incitação do presidente a comemorar o golpe militar de 31 de março de 1964.

O presidente Jair Bolsonaro na Igreja do Santo Sepulcro, na Cidade Velha de Jerusalém, em 1º de abril de 2019.
O presidente Jair Bolsonaro na Igreja do Santo Sepulcro, na Cidade Velha de Jerusalém, em 1º de abril de 2019. REUTERS/Ammar Awad
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O canal de TV France 24, do mesmo grupo da RFI, afirma que a visita de Bolsonaro a Israel é benéfica aos interesses do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, que entra na reta final da campanha eleitoral para as legislativas de 9 de abril. Em uma espécie de agradecimento a esta aproximação, o ministro da Energia, Yuval Steinitz, declarou que a Petrobras vai participar de uma licitação para a exploração de petróleo e gás na costa israelense, informava nesta manhã o canal France 24.

"Netanyahu pode exibir o apoio do gigante sul-americano ao seu governo e a sua eventual continuidade no poder", diz a reportagem. Para Bolsonaro, o anúncio de abertura de um escritório comercial em Jerusalém e sua visita ao Muro das Lamentações, considerado em disputa pela comunidade internacional desde 1967, satisfaz às expectativas do eleitorado evangélico brasileiro, que foi fundamental para a eleição do ex-capitão de extrema-direita.

Por questões teológicas, explica a radio France Info, os evangélicos brasileiros acreditam que, quando os últimos dias chegarem, Deus trará o povo judeu de volta a Israel, onde reconstruirão o templo e, finalmente, aceitarão Jesus como o Messias legítimo. Isso desencadeará o retorno de Jesus e seu reinado na região.

Golpe de 1964

O jornal Libération relata a polêmica provocada pela incitação do presidente de extrema-direita para celebrar os 55 anos do golpe que instituiu 21 anos de ditadura no Brasil. "Para Jair Bolsonaro, o regime militar que prevaleceu no Brasil entre 1964 e 1985, eliminando ou empurrando para o exílio seus adversários, não era uma ditadura, mas uma 'contrarrevolução' que teria salvado o país de um suposto perigo comunista", explica o diário. A repressão, que fez 434 vítimas oficiais, e os milhares de dissidentes presos, torturados ou desaparecidos são considerados "problemas pequenos" para o presidente brasileiro, destaca o jornal francês.

Não há nada de novo nessa retórica do ex-capitão de reserva, mas a postura causou um certo constrangimento entre setores militares, informa Libération. Segundo análise de Daniel Aarão Reis, historiador da ditadura ouvido na reportagem, "o negacionismo do chefe de Estado é compartilhado hoje apenas por uma pequena minoria de brasileiros".

Várias unidades militares se anteciparam à data e leram uma mensagem enviada pelo Ministério da Defesa – a primeira iniciativa do gênero desde a criação da pasta, há 20 anos. O texto ignora a natureza autoritária do regime, justificando a tomada do poder pelo Exército devido ao contexto da Guerra Fria. Ao mesmo tempo, a mensagem também lembrou o retorno à democracia. "O tom geral foi bastante sóbrio", disse Daniel Aarão Reis.

Bolsonaro teria desejado uma defesa mais enérgica do golpe, opinou o historiador. "Sua decisão de celebrar os anos de chumbo teria embaraçado os militares. Eles não querem ser vistos como torturadores, e não querem fazer com que o passado se torne um problema", concluiu Daniel Aarão Reis.

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