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Escritora italiana Lisa Ginzburg lança livro de amor e tragédia no Brasil dos orixás

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Lisa Ginzburg é escritora italiana radicada em Paris. Ela acaba de publicar na França, seu primeiro romance traduzido para o francês. “Au pays qui te ressemble” (No país que é a tua imagem) narra uma história de amor feita de incompatibilidades e que se passa no Brasil.

Lisa Ginzburg, escritora italiana radicada em Paris.
Lisa Ginzburg, escritora italiana radicada em Paris. RFI
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A versão orginal do romance de Lisa Ginzburg é em italiano: « Per Amore » (2016). O título em francês « Au pays qui te ressemble » (2019, édition Verdier) é uma referência ao poema de Baudelaire « Convite à viagem ». O país do título é o Brasil, terra natal da paixão da narradora.

O romance conta a história de uma italiana, documentarista, que vive em Paris e se apaixona por um talentoso dançarino e coreógrafo afro-brasileiro. Tudo os separa : a geografia, a cultura, a origem social e a personalidade. No entanto, eles se casam e vivem, um pouco juntos, mas, principalmente, cada um em sua cidade, durante dez anos. Uma relação intensa e trágica, que termina com o assassinato do dançarino Ramos.

O romance é narrado na terceira pessoa, mas desde a primeira página o leitor tem a impressão de que a história é autobiográfica. Lisa Ginzburg confirma que o romance é baseado em fatos reais, mas afirma que o que a interessa é a transposição da realidade para a ficção. “Todo romance tem sempre um lado autobiográfico. Quanto mais trabalho como escritora, mais vejo como tudo se mistura. A qualidade das imagens, a força da história contada, o que é real e o que é imaginação.”

Lisa Ginzburg prefere não falar sobre a vida e as pessoas que a inspiraram. No espaço de ficção que ela criou no Brasil, com a excessão do país, quase todos os nomes de cidades, bairros, instituições, pessoas, são inventados. “A possibilidade de reinventar o nome dos lugares me dava uma força para recriar livremente as paisagens. As vezes, quando você cola ao que realmente aconteceu, você fica sem a liberdade de espaço necessária para escrever,” acredita.

História trágica

O Brasil se transforma rapidamente em algo hostil para a personagem da europeia e burguesa Vituca. Os desentendimentos são muitos e o final trágico. O dançarino Ramos, criado para ser o porta-voz do mundo dos orixás e de uma cultura popular e religiosa, não consegue se libertar dessas amarras e reprime sua bissexualidade. “Esse mundo que tentei descrever tem um lado que mexe muito com a espiritualidade, com a religião. Às vezes, são imposições. A pessoa não tem a liberdade de se exprimir, fugir. Cortar algumas raízes para ser o que ela quer ser. Essa impossibilidade é o contrário do amor porque o amor é o encontro entre duas pessoas livres”.

Ao contrário da imagem clichê de um país alegre e festivo, o território narrado pela escritora é opressor: ”Aqui tem um lado realmente autobiográfico. Eu fiquei com essa impressão de um lado muito sombrio, diferente da versão folclórica, da alegria, do carnaval. Eu senti muito esse lado mais pesado. O país tem raízes muito diversificadas, mas nem sempre dá a possibilidade a um simples ser humano de encontrar sua harmonia. Senti o Brasil como um mundo maravilhoso. Fiquei apaixonada pelo país, mas senti esse lado inextricável dessas muitas raízes”. Mais do que o país, a escritora diz que encontrou uma língua, o português, que ela passou a apreciar até mais do que o italiano.

Livros sobre o Brasil

Lisa Ginzburg tem vários livros publicados na Itália, além de “Au pays qui te ressemble”, duas outras obras também abordam o Brasil: Malìa Bahia, um relato sobre a cidade de Salvador, e Anita Garibaldi, um romance sobre a vida da brasileira que se casou com o herói da unificação italiana.

A escritora não cortou seus laços com o Brasil. Continua interessada na realidade brasileira e está preocupada desde a eleição de Jair Bolsonaro. Lisa faz contato com editoras para tentar publicar seu primeiro livro no país: “Sempre quando tem um olhar exterior, de um estrangeiro, sobre uma realidade fica mais difícil. (Os leitores) tem a suspeita de que a pessoa de fora não pode entender essa realidade. Para os editores é complicada essa escolha, mas acho que vai dar”, antecipa Lisa Ginzburg.

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