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“Bolsonarismo é uma articulação de radicalismo liberal com autoritarismo social”, diz professor da UERJ

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“Bolsonaro, neoliberalismo autoritário e ativismos emergentes”, foi o tema de uma palestra na quinta-feira (19), em Paris, do cientista político Breno Bringel, professor do Instituto de Estudos Políticos da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ).

O cientista político e professor da UERJ, Breno Bringel.
O cientista político e professor da UERJ, Breno Bringel. Foto: Elcio Ramalho/RFI Brasil
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Convidado pela Escola de Altos Estudos em Ciências Sociais para falar sobre o atual político e social do Brasil, Bringel, que também é diretor de Estudos Associado pela Fundação Maison Sciences de L’Homme de Paris, apresentou sua análise de um país que vive ao ritmo de uma série televisiva.

“Parece que a política brasileira é uma série da Netflix em que há uma série de episódios e acontecimentos bombásticos. O mais recente deles é o episódio do Moro com o Intercept que conseguiu, com essas mensagens do Telegram, ilustrar a falta de imparcialidade dele e como isso induziu à prisão do Lula”, opinou.

“Ao mesmo tempo, uma série de episódios vão trazendo personagens novos, que não estavam no cenário antes, e são esquecidos de maneira muito rápida. Parece uma trama em que há certas improvisações criminosas, conspirações. No meio de tudo isso é difícil criar uma narrativa analítica do que tem acontecido no Brasil”, pontua.

Nesse contexto, o especialista identifica o projeto que considera de cunho autoritário sob os pontos de vista econômico e social e justifica a escolha pelo título de sua palestra.

“Essa ideia de neoliberalismo autoritário é importante para definir o que é a base e o projeto do governo Bolsonaro, não como um projeto fascista como dizem alguns, ou necessariamente populista. Na base do bolsonarismo existe de fato uma articulação entre um projeto radicalmente liberal que está vinculado a um novo autoritarismo social”, explicou na entrevista à RFI Brasil. Mas o que acontece no Brasil se insere em uma tendência mundial e reveladora do esgotamento de um modelo.

“Isso é uma passagem e uma transição, não só no Brasil, mas em várias partes do mundo que é de um modelo social, liberal ou de um capitalismo com rosto humano, no qual democracia e capitalismo coexistiam bem, com algumas tensões. Hoje temos o próprio capitalismo fortalecendo essa dimensão do autoritarismo”.

Alternativas

No caso do Brasil, o cientista político vê muitos projetos de resistência a algumas iniciativas lançadas pelo governo. “Há resistências de dentro do próprio governo, que não é homogêneo, um bloco monolítico”, diz. Um exemplo é a agenda ambiental freada pela próprio setor do agronegócio, que alertou para os prejuízos de uma eventual saída do país do Acordo de Paris.

Numa análise mais ampla, desde os movimentos de rua e de oposição no período que culminou com a destituição da presidente Dima Rousseff, o especialista enxerga uma resistência que cataloga como “defensiva”. 

“Boa parte das esquerda e das sensibilidades mais progressistas do Brasil entraram em um momento de defesa do que havia sido conquistado nos últimos anos no país, luta contra o desmantelamento do Estado, contra as perdas dos direitos sociais, contra a possibilidade de que os conselhos de participação sejam totalmente banidos, por exemplo.”  

Essa dimensão da luta mais reativa, destaca Bringel, teria ocultado iniciativas de construção de alternativas políticas de fato. “No momento de autoritarismo forte, de ataques, é difícil imaginar construir algo para além do que está posto. Mas iniciativas estão caminhando para esta direção”, observa.

Segundo o professor da UERJ, as iniciativas práticas não são vistas na grande imprensa nem no atual debate político nacional. “O problema é que elas estão ocultas ou inviabilizadas pela polarização que estamos vivendo”, justifica.

Fla-Flu político

Para ele, uma série de atores sociais estão sendo “congelados” por causa dessa polarização, no entanto “muita gente não cabe nesse Fla-Flu, que por um lado tem Bolsonaro, do campo da direita e extrema direita, e de outro, o campo do PT ou do que historicamente se chamou popular democrático.Muitas pessoas e ativistas estão construindo alternativas que não se encaixam nesta visão”, esclarece.

Entre as articulações políticas que tentam despolarizar o debate, Bringel cita o movimento estudantil juvenil, que segundo ele se encontra “renovado”; movimentos indígenas, de camponeses e quilombolas, que “têm no território seu trunfo, identidade e foram de vida”, além de vários movimentos feministas ativos.

O cientista política cita ainda a iniciativa Gabinetona de Belo Horizonte, uma experiência de um mandato coletivo que conseguiu aglutinar em torno de um projeto, movimentos sociais, artistas, partidos e uma gama ampla de sensibilidades progressistas. “É um projeto interessante que está disputando narrativas, política e um modelo de cidade”, comenta.

Confira a íntegra da entrevista no vídeo abaixo

 

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