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Deputada trans Erica Malunguinho representa o “outro Brasil”, segundo Libération

O jornal francês Libération publica nesta segunda-feira (1°) o perfil da brasileira Erica Malunguinho, a deputada do "outro Brasil", que se opõe ao presidente Jair Bolsonaro em todos os terrenos possíveis, segundo o jornal.

O jornal Libération desta segunda-feira publica o perfil da brasileira Erica Malunguinho, a deputada do "outro Brasil", diz o jornal.
O jornal Libération desta segunda-feira publica o perfil da brasileira Erica Malunguinho, a deputada do "outro Brasil", diz o jornal. Fotomontagem RFI
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O Libération entrevistou a primeira mulher transgênero a ser eleita deputada no Brasil, durante a passagem de Erica Malunguinho por Paris, em meados de junho, para participar de um evento afro-feminista. Militante dos direitos negros e indígenas, Erica entrou na Assembleia de São Paulo, no dia de sua posse, com o punho erguido.

O gesto impressionou Libération que lembra que a ativista negra, de 37 anos, com um diploma de Estética e História da Arte pela USP, desenvolveu um pensamento “descolonial radical”, inspirado, entre outros, no francês Michel Foucault e no camaronês Achille Mbembe.

Ao jornal, Erica Malunguinho recordou o contexto de sua eleição pelo Psol em outubro de 2018. “Há vários Brasis, um é conservador, nacionalista, patriarcal e racista. O outro Brasil pega outros caminhos. Eu tive apenas 55 mil votos, muitos deputados do campo conservador obtiveram mais de um milhão", compara a deputada.

“É este outro Brasil que a ativista, natural do Nordeste, a região mais pobre do Brasil, representa”, diz o texto. Na Assembleia, ela criou uma frente parlamentar sobre as questões LGBT e tenta mobilizar outros em torno do problema da moradia, que afeta principalmente os brasileiros transgêneros.

Alternância de poder

Erica Malunguinho estima, principalmente, que sua eleição permite que “as pessoas que lutam há muitos anos contra a inferiorização de suas existências, possam imaginar uma alternância de poder”. O diário diz que a deputada tem um projeto claro: abrir o caminho para que as populações brasileiras que lutaram contra a escravidão e que hoje são atacadas pela política agressiva do presidente Jair Bolsonaro cheguem ao poder.

Luta contra a teoria de gênero, criação do ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, incentivos para que os brasileiros vistam os meninos de azul e as meninas de rosa ou presidente homofóbico: Libération relembra alguns fatos que marcaram o início do governo, antes de dar alguns dados sobre a realidade no país.

Segundo o IBGE, em 2016, 54,9% dos brasileiros se declaram negros ou mestiços. No entanto, menos de 10% dos deputados são negros ou mestiços. Durante muito tempo, o Brasil foi visto como o paraíso das relações interétnicas justas e cordiais, onde índios, brancos e negros coexistiam pacificamente. A expressão “democracia racial”, criada pelo sociólogo Gilberto Freire, é um mito, realça a matéria, evidenciando, como salienta Erica, “que a maioria das pessoas presas ou assassinadas no país tem uma cor”.

Nova Marielle Franco?

Especialista de arte africana, defensora da cultura quilombola, Erica Malunguinho, foi indicada pela versão brasileira da revista Marie Claire como “uma nova Marielle Franco”. A Libération, a deputada questiona essa filiação midiática: "Nós enfrentamos lutas similares, mas que não têm necessariamente a ver uma com a outra. Marielle faz parte de uma história muito maior. O mais importante é lembrarmos de sua luta, de sua morte, e do fato que ela denunciava as práticas do Estado", afirma Erica.

Desafiadora, ela garante não sentir medo: "vocês ocidentais, têm medo. Eu estou acostumada com a violência, pois nasci morta". A possibilidade de um exílio para ela, que tem tanto a fazer no Brasil, esta excluída, conclui Libération.

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