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Brasil/ desmatamento

Queimadas fazem voo noturno sobre a Amazônia parecer dia, afirma arqueólogo francês

Os últimos dados do Inpe (Instituo Nacional de Pesquisas Espaciais) sobre o desmatamento alarmaram especialistas que trabalham há décadas na maior floresta do planeta, como o arqueólogo francês Stéphane Rostain, diretor de pesquisas do renomado Centro Nacional de Pesquisas Cientificas (CNRS), e autor de “Amazônia: os 12 trabalhos das civilizações pré-colombianas”. Nesta terça-feira (6), o instituto revelou que a devastação da Amazônia cresceu 278% em julho, em relação ao mesmo período do ano passado.

A superfície de sete campos de futebol desaparece da Amazônia a cada segundo, afirma Rostain.
A superfície de sete campos de futebol desaparece da Amazônia a cada segundo, afirma Rostain. Mayke Toscano/Gcom-MT
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“Há pouco tempo, sobrevoei a Amazônia à noite e fiquei estupefato com a quantidade de fogueiras que víamos por todos os lados, num voo de Manaus a São Paulo. Estava tão iluminado que parecia que estávamos de dia”, relata o estudioso, em entrevista à RFI. “Ou seja, é inegável. Qualquer um pode observar o desmatamento concretamente”, afirma, ao comentar os sucessivos questionamentos do presidente Jair Bolsonaro quanto aos números do desmate.  

“Isso é uma palhaçada de um personagem. Ele beneficia os desmatadores”, afirma Rostain. “Todos os observadores internacionais chegam aos mesmos resultados que o Inpe.”

Alta da devastação começou em 2012

O especialista pondera que, embora a retórica de Bolsonaro seja abertamente contrária à preservação da floresta e favorável à mineração, a curva do desmatamento começou a subir bem antes da ascensão ao poder do ex-militar. A virada na preservação foi o Código Florestal de 2012, que flexibilizou as regras e abriu a porta para a anistia de quem desmata.

“No início dos anos 2000, com Lula, havia riscos a quem desmatasse. Mas como as penas não eram aplicadas, a devastação voltou a subir em 2012 [sob a presidência de Dilma Rousseff]. Agora, a expectativa é ter recordes anuais”, explica o arqueólogo, apelidado de “o verdadeiro Indiana Jones” pela imprensa francesa. “Não é a política de Bolsonaro que está em jogo [nos dados atuais], mas ela terá certamente consequências. Não foi ele quem iniciou esse movimento, mas ele sempre foi muito claro: a floresta deve ser produtiva, deve nos dar alguma coisa.”

Na entrevista à RFI, Rostain dá uma ordem de grandeza do que os números atuais significam: a superfície de sete campos de futebol desaparece da Amazônia a cada segundo.  “A floresta está queimando de uma forma terrível, e sendo substituída por culturas que matam os solos. Estão substituindo a vida, a reserva de biodiversidade e de carbono que representa a Amazônia, essencial para a sobrevivência na Terra, pela morte.”

278% em um ano

As áreas desmatadas na Amazônia totalizaram 2.254 km2 em julho, 278% a mais que em julho de 2018 (596,6 km2), segundo os dados oficiais. Nos últimos 12 meses, o aumento do desmatamento na região foi de 40% com relação aos 12 meses anteriores, totalizando 6.833 km2, de acordo com o sistema de Detecção em Tempo Real (Deter), do Inpe.

O Deter já havia destacado, em junho, uma alta de 88% com relação ao mesmo mês do ano passado. Na ocasião, Bolsonaro questionou os dados e insinuou que o presidente do Inpe, Ricardo Galvão, poderia estar a serviço de alguma ONG. Dias depois, na sexta-feira (2), Galvão foi exonerado e, em seu lugar, foi nomeado interinamente o militar Darcton Policarpo Damião.

O presidente e o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, rebateram na semana passada as leituras das imagens de satélites publicadas pelo Inpe e prometeram a implantação de outro, que seria mais preciso.

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