Artista plástico Oscar Oiwa expõe em Paris obras de três cidades ligadas pelas Olimpíadas
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A exposição "Rio, Tóquio, Paris – cidades, Jogos”, marca a volta do artista plástico brasileiro de origem japonesa Oscar Oiwa à capital francesa. Seu trabalho exibido a partir desta quarta-feira (18), na Maison de la Culture du Japon (Casa da Cultura do Japão) retrata sua percepção de três cidades muito diferentes, mas ligadas pelo maior evento esportivo do planeta: as Olimpíadas.
Arquiteto de formação, Oscar Oiwa é nascido em São Paulo e deixou o país durante a crise dos anos 1990 para se instalar em Tóquio. Atualmente vive em Nova York, onde realizou em seu ateliê, em apenas dois meses, as obras que compõe a exposição: sete telas e um grande mural desenhado em preto e branco.
Ele já expôs algumas obras em galerias parisienses, mas é a primeira vez, em mais de cinco anos, que ganhou um espaço para apresentar uma exposição completa dedicada ao seu trabalho.
A diretora artística de mostra da Maison de la Culture du Japon em Paris, Aomi Okabe, refletiu sobre um tema que unisse a vivência do artista e relação entre as três cidades, e assim surgiu a ideia das Olimpíadas. Rio, do país natal de Oiwa, sediou o evento em 2016, Tóquio vai acolher os Jogos no ano que vem, e depois passará o bastão para Paris, em 2024.
“Tanto no Rio como em Tóquio, há muita polêmica porque movimenta muito dinheiro e política. Mas é um evento que acaba, bem ou mal, unindo o mundo inteiro. Quis pegar esse lado internacional dos Jogos, que movimenta as pessoas”, explicou.
Cada painel retrata uma cidade, com seus símbolos, problemáticas e questões relacionadas com as Olimpíadas. Mas o trabalho teve que superar alguns obstáculos. “Tudo o que é relacionado com o evento como a marca, a palavra Olimpíadas, os atletas, tudo tem direitos autorais e não pode ser representado. Ou seja, é muito difícil representar as Olimpíadas sem retratar atletas, mascotes. Então direcionei para o passado, à antiga Olímpia, aos jogos da Antiguidade na Grécia”.
São duas telas sobre o Rio, “Maracanã”, que faz referência direta ao desejo de muitas crianças de serem jogadoras de futebol, e “Praia”, que ilustra um fragmento da vida urbana carioca: uma mesa de bar de domingo com uma tela de televisão transmitindo um evento esportivo.
Tóquio é retratada em telas que mostram a entrada de uma casa e a disposição de objetos que simbolizam a relação de moradores com atividades esportivas e um centro de treinamento de boxe.
Paris, cenário de três telas, traz referência ao espírito revolucionário dos franceses e aos movimentos sociais recentes, que levaram violência às ruas. “Quis retratar o lado de Paris que sempre está em chamas. Quis associar a chama da revolução do espírito francês com a chama olímpica”, justificou.
Mas uma das telas utiliza doces da confeitaria para fazer alusão aos cinco anéis olímpicos, um artíficio sutil para driblar a proibição de usar a marca do evento.
O mural de cerca de 20 metros de largura e três de altura é a obra mais emblemática da exposição. Oscar resgatou uma técnica japonesa de painéis que se desenrolam e são vistos da direita para a esquerda.
São três obras, que podem ser vistas horizontalmente, de maneira independente, mas que se observadas juntas na vertical, como mostra o desenho original, formam uma peça única, representando Zeus, o Deus do Olimpo.
“Normalmente eu tenho uma ideia meio vaga, sem foco. Eu começo a pensar, pesquisar, vou ao lugar, começo a ler e ver filmes e contato pessoas para confirmar o tema. Em seguida procuro a informação visual, depois transfiro para os desenhos ou telas grandes”, diz Oscar sobre seu processo criativo.
Paralelamente à exposição na capital francesa, uma instalação de do artista é exibida do Centro de Arte Hangar, em Bruxelas.
Seu novo projeto o levará a Xangai, onde vai fazer uma obra tridimensional monumental e permanente em um parque criado em uma área revitalizada ao lado do rio que corta a cidade. A perspectiva de voltar a expor no Brasil ainda está distante. “O país está em crise, não tem dinheiro, as pessoas marcam e desmarcam. Está meio devagar, mas quero ir para o Brasil também”, diz.
A exposição “Rio, Tóquio, Paris – cidades, Jogos” ficará aberta ao público na Maison du Japon até o dia 14 de dezembro de 2019.
Clique abaixo para ver a íntegra da entrevista
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