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“Leiam escritores brasileiros vivos!”, pede Fred Di Giacomo, finalista do Prêmio SP de Literatura

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Fred Di Giacomo é um dos finalistas do importante Prêmio São Paulo de Literatura deste ano, na categoria Melhor Romance de Ficção de Estreia. O escritor e jornalista freelancer, que mora atualmente na Alemanha, concorre com “Desamparo”, publicado em 2018 pela Reformatório. Nesta entrevista à RFI, concedida em Frankfurt, ele afirma que a literatura brasileira atual “é uma das melhores dos últimos 50 anos” e recomenda: “leiam escritores brasileiros vivos!”

O escritor Fred Di Giacomo.
O escritor Fred Di Giacomo. A. Brandão/ RFI
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Fred Di Giacomo aproveita a temporada na Alemanha para divulgar sua literatura na Europa. No início do ano, ele participou do Printemps Littéraire em Paris, e, em outubro, da importante Feira do Livro de Frankfurt. O escritor tem oito livros publicados. O último deles, “Desamparo”, é o seu primeiro romance. A ficção é inspirada na história de Penápolis, sua cidade natal no oeste paulista.

“Meu primeiro romance surge com a vontade de contar a história do mato de onde eu saí. Ouvi o Drauzio Varella dizer que se você não for um Dostoïevski ou um Tolstoï, escreva sobre algo que só você pode escrever. E o que só eu conhecia era Penápolis. A minha cidade sempre foi uma piada entre meus amigos. Eu era o caipira!”, conta Di Giacomo.

O escritor fez uma pesquisa e descobriu vários fatos históricos que marcaram a região, como uma colonização violenta, no século 20, que praticamente dizimou dois povos indígenas, e a sina do único fazendeiro negro do local, injustamente acusado de um crime. O livro é “baseado em uma pesquisa jornalística, mas é um livro de ficção, realismo mágico (...). Um Hamlet tropical; Hamlet do sertão.”

Melhor literatura dos últimos 50 anos

Fred Di Guacomo se identifica com a literatura brasileira atual feita por escritores de periferias, mas também autores regionais como o baiano Itamar Vieira (vencedor do Prêmio Leya), a pernambucana Micheliny Verunschk, o cearense Mailson Furtado (vencedor do Jabuti 2018), ou da carioca Deborah Dornellas (vencedora do Casa de Las Américas), publicados por editoras independentes ou auto-publicados. “Sinceramente, é a melhor literatura dos últimos 50 anos!”, afirma.

“A gente está um pouco cansado dessa literatura que vem do final dos anos 1970 que é auto-ficção, pessoas urbanas, geralmente homens brancos, falando geralmente sobre eles mesmos, seu grande ego e de como é difícil escrever um livro (...) Por isso até que os livros vendem pouco! Claro, os livros contam sempre a mesma história das pessoas que não são a cara do Brasil.”

Di Giacomo ressalta que as várias políticas públicas recentes abriram espaço e mercado para essa nova geração. Além de recomendar a leitura de escritores vivos, ele pede a inclusão de autores brasileiros vivos em listas de vestibular, em leitura obrigatória de escola. “Vai mudar a vida desses autores serem lidos.”

Escala de loucura

Sobre os cortes do governo no setor cultural, o escritor paulista acredita que as grandes editoras são as mais atingidas: “as editoras independentes realmente funcionam com pouco dinheiro. (...) A não ser que tenha uma repressão, como a gente tem visto, censura, como agora que teve quatro peças (de teatro) censuradas, isso pode atrapalhar. Mas ninguém vai impedir, por exemplo, a Coperifa de existir porque não tem mais a venda para o governo. “

Mas “é um momento difícil e a gente não sabe onde vai parar, porque tem uma escala de loucura do governo Bolsonaro que a gente não sabe onde vai terminar. Qual o impacto se eles começarem a boicotar o FIES, o sistema de cotas? É uma mudança mais estrutural. Pode ser que os autores que hoje em dia estão tendo acesso a uma boa educação, a uma faculdade, não tenham mais isso”, teme o finalista do Prêmio São Paulo de Literatura.

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