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Saúde em dia

INCA fará “radiografia” de tipos de câncer no Brasil associados com sedentarismo e obesidade

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Praticar esporte ou alguma atividade física faz bem para a saúde. Isso não é novidade para ninguém. Mas as pesquisas avançam sobre esse tema e confirmam que essa associação só traz benefícios ao corpo principalmente por evitar muitas doenças, entre elas o câncer. As mais recentes pesquisas internacionais sobre o assunto vão ajudar o Brasil a desenvolver seu próprio estudo dos vários tipos de tumores vinculados a dois grandes problemas atuais do país: sedentarismo e obesidade.

A Wellspring Academy, é uma escola especializada em tratamento contra a obesidade dos jovens, em Reedley na California, onde o esporte é obrigatóriot est obligatoire.
A Wellspring Academy, é uma escola especializada em tratamento contra a obesidade dos jovens, em Reedley na California, onde o esporte é obrigatóriot est obligatoire. © Getty images/AFP/Justin Sullivan
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Em 16 de maio, o Jornal da Associação Americana de Medicina divulgou o mais recente estudo comprovando que os efeitos positivos da prática de exercícios regularmente. Eles podem reduzir o risco do aparecimento de até treze tipos de tumores.

Pesquisadores do Instituto americano do Câncer dos Estados Unidos observaram um total de 1 milhão e 440 mil pessoas nos Estados Unidos e na Europa, com idade entre 19 e 98 anos. Essa população foi seguida durante 11 anos. Alguns estudos anteriores já analisavam a relação entre os exercícios físicos e o câncer de cólon, do seio e do endométrio. Mas os resultados não consideravam outros tipos de tumores e contavam com um pequeno número de casos estudados.

Assim, na população que pratica exercícios regulares na amostra estudada, além da diminuição de tumores no cólon, no seio e no endométrio, os pesquisadores do Instituto do Câncer dos Estados Unidos também detetaram a redução do risco de outros dez tipos de câncer, entre eles, do esôfago (-42%), fígado (-27%), pulmão (-26%), rins, (-23%), estômago (-22%), e sangue (-20%). A média geral de redução do desenvolvimento de tumores em pessoas que realizam atividades físicas regulares foi de 7%.

“Uma das grandes novidades do estudo é uma grande gama de tumores que o exercício e a atividade física podem prevenir. Isso é raro. Eles conseguiram incluir 23 tipos de tumores e, entre eles, metade houve redução de riscos pela atividade física”, avalia Fernando Frajacomo, pesquisador visitante do Instituto Nacional de Câncer do Brasil (INCA).

Estilo de vida da sociedade moderna

Segundo a pesquisa americana, caminhar, correr, nadar ou andar de bicicleta durante 150 minutos por semana, em uma intensidade moderada, ajuda muito a combater o desenvolvimento de tumores. Entretanto, os exercícios físicos foram relacionados a um aumento de 5% do risco de câncer de próstata e 27% de câncer de pele, sobretudo em regiões ensolaradas dos Estados Unidos.

“O estilo de vida da sociedade moderna foi colocado em xeque. Não há como conseguir estabelecer um estilo de vida cada vez mais sedentário, com longos períodos de inatividade, com saúde”, afirma Frajacomo. “É cada vez mais importante quebrar esses longos períodos de inatividade, com atividades, mesmo que sejam domiciliares, ou mesmo no trabalho”, o estudo mostra que pode haver redução de diversos tipos de câncer”.
“Para alguns tipos de câncer, não houve surpresa.

Eles reiteram o que já vem sendo veiculado pelos grandes centros institucionais. Por exemplo, o câncer de mama, de cólon e do endométrio. Sobre esses três tipos de câncer, há um bom tempo já havia evidências de que atividade física previne esses tumores”, explica.

“O que chama a atenção no estudo é o caso de câncer no esôfago, que teve uma redução significativa, 42%. Em relação a outros tipos de tumores, havia trabalhos mas não tão expressivos e não com uma população tão grande observado, como por exemplo, câncer de fígado, estômago, linfoma. São tumores muito diferentes e o exercício, a atividade física regular, consegue ter uma abrangência muito grande, em diferentes tipos de tumores.
É muito interessante porque não tumores muito diferentes sob o ponto de vista evolutivo”, destaca o pesquisador.

Pesquisas no Brasil

O INCA do Brasil desenvolve diversas pesquisas para avaliar as consequências das atividades físicas em relação ao câncer. Por enquanto, os estudos principais são feitos com animais “Nossos modelos são interessantes porque a gente combina atividade física, comparando para saber até que ponto um exercício pode diminuir um tipo de câncer. No INCA conseguimos ter uma visão ampla porque vários modelos são usados. Para entender determinados mecanismos ainda precisamos recorrer a animais”, explica.

Integrante do Programa de Carcinogênese Molecular, Fernando explica que paralelamente também são feitos estudos observacionais com pacientes do próprio INCA, principalmente de câncer de mama para entender o efeito da atividade física tanto para a prevenção quanto no pós-diagnóstico. “Muito em breve devemos evoluir para combinar o tratamento oncológico com modelos de atividades físicas. O objetivo é tentar melhorar o prognóstico e diminuir a mortalidade”, informa.

O Instituto Nacional do Câncer tem como projeto mais ambicioso estabelecer um amplo estudo envolvendo todas as regiões do país para identificar e entender a incidência dos vários tipos de tumores em diferentes locais. “A diferença é gritante”, constata Luis Felipe Ribeiro Pinto, vice-diretor-geral do INCA.

“Nas regiões sul e sudeste, mais desenvolvidas, que sofreram mais o processo de urbanização e são mais adeptas do estilo de vida de fora, por exemplo, uma alimentação mais processada e com um maior sedentarismo, percebemos que os tipos de câncer que mais incidem nessas população estão mais próximos dos tumores que atingem os americanos e europeus do norte da Europa”, avalia.

O foco da pesquisa será concentrado nas observações de uma dupla que será, na avaliação de Luis Felipe “o tabaco do século 21”: o sedentarismo e a obesidade.

“Nas pesquisas nacionais de saúde estamos vendo o aparecimento cada vez maior nos brasileiros dos vários tipos de câncer associados com a obesidade, como mama, próstata, rim e pâncreas”, explica.

Diante desse quadro que se torna alarmante, o INCA vê a necessidade de fazer um amplo levantamento nacional ligando os dois fatores. A rede seria constituída com a ajuda de universidades, instituições e centros de pesquisas e o envolvimento do governo por meio do ministério da Ciência e Tecnologia para garantir os recursos de maneira permanente. “Nossa ideia é ter uma radiografia da situação da obesidade e do sedentarismo em cada região do Brasil”, resume.

Paralelamente, a entidade espera desenvolver e reforçar parcerias com centros de pesquisa dentro e fora do país sobre o mesmo tema. “Vários estudos indiretos já demonstram o impacto da obesidade e do sedentarismo no surgimento de vários tipos de câncer na população brasileira e em uma velocidade absurdamente rápido. Isso é extremamente preocupante”, insiste.

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