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Planeta Verde

Corais são ameaçados pelo aquecimento global

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Os corais marinhos estão em pleno processo de branqueamento. Essa é uma tendência mundial, que preocupa muito a comunidade científica. Cientistas dizem que em 2016 o mundo irá ultrapassar o índice de mortalidade dos corais já registrado. No Brasil, em 1998, 60% dos corais passaram por um processo de branqueamento, e este ano deve ser ainda maior.

Branqueamento no Recife de Fora abril 2016 -Mourao
Branqueamento no Recife de Fora abril 2016 -Mourao @Projeto Coral Vivo 01
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As causas do branqueamento dos corais são diversas. Vão desde uma maior incidência de raios solares ao aumento da temperatura das águas, passando pela acidificação dos oceanos. A cor dos corais existe por causa da presença de algas no esqueleto do coral que, em uma simbiose, dependem um do outro para viver. Com uma maior temperatura das águas ou uma forte incidência de raios solares, essas algas acabam saindo ou sendo expulsas pelos corais, ficando apenas o esqueleto branco.

Corais brasileiros têm vantagem

Emiliano Calderon, biólogo e coordenador de pesquisas no Projeto Coral Vivo, no Rio de Janeiro, explica que, neste ano de El Niño (2016), é registrado um alto nível de branqueamento dos corais em geral, por causa do aumento das temperaturas das águas. Porém, no Brasil, a intensidade é menor do que a registrada em outras partes do mundo, mesmo que ela esteja se intensificando.

Segundo Calderon, existem algumas hipóteses para essa menor ocorrência nos corais brasileiros. Ele explica que, no Brasil, pelas águas serem mais turvas que em mares como os do Caribe ou da Grande Barreira na Austrália, os corais tendem a ser mais resistentes. “A penetração de luz solar é menor, assim, um dos fatores que causam o branqueamento é atenuado pela característica física do local”, disse. Outra teoria é que, justamente pela água ser mais turva, existem mais partículas no local que servem de alimento aos corais. Assim, mesmo sem as algas, eles conseguem sobreviver.

Apesar dessa vantagem, Calderon afirma que hoje tem um número drástico de branqueamento registrado na região de Porto Seguro, na Bahia. “Em alguns locais que nós monitoramos, foram registrados até 50% de branqueamento de corais de algumas espécies. Essa é uma incidência relativamente alta ao que a gente costuma registrar no Brasil”, disse. Mas ele ressalta que esse dado é pontual, e pode mudar de um local para outro. A média brasileira de branqueamento é de 20%.

Calderon ainda diz que esses eventos têm se intensificado no mundo desde a década de 1980, e a principal causa para isso é o aquecimento global. Uma das razões é que os efeitos do El Niño são intensificados e duram mais tempo, gerando mudanças climáticas que afetam o meio ambiente em geral.

Acidificação: a preocupação do futuro

Para Xavier Bougerard, responsável pelas ações educativas da Tara Expeditions Foundation, em Paris, o aumento da temperatura das águas é a principal preocupação dos cientistas hoje, pois está acontecendo neste momento e já causa muitos danos ao meio ambiente aquático. Um estudo feito pelo NOAA (Administração Oceânica e Atmosférica Nacional, na sigla em inglês), nos Estados Unidos, diz que a temperatura na região do Brasil vai subir em 0,5°C.

Mas, por outro lado, a acidificação dos oceanos é uma inquietação que começa agora, e que pede muita atenção no futuro. Segundo Bougerard, a acidificação ameaça a vida marinha de forma geral, mas, principalmente, a de animais que possuem calcário na sua composição, como os esqueletos dos corais. A acidificação é causada pela maior presença de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera.

Desde a Revolução Industrial a quantidade de CO2 aumentou em mais de 60% e vem, principalmente, da queima de combustíveis fósseis, diz Bougerard. Esse gás carbônico se mistura na água causando a acidificação.

“O Ph dos oceanos é bastante estável, com uma acidez que fica entre 8,2, e os animais estão acostumados a esse meio. Se modificamos essa acidez, isso vai incomodar muito as espécies, de maneiras diversas”, diz o especialista. “Mas os danos maiores vão ser nos organismos com conchas ou calcário na sua formação, pois ele [o calcário] se dissolve em ambientes ácidos”.

Bougerard diz que muitas espécies de plânctons, maiores produtores de oxigênio do planeta, possuem uma camada de calcário. Se essa espécie de carapaça for destruída, ou acabar mal formada por causa de um meio muito ácido, eles vão ter dificuldades de se defender de predadores e até problemas de reprodução. Isso poderia trazer graves problemas no futuro.

Existe um mundo sem coral?

Emiliano Calderon diz que “se os corais acabassem, perderíamos todo esse ecossistema”. “Os corais de recifes sustentam toda uma cadeia atrófica, desde os menores microrganismos, grandes predadores e até a população humana que vive da extração. Quando a gente fala em perder coral, a gente fala em perder o ecossistema.”

André Abreu, responsável pelas políticas de ambiente e clima na Tara Expeditions, tem uma certa esperança no futuro e diz que precisamos de otimismo para lutar pelas causas da ecologia marinha. Junto com mais de 70 organizações do mundo todo, a Tara Expeditions conseguiu fazer com que no texto da convenção do clima, a COP21, fosse citado duas vezes os oceanos, coisa que ainda não tinha sido alcançada em nenhuma outra conferência. “Não podemos cair no militantismo do sacrifício, da privação e da luta contra o desenvolvimento. Num contexto de crise como o que vivemos hoje, é difícil frutificar”, disse.

Cientistas dizem que o ser humano conhece mais o território da Lua do que os oceanos na Terra. Abreu diz que é necessário ter ciência, conhecimento e mobilização em relação aos oceanos, para que medidas que possam ajudar a salvar nosso planeta sejam tomadas.
 

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