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Ciência

Perturbadores endócrinos em cosméticos são associados à puberdade precoce em meninas

A relação entre perturbadores endócrinos presentes em cosméticos e a puberdade precoce em adolescentes é cada vez mais apontada por pesquisas. Um estudo publicado nesta terça-feira (4) na revista científica americana Human Reproduction sugere que a exposição de mães grávidas a várias substâncias suspeitas de alterar o equilíbrio hormonal pode influenciar o amadurecimento de meninas.

Na França, um grande número de casos de puberdade precoce vêm sendo relacionados aos perturbadores endócrinos.
Na França, um grande número de casos de puberdade precoce vêm sendo relacionados aos perturbadores endócrinos. PASCAL LACHENAUD / AFP
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Dirigido pelas especialistas Kim Harley e Brenda Eskenazi, da Universidade da Califórnia, a pesquisa aponta que a puberdade precoce em garotas é relacionada principalmentre a três moléculas: monoetileno de ftalato (MEP), triclosan (TCS) e o 2,4-diclorofenol (2,4-DCP). Essas substâncias são facilmente encontradas em produtos de higiene (como sabonetes ou cremes dentais), beleza (como produtos perfumados) e até mesmo em detergentes e perfumes de ambiente.

Para chegar a esses resultados, a equipe de Harley e Eskenazi utilizou dados de 340 bebês e suas mães. As mulheres foram recrutadas no início da gravidez e as crianças oriundas dessas gestações foram regularmente examinadas até a puberdade. Segundo os pesquisadores, a exposição em dobro ao monoetileno de ftalato foi associada ao aparecimento avançado de pelos pubianos das meninas (um avanço de 1,3 meses, em média). Já a exposição em dobro ao triclosan e o 2,4-diclorofenol foi relacionada à precocidade da primeira menstruação (um avanço de pouco mais de um mês, em média).

Outro fenômeno que também chamou a atenção dos especialistas foi que a utilização de produtos com parabenos - comuns nos cosméticos - pode ter adiantado a primeira menstruação ou ter ocasionado o desenvolvimento precoce dos seios. Os pesquisadores não descartam, no entanto, a "casualidade inversa". "Meninas que têm a puberdade precoce podem estar mais inclinadas a utilizar produtos de higiene e de cuidados corporais" e, assim, estarem mais expostas a perturbadores endócrinos.

Puberdade precoce de garotas não é fenômeno raro

O estudo não trouxe resultados significativos sobre a exposição a essas substâncias e a variação da idade da puberdade dos meninos - um fenômeno que não é desconhecido na ciência. Na França, por exemplo, o início da adolescência precoce (antes dos 9 anos) atinge dez vezes mais as garotas.

O desenvolvimento precoce do organismo do adolescente causa distúrbios na vida adulta. As meninas, por exemplo, têm maior probabilidade de desenvolver câncer de seio ou ovário. Já os garotos correm o risco de desencadear câncer nos testículos.

Entretanto, raramente o fenômeno foi considerado como uma patologia, sem que pesquisadores se preocupassem em decifrá-lo até mais recentemente. Nas décadas passadas, uma das raras publicações, na revista científica New England Journal of Medicine, data do início de 1982. Ela indica uma diminuição contínua na idade da primeira menstruação: em torno dos 16 anos no início do século 20 - média que passa aos 13 anos de idade a partir de 1970.

Em 2008, uma pesquisa publicada na revista Pediatrics concluiu que a exposição de crianças a certos perturbadores endócrinos era relacionada ao sobrepeso. Vários estudos mostram que essas substâncias também influenciam no metabolismo de gorduras e açúcares ingeridos, favorecendo o ganho de massa corporal.

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