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Linha Direta

Oposição síria ameaça boicotar negociações de paz da ONU

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A guerra na Síria é o foco de uma negociação internacional nesta sexta-feira (29), em Genebra, que tem como objetivo um acordo entre o governo sírio e seus opositores. Trata-se da terceira tentativa das Nações Unidas para acabar com quase cinco anos de um conflito que já matou cerca de 250 mil pessoas e provocou a fuga de 4,5 milhões de sírios para fora do país, de acordo com a ONU. Mas a negociação começa de forma nebulosa, com a ameaça do maior grupo de oposição de boicotar o encontro.

Mediador da ONU para a Síria, Staffan de Mistura, durante uma coletiva de imprensa em Genebra, em 25/01/16.
Mediador da ONU para a Síria, Staffan de Mistura, durante uma coletiva de imprensa em Genebra, em 25/01/16. Reuters/路透社
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Deborah Berlinck, correspondente da RFI Brasil em Genebra,

O governo sírio confirmou o envio de uma delegação, sob o comando do ministro das Relações Exteriores, Walid Al-Moualem. Mas do lado dos rebeldes paira a dúvida. O principal grupo de oposição, o Comitê de Altas Negociações, que reúne várias correntes de oposição, está em Riade, na Arabia Saudita. Na quinta-feira este grupo impôs uma condição: não desembarca em Genebra enquanto não houver garantias da ONU de que haverá cessar-fogo e o fim do bloqueio para acesso da ajuda humanitária.

Quando a negociação realmente começar, se os opositores vierem, a ideia é que rebeldes e governo sejam colocados em salas separadas, ou seja: inimigos nem se veriam. O enviado especial da ONU, Staffan de Mistura, ficaria circulando de uma sala para outra, tentando um acordo. Ele enviou ontem um mensagem de vídeo ao povo sírio, em que lembra dos dois fracassos na tentativa de obter a paz, e termina com o alerta de que, desta vez, a negociação não pode falhar.

Objetivos imediatos do encontro

O objetivo imediato é um cessar-fogo, mesmo que seja de curto prazo, para permitir que agências das Nações Unidas e grupos humanitários possam levar medicamentos e comida para cidades sitiadas. Segundo a ONU, 400 mil pessoas em 18 cidades, estão sem acesso à ajuda humanitária.

Com exceção de Deir al Zour, cidade cercada pelos radicais do grupo Estado Islâmico, a maioria destas cidades estão cercadas pelo exército sírio. Mas este é o primeiro passo. O objetivo maior, claro, é organizar a transição política na Síria para possibilitar o fim da guerra. Foi este o objetivo estabelecido por uma resolução do Conselho de Segurança da ONU, aprovada em dezembro passado.

No meio diplomático, pouca gente crê no sucesso. A negociação vai começar de forma nebulosa, sob a batuta de um novo enviado especial das Nações Unidas, o veterano diplomata sueco-italiano Staffan de Mistura.

A ONU enviou convites na terça-feira, mas não diz nem confirma quem virá. Até a véspera do encontro reinava a confusão sobre quem representaria a fragmentada oposição síria. As incertezas são tantas que não se sabe sequer a que horas o encontro vai começar.

Principais dificuldades

As dificuldades de chegar a um acordo são inúmeras. Começa pela questão crucial: quem representa a oposição síria? Os rebeldes sírios têm um objetivo comum: derrubar o governo do presidente Bashar al Assad, mas eles brigam entre si. Potências regionais e internacionais alimentam estas divisões.

A Arábia Saudita patrocina vários grupos rebeldes reunidos no chamado “Comitê de Altas Negociações” porque quer a derrubada de Assad. Os russos apoiam o líder sírio e querem que os curdos da Síria participem das negociações de paz. Mas a Turquia, outro país-chave na busca de uma solução para o conflito, não aceita a participação de curdos, que considera como terroristas.

Há os radicais do grupo Estado Islâmico, que não negociam com ninguém. Para complicar, este conflito ganhou uma dimensão sectária. A maioria sunita da Síria se revolta contra uma minoria governante alauita, isto é, que pertence a uma seita do xiismo, outra corrente do Islã, o que incomoda o Irã.

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