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Diretor sírio comove Festival de Avignon com cotidiano de população em guerra

O diretor sírio Omar Abusaada apresenta no Festival de Teatro de Avignon, no sul da França, uma peça sobre a Síria de hoje, bem longe dos clichês veiculados pela mídia ocidental.

O diretor sírio Omar Abusaada
O diretor sírio Omar Abusaada Siegfried Forster / RFI
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Vivendo em Damasco com sua família, ele é um dos maiores diretores de teatro contemporâneo do país, que enfrenta uma sangrenta guerra civil há mais de cinco anos. Omar apresenta atualmente suas peças no mundo inteiro, mas não pode mais mostrar seus espetáculos em sua terra natal, pois arriscaria a própria vida.

"Alors que J'attendais" ("Então eu esperava", em tradução livre) é a história do jovem Taym, que entrou em estado de coma depois de ter sido espancado em circunstâncias misteriosas em uma das centenas de barreiras militares do país.

Esse é o ponto de partida da peça que, segundo o diretor, é uma metáfora da Síria de hoje: "Nem vivo nem morto, o país se encontra em uma espécie de zona cinza, entre esperança e desespero", diz.

Cotidiano de um país em guerra

Utilizando recursos cênicos do teatro contemporâneo, como vídeos, o espetáculo é pontuado por trechos de rap e mostra uma juventude síria não tão diferente da ocidental: muito voltada para as redes sociais e com questionamentos em relação ao amor, ao futuro, à família, mesmo vivendo em um país em conflito.

Segundo Omar, a ideia é mostrar o cotidiano, as interrogações dos indivíduos que vivem nesse caos. Mas, também, através dessa experiência teatral, dar uma imagem do país bem diferente daquilo que é veiculado no cinema ou na televisão internacional.

Para criar essa peça, Omar Abusaada e o autor do texto, o também sírio Mohammad Al Attar, fizeram um vasto trabalho de pesquisa junto às famílias que vivem a dramática situação de ter seus próximos em estado de coma. Eles conviveram com essas famílias em hospitais de Damasco e colheram reflexões profundas para criar o que eles chamaram de "onipresença da ausência", referência ao personagem central que, embora vivo, está ausente.

Cena da peça "Alors que J'attendais", do diretor sírio Omar Abusaada
Cena da peça "Alors que J'attendais", do diretor sírio Omar Abusaada © Christophe Raynaud de Lage

Em entrevista à RFI, Omar explica que o espetáculo tem obviamente uma dimensão política. Ele leva o espectador a se questionar sobre o que ocorre hoje na Síria - uma situação bem mais complexa do que se pensa.

Ele refuta as informações de que o país vive entre o ditador Bashar al-Assad e o grupo Estado Islâmico. "A realidade do país não é hoje uma escolha entre uma coisa e outra. A grande maioria dos sírios vive fora dessas 'duas zonas'. Há muitas 'sub-zonas' no contexto sírio", acrescenta.

Influência de Augusto Boal e do Teatro do Oprimido

Omar Abusaada reconhece que foi fortemente influenciado pelo dramaturgo brasileiro Augusto Boal (1931-2009), uma das grandes figuras das artes cênicas contemporâneas, fundador do Teatro do Oprimido, que alia as artes cênicas à ação social engajada.

"Quando eu me formei no Instituto Superior de Artes Dramáticas de Damasco, eu tive a oportunidade de fazer muitos workshops sobre o Teatro do Oprimido. E foi aplicando esse método de Augusto Boal que nós viajamos pelos vilarejos rurais da Síria, do Egito e do Iêmen, com nossos espetáculos."

Abusaada criou sua própria companhia em 2002, o Studio Theâtre, cujo primeiro espetáculo, em 2004, se chamava "Insomnia". Ele dirigiu em 2006 a peça "Forgiveness", um trabalho de improvisação com um grupo de menores presidiários. Desde então, suas criações são aplaudidas em vários palcos do mundo inteiro.

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