Em Paris, Lia Rodrigues apresenta balé de cheiros e inspirações
Os convidados recebem uma toalhinha preta na entrada e entram em uma espécie de caixa preta, um enorme espaço fechado, sem cadeiras, sem nada. As pessoas vão se sentando no chão, usando a toalhinha. Cadeiras são providenciadas para quem precise. Vai começar “Para que o céu não caia”, nova criação da brasileira Lia Rodrigues, em cartaz no espaço 104, em Paris, até sábado (12).
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Antes, em silêncio, os bailarinos traçam uma linha de café ao longo das paredes, permeando o ambiente com um odor especial. Em seguida, os sete dançarinos se juntam, sempre em silêncio, no centro do palco. Eles se despem e cobrem o rosto de café. Todos viram negros de café. E se dispersam lentamente entre o público, cada integrante encarando aleatoriamente um espectador. O café é substituído por farinha e na sequência, por cúrcuma.
Mito do fim do mundo
O título do espetáculo vem do livro “A Queda do Céu”, que é uma conversa entre o ianomâmi Davi Kopenawa e o antropólogo francês Bruce Albert. Em sua própria língua, Kopenawa relata ao pesquisador sua trajetória e formação como xamã, as tradições de seu povo, as ameaças que sofrem e o mito do fim do mundo.
Não há música em si. O som vem das vocalizações dos bailarinos, que parecem estar em um ritual místico, em estado catártico. Todas as raízes se misturam e se intercalam nos gestos, nos sons e nos cheiros.
O espetáculo faz parte do Festival de Outono de Paris, onde Lia Rodrigues já apresentou “Pororoca” (2009), “Piracema” (2011) e “Pindorama” (2013). Artista associada internacional do espaço 104, seu trabalho com a comunidade da Maré é uma referência para a imprensa francesa, sempre atenta aos movimentos de Lia.
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