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Rendez-vous cultural

Brasil está no páreo pelos prêmios principais do Festival de Animação de Annecy

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Se o Brasil é o grande homenageado em 2018 do Festival Internacional do Filme de Animação de Annecy, os diretores e artistas brasileiros fazem a honra da casa com oito produções na competição oficial, um longa-metragem, três curtas, além de séries para TV e filmes publicitários. Entre os destaques, a diretora Nara Normande, que concorre ao prêmio principal da competição oficial de Annecy com o curta-metragem “Guaxuma”, cujo nome faz alusão a sua cidade natal, no estado de Alagoas. O diretor Gustavo Steinberg concorre ao Cristal de melhor longa-metragem com a animação “Tito e os Pássaros”, uma fábula contemporânea sobre o “medo”.

Os diretores brasileiros Nara Nomade e Gustavo Steinberg concorrem ao Cristal de melhor filme respectivamente nas categorias curta e longa-metragem do Festival de Annecy 2018.
Os diretores brasileiros Nara Nomade e Gustavo Steinberg concorrem ao Cristal de melhor filme respectivamente nas categorias curta e longa-metragem do Festival de Annecy 2018. RFI/Marcia Bechara
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Enviada especial a Annecy

Em “Tito e os pássaros”, longa de ficção assinado por Gustavo Steinberg, Gabriel Bitar e André Catoto Dias, o protagonista se esforça para salvar o mundo de uma “doença do medo”. Segundo Steinberg, “é óbvio que esta doença do medo é uma metáfora para falar desse mundo em que vivemos, onde o medo penetra por todos os poros; não é medo de bicho papão. É um medo trazido pela mídia, pelas redes sociais, é um filme para abrir uma discussão entre pais e filhos a respeito desse mundo meio maluco que estamos vivendo”. “Tito e os pássaros” tem trilha sonora original criada por Ruben Feffer e Gustavo Kurlat, que participaram em Annecy de um painel de discussões sobre o papel da música em filmes de animação.

O diretor contextualiza a temática do filme no mundo contemporâneo. “É um filme que fala do agora, em várias sociedades. Não são lugares distantes, a França tem isso, os Estados Unidos têm isso [a ‘doença do medo’], quando a gente conversa com distribuidores norte-americanos eles dizem ‘nossa, como é que vocês conseguiram imaginar há tanto tempo atrás esta situação’? Não podíamos imaginar, mas eu venho de São Paulo, onde essa coisa é muito palpável”, pontua Steinberg. “O medo está sempre no ar, esse medo que é muito imaginário; claro que existe uma base na realidade, mas o que o filme tenta mostrar é que esse medo é contagioso”, afirma.

“Só pelo fato do filme estar na competição de Annecy, considerado o principal festival de animação do mundo, já é uma grande vitória pra gente”, analisa o diretor. “Temos uma série de expectativas a mais, principalmente no sentido de fechar negócios de distribuição, fechamos um agente de vendas internacional aqui na França e já vendemos o filme para a China. Mas a principal expectativa continua sendo que as pessoas gostem do trabalho”, diz Gustavo, que acha “difícil” que “Tito e os pássaros” leve o Cristal de melhor longa-metragem. “A competição é muito grande. Só o fato de ter sido selecionado já é um grande prêmio”, lembra.

"Guaxuma", mistura heterodoxa de técnicas de animação

Mas ao contrário de festivais tradicionais de cinema, em Annecy a principal categoria da competição oficial é a de curtas-metragens. E o Brasil está bem representado em 2018 nesta categoria de prestígio pela animação “Guaxuma”, de Nara Normande, a única mulher no páreo entre os criadores brasileiros.

“O filme fala muito da minha vida pessoal, sou eu que narro o filme e falo um pouco da minha infância na praia, uma amiga querida que tive e a relação de passagem para a vida adulta. É uma animação feita com três técnicas diferentes, cuja base é a areia”, conta Normande. “Trabalhei muito com stop motion com bonecos na praia, com a própria animação 2D com areia em desenho e vidro. Tem também uma técnica que animei no filme que chamo de ‘areia molhada’. Nunca tinha visto antes, mas criei e coloquei no filme, trata-se de uma areia cinética que usei, onde faço esculturas na areia para contar essa história que se passa na praia”, detalha a diretora.

Nascida em Guaxuma, cidade do estado de Alagoas que da nome ao curta, Nara Normande é cineasta e animadora autodidata, criada no movimentado ecossistema de cinema de Pernambuco, onde desenvolveu sua carreira. "Tenho três filmes. Não estudei cinema, estudei jornalismo. Quando fiz faculdade, em Recife não havia ainda o curso de Cinema. O fato de ser autodidata acabou me dando uma grande liberdade de criação", diz. "Meu primeiro filme foi 'Dia Estrelado', uma animação com massinhas. Depois dirigi 'Sem Coração', filme em live action, sem ser de animação, que passou na Quinzena dos Realizadores do Festival de Cannes", relata.

Foto da diretora Nara Normande em Annecy viralizou nas redes sociais.
Foto da diretora Nara Normande em Annecy viralizou nas redes sociais. Reprodução Facebook

A diretora protagonizou um momento de protesto político durante a exibição oficial de seu filme em Annecy, uma ação que repercutiu bastante nas redes sociais do Brasil. Mas, segundo ela, “não é hora de ficarmos calados. O Brasil passa por um momento muito delicado, ninguém sabe direito o que acontece, estamos todos com bastante medo. Acho importante poder falar num festival como esse que nossa democracia está em risco, em jogo. Não podemos ficar só festejando", acredita.

"Não gosto de pensar em prêmio", continua a diretora. "Mas as exibições de 'Guaxuma' foram muito boas. O público veio falar comigo, venho tendo bastante retorno", conta Normande.

A cerimônia de premiação que fecha o Festival Internacional do Filme de Animação de Annecy acontece neste sábado (16).

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