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Documentário brasileiro em Berlim questiona o tempo e o neoliberalismo

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“Estou me preparando para quando o Carnaval chegar” é o título do documentário de Marcelo Gomes em competição na mostra Panorama da Berlinale deste ano. A estreia mundial acontece neste sábado (9).

Cineasta pernambucano, Marcelo Gomes
Cineasta pernambucano, Marcelo Gomes RFI
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Da enviada especial a Berlim

A história gira em torno de Toritama, com cerca de 27 mil habitantes, no agreste pernambucano. A cidade é um importante polo têxtil nacional, com produção de 20 milhões de peças de jeans por ano, a maior parte em fábricas de fundo de quintal. A maioria da população está envolvida no efervescente processo.

Mas, uma vez por ano, o barulho das máquinas de costura desaparece por alguns dias. É Carnaval e os moradores de Toritama fazem o que podem para cair na folia no litoral. Vale juntar as economias, vender geladeira ou fazer empréstimos.

Esse é o pano de fundo do documentário de Marcelo Gomes. Ele se inspirou nas primeiras viagens que fez ao agreste com o pai, as imagens rurais, com bodes e plantações de milho. “Eu acho que também tinha o desejo de voltar para um passado que eu nunca tinha revisitado, um passado memorialista”, conta o cineasta.

Qual o valor do tempo?

“Cheguei a uma idade em que você começa a refletir sobre o tempo. O filme fala disso – o que você faz com o seu tempo, qual o tempo que você doa para produzir riqueza e qual o tempo que você doa para você mesmo. Talvez seja por isso que as pessoas se identificam tanto com o filme, mesmo sendo sobre um microcosmo dessa cidade tão pequena. Ele fala sobre o que o neoliberalismo está fazendo com o nosso tempo”, diz Marcelo Gomes.

Mas o diretor diz que não queria fazer mais um filme como tantos outros sobre trabalhadores de “sweatshops na Índia ou no Paquistão”, como vítimas dessa máquina do neoliberalismo. “Queria saber mais sobre essas pessoas, seus desejos, seus sonhos, o que querem da vida. Vi pessoas que estão vivendo uma fase muito cruel do capitalismo, achando que, por serem autônomas, elas estão livres, mas são escravas delas próprias, produzindo, produzindo”, declara.

“Espero que seja um filme que faça a gente refletir sobre o que a gente faz com a nossa vida, com a nossa memória, com os nossos sonhos”, diz. Ele acha que o capitalismo está “evoluindo de uma forma muito dinâmica e acho que é preciso entender melhor a nossa existência nesse neoliberalismo que se apresenta agora”.

Quanto às perspectivas do audiovisual no novo governo brasileiro, Marcelo Gomes acha muito cedo para avaliar. “É uma indústria que está gerando milhares de empregos, muito mais que a indústria farmacêutica e isso afeta até o PIB brasileiro. É obvio que não pode se desmantelar algo que vai tão bem, dentro de um pensamento capitalista. Então acho que não vai haver muitas alterações, espero que isso continue funcionando, pois o audiovisual gera muitos empregos no Brasil”, pondera.

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