Francis Bacon: os fantasmas e tormentos de um pintor genial
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A galeria 2 do último andar do Centro Pompidou abre espaço para uma retrospectiva do trabalho de Francis Bacon (1909-1992), um dos artistas mais celebrados do século 20. O nome da mostra é “Francis Bacon com todas as letras”.
Conhecido por suas obras figurativas deformadas e agonizantes, a exposição de Bacon traz 60 quadros de coleções públicas e privadas do mundo todo – incluindo 12 trípticos e uma série de retratos e autorretratos – e se concentra na produção das duas últimas décadas de vida do pintor.
O ano de 1971 foi marcante para Bacon. Ele foi tema de uma retrospectiva no Grand Palais, de Paris – só Picasso antes dele teve a honra de expor ali em vida. Dois dias antes da vernissage, seu companheiro George Dyer se suicida. A partir daí, até a morte de Bacon na Espanha, em 1992, os pesadelos e a fantasmagoria em pinceladas etéreas ou selvagens se espalham pelos seus quadros.
“Achei a exposição excepcional”, diz o artista plástico brasileiro Fernando Barata, radicado na França, viu a exposição e fala a respeito. “Há muitos trípticos, pois ele trabalhava muitas vezes em três telas ao mesmo tempo. São obras vindas de todo o planeta e reunidas em Paris.
Livros
Bacon volta agora ao Pompidou mais de 20 anos depois da última grande exposição em Paris dedicada a seu trabalho, em 1996. Desta vez, o fio condutor é a conhecida paixão do artista pela literatura, que alimentou suas inspirações visuais. Por isso, o nome da exposição, “Francis Bacon com todas as letras”.
O curador Didier Ottinger conta que a ideia da mostra veio durante uma visita à Fundação Bacon, em Londres, no antigo ateliê do artista. “Havia muitos livros, todos com a particularidade de terem sido manuseados, com anotações, dobras, rasuras. Assim me dei conta da paixão que ele tinha pela leitura”, conta.
“Depois eu soube que a biblioteca do Trinity College, de Dublin, tinha todos os livros de Bacon, tudo inventariado. Analisando essa biblioteca, eu vi que algumas obras, alguns autores eram recorrentes”, explica Ottinger.
O percurso é dividido em seis partes, cada uma ligada a um livro, a um autor. Como Ésquilo, Friederich Nietzsche, Georges Bataille, Michel Leiris, Joseph Conrad e T.S. Eliot. Em um vídeo da exposição, Bacon fala da importância da literatura em sua vida e diz que gosta de livros que o inspiram visualmente.
“Não acho que sua obra seja necessariamente literária, ele não descreve literariamente os livros que ele leu”, opina Fernando Barata. Ele dá como exemplo de artista mais literária a portuguesa radicada em Londres Paula Rêgo.
“Bacon era uma pessoa muito culta, enigmática, difícil de decifrar, como todo grande artista”, diz Barata. “Ele tinha um lado atormentado e caótico, e outro, muito culto e civilizado. Ele vivia entre o caos e a organização desse caos. A literatura e a pintura funcionavam como antídotos para essa loucura, esse vulcão interior”.
“Francis Bacon com todas as letras” fica em cartaz no Centro Pompidou de Paris até 20 de janeiro de 2020.
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